O trecho da Carta aos Romanos escolhido para o primeiro domingo da Quaresma faz parte de uma seção em que São Paulo mostra a fidelidade de Deus e a incredulidade de Israel.
Em Jesus, Deus concedeu anistia à humanidade, pois esta não podia, por si só, chegar à salvação. Em Jesus, Deus se tornou próximo das pessoas, libertando-as gratuitamente por meio da morte e ressurreição de seu Filho.
O povo de Deus do Antigo Testamento acreditava que a salvação só podia ser obtida mediante a prática da lei. A libertação, pois, seria mérito exclusivo das pessoas se elas praticassem os mandamentos. Deus se sentiria como que obrigado a libertá-las.
Para São Paulo, a justiça é pura graça de Deus em Cristo Jesus, que mostrou às pessoas o rosto humano de Deus. O que resta, portanto, aos cristãos? Como ir ao encontro da ação gratuita do Deus que nos libertou em seu Filho? Em poucas palavras, o texto nos mostra uma das primitivas sínteses da fé cristã. Essa síntese se condensa em torno das expressões “Cristo é Senhor” e “Deus o ressuscitou!”.
Chamar Jesus de Senhor é reconhecê-lo em pé de igualdade com o Deus do Antigo Testamento ao qual os fieis se dirigiam chamando-o de Senhor, Para os cristãos, o senhorio de Deus pertence também a seu Filho. Ele adquiriu esse título por meio de sua obediência ao projeto do Pai até o fim, conseguindo para nós a libertação. A síntese da fé cristã é a confissão de que Jesus é Senhor. Mas a profissão de fé do cristão não para aí. Não basta “professar com a boca”. É preciso crer no coração que “Deus o ressuscitou”.
De acordo com a antropologia semítica, o coração é a sede das opções da vida. Sendo assim, “crer no coração” nada mais é do que uma prática cristã capaz de traduzir em gestos gratuitos e libertadores a fé que professamos. Crer no coração que Deus ressuscitou a Jesus é por em movimento seu processo de libertação em que ninguém fique excluído. Isso envolve todos os setores da pastoral e da evangelização, sem deixar ninguém de fora, pois “todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo”.