A obsessão de alguns ateus com a Madre Teresa beira o monomaníaco.
Mesmo quando eu própria era ateia, achava mais que absurdo que os confortáveis ateus do primeiro mundo atacassem brutalmente uma mulher que tinha renunciado a tudo para servir aos mais pobres dos pobres e que vivia ela mesma em extrema pobreza.
A ideia de que aquela mulher abnegada fosse na realidade uma lunática masoquista obcecada por si própria e que gostava de ver os pobres sofrerem foi impulsionada por Christopher Hitchens, considerado por muitos como o “fundador” do movimento neo-ateu. Praticamente todas as críticas irracionais e descabeladas que eu já li contra a Madre Teresa podem ser remetidas ao ódio obsessivo de Hitchens pela religiosa albanesa.
Hitchens morreu (por favor, faça uma oração pela sua alma). Infelizmente, porém, as suas teorias de estimação não morreram com ele e ainda pululam internet afora – o tempo todo, mas com especial virulência à medida que se aproxima a data de canonização da Madre Teresa. Em nossa época viciada em escândalos e fuxicos, as manchetes sensacionalistas contra a Madre Teresa serão irresistíveis, não importa o quanto sejam falsas.
Aqui vão algumas das acusações mais comuns que os ateus fazem para tentar justificar o seu ódio pela Madre Teresa – e algumas respostas úteis a essas manifestações obsessivas:
1. “A canonização da Madre Teresa é uma fraude”.
Christopher Hitchens criticava o reconhecimento da Madre Teresa por parte da Igreja dizendo que a Igreja acelerou o seu processo de beatificação. Ele também zombava da possibilidade de se acreditar em algum milagre realizado por intercessão da Madre Teresa.
Bom… Hitchens era ateu. Por acaso ele ficaria satisfeito com algum processo de canonização, da Madre Teresa ou de quem quer que fosse? Por acaso ele acreditava em algum milagre, atribuído à intercessão do santo que fosse, com a abundância que fosse de testemunhas oculares e de confirmações feitas por médicos e cientistas? A resposta é não. Então, por que raios importaria a Hitchens (ou a qualquer outro ateu) a “rapidez” com que a Madre Teresa foi canonizada?
2. “A Madre Teresa não administrava bem o dinheiro”.
Os críticos acusam a Madre Teresa de gerenciar muito mal as doações que recebia. Como “prova” disso, eles apontam o dedo para o estado humilde das casas da congregação, o que contrasta com os grandes donativos que, dizem, abundavam em seus cofres. No entanto, nenhuma teoria se deu ao trabalho de apontar exatamente como a fundadora teria desperdiçado ou gerenciado de forma antiética o dinheiro da congregação. Ela certamente não parece tê-lo esbanjado consigo mesma.
As autoridades do Vaticano confirmam que a Madre Teresa doava o dinheiro excedente da sua congregação para as muitas obras de caridade que a Igreja realiza em benefício dos pobres no mundo todo. Em outras palavras, ela não acumulava as doações recebidas apenas para o seu próprio grupo, mas compartilhava essa riqueza, em sintonia com a missão da sua organização. A Madre Teresa e suas irmãs são chamadas a missionar com simplicidade entre os mais pobres dos pobres, e, se elas têm dinheiro extra, o direcionam a outras pessoas pobres. Eu não enxergo como é que isto possa ofender alguém, a menos que esse alguém se esforce muito para ver nisso alguma ofensa.
3. “Nas casas da Madre Teresa muitos abusos são cometidos”.
Os críticos apontam o dedo para aquilo que chamam de “condições deploráveis” das casas geridas pelas irmãs – uma acusação que escancara o quão completamente errado eles entendem as Missionárias da Caridade. Essas irmãs se juntam à pobreza das pessoas a quem servem. Sua missão não é construir hospitais de luxo nem trabalhar pela mudança política – nobres missões, que muitos católicos desempenham em coerência com seus próprios carismas. A missão específica abraçada por elas é a de prestar cuidados a crianças e adultos na mais desesperada das situações; é ajudar pessoas que, sem essa ajuda, estariam vivendo e morrendo nas ruas das cidades mais miseráveis do planeta. As próprias irmãs vivem na pobreza total, dormindo no chão, lavando o seu único hábito em baldes e pendurando-os para secar durante a noite.
Esse tipo de crítica vergonhosamente sem noção nasce com frequência da mente de privilegiados do primeiro mundo, que mal fazem ideia das condições em que vivem as pessoas nos países mais pobres da Terra. São também críticas vindas de gente que não se importa em gastar o tempo que for para “investigar” as casas das irmãs em vez de trabalhar junto com elas.
4. “A Madre Teresa era uma fanática que gostava do sofrimento”.
Quando as pessoas apontam o dedo para o suposto “fanatismo” da Madre Teresa, elas estão apontando o dedo, na verdade, para o fato de que ela vivia os valores cristãos. É claro que ela os vivia de forma extrema, heroica – e é por isso, afinal, que ela é santa. A maioria de nós se beneficiará se imitar ao menos de leve esse “fanatismo”. Os críticos que optam por entender a visão dela sobre o “dom” do sofrimento como uma teologia masoquista só revelam falta de familiaridade com uma ideia cristã fundamental: a de que Deus consegue tirar o bem do mal, como foi demonstrado pelo próprio Deus feito homem, torturado e crucificado. Essa ideia deixa claro que Deus está presente de maneira especial entre os mais fracos e os mais pobres dos pobres.
Você não gosta desta mensagem? Então não é com a Madre Teresa que você tem problemas. É com o cristianismo.
5. “A Madre Teresa era imperfeita”.
Quem discorda das filosofias e das ações da Madre Teresa, mas não consegue apontar prova concreta alguma de má fé por parte dela, acaba apelado para argumentos ad hominem coroados pela afirmação condenatória de que “ela não era perfeita!”.
Mas é claro que a Madre Teresa não era perfeita! Com isso estamos todos de acordo, a começar, tenho certeza, pela própria. Dizem que ela recorria pelo menos uma vez por semana à confissão. Ela sabia que era imperfeita e pedia perdão pelos erros que cometia.
Acontece que os santos canonizados não são gente que exiba um “selo de perfeição”. A vida de inúmeros santos mostra, aliás, que a canonização não é um “reconhecimento de perfeição”, mas sim de santidade heroica vivida precisamente apesar da própria imperfeição.
Estando claro tudo isso (porque não há novidade nenhuma em nada disso), para que tanta tinta derramada em críticas à Madre Teresa? Será mesmo que não existem muitas outras figuras no mundo sobre cujo comportamento condenável seria bem mais necessário discutir? Parece que, por trás de tanto afã de criticar a Madre Teresa, existe no mínimo uma caçada por cliques em sites fuxiqueiros (muitos deles disfarçados de “portais de notícias”) e uma busca de gratificação por parte de ideologias cada vez mais cegas e irracionais.
Quando se vê uma pessoa fazer coisas boas por acreditar em Deus, é razoável atribuir as suas boas obras a essas crenças (mesmo quando se discorda de tais crenças).
O que não é razoável é dar por certo que uma pessoa que faz coisas boas tem um coração sombrio, cheio de violência e de interesse pessoal, simplesmente com base na raiva que existe no próprio coração incapaz de começar a entender o Evangelho, ainda que só na teoria.
Fonte: Aleteia