ONU: Um novo areópago

    Quem conhece um mínimo da história cristã há de se recordar desse fato: impulsionado pelo ardor missionário, Paulo chegou a Atenas e “falava como um tagarela”, despertando a atenção de muitos. Qualquer oportunidade era válida. Qualquer público também. Não escolhia púlpito ou público, mas falava a todos de sua fé com tamanha alegria e convicção que era impossível não lhe dar ouvidos. Preocupados, os guardiões do povo, prosélitos pregadores, judeus, alguns filósofos e sacerdotes das crenças pagãs barraram seu caminho. “Podemos saber que nova doutrina é essa que pregas?”. A pergunta não era mera curiosidade, mas preocupação com uma doutrina que pusesse em risco o sistema de exploração da fé popular, que lhes proporcionava regalias, fama, mordomias, status e poderes sobre esse povo sedento de Deus.
    O discurso no areópago de Atenas foi sua prova dos nove. Era uma espécie de tribunal eclesiástico ou mesmo de defesa dos interesses políticos, que julgava filosofias e teorias contrárias aos costumes e interesses setoriais. “Podemos saber que nova doutrina é essas que pregas?” – questionaram aqueles que se sentiam ameaçados em suas práticas ambivalentes com a pureza da fé verdadeira. Paulo conhecia o terreno em que pisava e a enrascada em que se metera. Mas anunciou um Deus desconhecido. “O Deus, que fez o mundo e tudo o que nele há, é o Senhor do céu e da terra, e não habita em templos feitos por mãos humanas” (At 17, 24). Ninguém mais o refutou ou impediu de continuar pregando.
    Grécia mudou desde então. Sua nova versão de areópago tem hoje sede própria e endereço conhecido de todos. A tribuna da ONU tornou-se centro das discussões humanas para o mundo moderno. O papa Francisco, imbuído de seu zelo apostólico que impressiona a todos, para lá se dirigiu e dali fez ecoar um corajoso discurso que retumbou no coração da humanidade. Mais uma vez apresentou ao mundo as verdades claras e incontestáveis dos ensinamentos de “um Deus” justo e benevolente, que muitos ainda teimam desconhecer. Citando o painel de conflitos em que nos afundamos, disse não ser esse o projeto de Deus, seja Ele compreendido ou interpretado por qualquer dos seguimentos religiosos ou das verdades que pensamos possuir.
    Pe. Frederico Lombardi, porta voz do Vaticano, assim resumiu seu discurso. “O Papa disse muitas coisas importantes nesse grandíssimo discurso. Falou então com muita eficácia sobre a necessidade de um empenho concreto, a jamais ficar ao nível das palavras, mas buscar alcançar a realidade. Fez evocações muito fortes. Por exemplo, sobre os organismos financeiros internacionais, que devem ajudar ao desenvolvimento dos países mais pobres e não submetê-los –disse – de um modo asfixiante a sistemas credores, que os mantêm numa situação de exclusão, de pobreza e de dependência cada vez maiores. Falou também com muita clareza sobre o compromisso necessário em prol da tutela do ambiente, sobre o desarmamento nuclear, referindo-se de modo positivo ao recente acordo com o Irã. Falou também sobre a importância da natureza, referindo-se, inclusive, à natureza da pessoa humana, que compreende a distinção natural entre homem e mulher e o absoluto respeito à vida em todas as suas etapas e dimensões. Mencionou o tema dos refugiados, das minorias cristãs que são objetos de violência no Oriente Médio e, além disso, todas as questões concernentes à pobreza, à justiça social, ao direito de todos a ter um teto, etc”.
    Falou-nos de um Deus que teimamos desconhecer. “Tudo isso para que procurem a Deus e se esforcem por encontrá-lo como que às apalpadelas, pois na verdade ele não está longe de cada um de nós” (At 17, 27). Está entre nós.

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