Cáritas: uma forma de garantir o direito à alimentação é um acordo vinculante na próxima cúpula sobre as mudanças climáticas, em Paris
Neste Dia Mundial da Alimentação, 16 de outubro, a Cáritas Espanhola e a Cáritas Europa se uniram a outras instituições nacionais e internacionais, além de organizações da sociedade civil, “para denunciar a escandalosa situação vivida em pleno século XXI pelos 800 milhões de pessoas que ainda passam fome no mundo e a quem é negado o acesso ao direito humano básico da alimentação”. Elas recordam que “ainda resta muito a fazer para alcançar o direito à alimentação de todas as pessoas”.
Há duas semanas, os líderes mundiais confirmaram na Assembleia das Nações Unidas em Nova Iorque um novo plano de desenvolvimento sustentável baseado em 17 objetivos (ODS), aplicáveis universalmente sob o princípio de responsabilidade comum e compartilhada. O segundo desses objetivos é acabar até 2030 com a fome no mundo, obtendo a segurança alimentar, melhorando a nutrição e promovendo a agricultura sustentável.
Este objetivo, já definido nos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) aprovados em 2000, é renovado agora entre as metas de desenvolvimento global que não foram atingidas. “A Cáritas rechaça novas demoras e reclama um compromisso maior e mais ambicioso para enfrentar esse desafio prioritário”, destacou a organização em comunicado.
“A Europa é o principal doador mundial em termos de ajuda oficial ao desenvolvimento. A segurança alimentar está entre as prioridades das políticas de desenvolvimento e do marco financeiro da UE. Mas ainda falta muito a ser feito”. Por isso, “as Cáritas europeias urgem as instituições comunitárias a melhorarem a coerência das suas políticas e a apostarem na luta contra a mudança climática e na governança da terra, elementos que têm impacto direto no acesso ao direito à alimentação. Uma forma clara de reforçar este compromisso é alcançar um acordo ambicioso e vinculante na próxima Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP21), que acontece em Paris de 30 de novembro a 11 de dezembro”, destacou a entidade eclesial em sua nota.
“O próprio território da União Europeia não é alheio às disfunções do sistema alimentar, que se plasmam, por exemplo, no escândalo do desperdício e da perda de alimentos ou no drama da pobreza alimentar que afeta milhões de pessoas”, denunciou. A Comissão Europeia estima que cerca de 100 milhões de toneladas de alimentos sejam desperdiçadas por dia. “É uma brecha social inaceitável e vulnera a dignidade das pessoas em situação mais precária”, reiterou. “A Cáritas insta a repensar e analisar os sistemas de produção e consumo para torná-los mais justos e sustentáveis”.
Dentro da campanha global “Uma só família humana: alimentos para todos”, liderada pelo papa Francisco em dezembro de 2013, a Caritas Internationalis, a Cáritas Espanhola e a Manos Unidas realizaram diversas ações de sensibilização para divulgar os objetivos da iniciativa. A Cáritas Europa tem agido junto ao Parlamento Europeu “para reclamar que o direito à alimentação seja um direito humano básico e fundamental”.
Além do intenso trabalho de sensibilização e incidência pública, a Cáritas apoia numerosos projetos de segurança alimentar em todo o mundo. Mauritânia, Guatemala e Etiópia, entre outros, são exemplo desse compromisso. Uma das experiências de trabalho é feita com agricultores familiares etíopes de Shashamane, onde, através do fortalecimento do sistema de cooperativismo e do apoio a programas agrícolas de pequena escala, 419 mil pessoas já estão envolvidas em processos produtivos voltados a melhorar a segurança alimentar das suas comunidades.
Com o objetivo de dignificar a cobertura do direito à alimentação para as famílias em situação vulnerável, várias Cáritas diocesanas da Espanha lançaram nos últimos anos recursos e serviços orientados a dar resposta a essas demandas de emergência, mediante projetos como atenção domiciliar, apoio escolar, poupanças solidárias e hortas ecológicas de subsistência, entre outros.
Por ocasião do Dia Mundial da Alimentação, acontece na Expo Universal de Milão o evento “Ações e incidência para erradicar a pobreza alimentar”. Organizado pela Cáritas Europa, o ato contará com a presença do cardeal Luis Antonio Tagle, presidente da Caritas Internationalis, e com representantes da Comissão Europeia e de diversas Cáritas nacionais da UE.
O evento exporá a realidade do acesso à alimentação dentro da Europa e apresentará os resultados de uma pesquisa europeia de alimentação, além de mostrar diversas experiências que as Cáritas europeias desenvolvem nesse âmbito: desde projetos de distribuição de alimentos até programas de microcrédito e de fomento da agricultura ecológica.
Fonte: Aleteia