Neste dia 23 de dezembro, recordamos a partida para a casa do Pai, de Dom Aloísio Cardeal Lorscheider. Ele, um franciscano, que descobriu a verdadeira face de Deus, imprescindível ao traçado de seus passos, a partir dessa realidade misteriosa, quando o afirma numa tônica poética quanto profética, com enorme sabedoria: “Sempre fiquei muito impressionado e atraído pelo amor quente e apaixonado que São Francisco dedica a Deus. Parece que no beijo do leproso ele entendeu, como Saulo no caminho de Damasco, a doação total de Deus a nós em seu Filho Jesus Cristo. Custou a Francisco não só descer do cavalo fogoso que no momento montava, mas muito mais do cavalo do orgulho e da vaidade com que ele queria conquistar o título de grande e nobre”.
Dom Aloísio, ao se tornar Arcebispo de Fortaleza (1973-1995), dentro do seu ideal franciscano, tinha bem claro as resoluções do Concílio Vaticano II, dizendo logo de início: “A comunidade eclesial não é feudo do bispo, mas ele é o servidor de uma Igreja que se entende a si mesma como sacramento do Reino, isto é, da presença da verdade e do amor infinito de Deus para com cada criatura humana”. Daí ele não compreender como algo natural e normal ter que conviver com a miséria e o acentuado empobrecimento do povo, que tinha como consequência o êxodo, o flagelo e a morte de muitos irmãos.
O povo de Deus no Brasil e, de modo particular, no Ceará (Arquidiocese de Fortaleza), passou a contar com o dom da profecia do Cardeal Lorscheider, para dizer que não era vontade de Deus a realidade aqui encontrada e, ao mesmo tempo, usou de todos os meios, com uma enorme vontade de transformar essa mesma realidade, marcando profundamente a caminhada da Igreja na Arquidiocese de Fortaleza. No dizer do Desembargador Fernando Ximenes: “Em pleno regime de exceção, a sociedade cearense logo sentiu os efeitos dessa guinada. As camadas desfavorecidas ou marginalizadas, os sem-terra, os sem-teto, os presos políticos, os presidiários comuns, os trabalhadores em greve – ganharam aliado de peso”.
Quando ele se tornou bispo emérito de Aparecida, veio a seguinte pergunta: o que o senhor vai fazer? Respondeu: “Sou um simples frade menor e vou fazer o que o meu provincial mandar, porque a obediência me torna livre”. Jamais podemos esquecer a chama luminosa de um coração amável e cheio de bondade, de uma pessoa humana, dotada de grandes virtudes e qualidades, de um “bispo completo”, segundo o grande teólogo Alberto Antoniazzi e nas palavras do então Senador Tasso Jereissati: “do homem mais ilustre da nossa geração, no Ceará, com a sua vida de dedicação à causa dos excluídos”, do maior benfeitor e patrimônio do povo cearense, que partiu há oito anos, deixando-nos tristes e com enorme saudade.
Agradecidos por sua presença entre nós de 22 anos, vamos render graças ao bom Deus, na Missa das 18 horas deste 23 de dezembro de 2015, na Paróquia de Santo Afonso, Parquelândia – Fortaleza-Ce. Somos conscientes da sua importância na história recente da Igreja, de modo especial pelo seu compromisso com o Reino de Deus, sensibilidade pastoral, clareza diante dos desafios, sem jamais faltar-lhe a ternura do Bom Pastor, Nosso Senhor Jesus Cristo.