Vivamos a quaresma

             Com a Quarta-Feira de Cinzas, começa o tempo da Quaresma que culminará com o Tríduo Pascal. Quaresma, uma vez mais! Tempo forte na caminhada do ano eclesiástico. Convite para ir ao deserto com Cristo e apelo para o silêncio, a prece, a conversão. Somos chamados a refazer o caminho do êxodo e renovar na vigília pascal as nossas promessas batismais. Para isso temos esse tempo oportuno de conversão.

             Quarenta dias antes da Páscoa, a Igreja abre solenemente o tempo de penitência, chamado Quaresma, em preparação para a celebração da Páscoa. É a Quarta-feira de Cinzas!

             A primeira leitura –  Jl 2,12-18 – o trecho da liturgia deste dia se situa nessa primeira seção, de teor penitencial. O Senhor conclama o povo para se voltar para ele “com todo o coração”, quer dizer, inteiramente, pois não adiantaria um retorno meramente de aparências e de costumes externos apenas. A profecia de Joel apresenta esse cenário de forte apelo penitencial. Assim, igualmente reunidos na celebração de Cinzas, pomo-nos em oração e jejum, com nossos propósitos de conversão. Não por medo ou vergonha de Deus, mas com confiança em seu amor e em sua misericórdia. Deus responde a nossas penitências com sua misericórdia por nós.

             A segunda leitura – 2Cor 5,20–6,2 – se situa nesse contexto de conciliação mútua. São Paulo explica o processo pelo qual o amor salvador de Deus toca a vida das pessoas. Na missão de um “embaixador”, ele exorta a comunidade para a reconciliação com Deus: “Em nome de Cristo, vos suplicamos: reconciliai-vos com Deus” (2Cor 5,20).

             O Evangelho – Mt 6,1-6.16-18 – neste dia, após a Liturgia da Palavra, em que se proclama o trecho do Evangelho em que Cristo recomenda a oração, o jejum e a esmola como exercícios de conversão (cf. Mt 6,1-18), realiza-se o rito da imposição das cinzas. Elas são sinal de penitência, no sentido de conversão. A conversão consiste, sobretudo, no reconhecimento de nossa condição de criaturas limitadas, mortais e pecadoras. No gesto de imposição das cinzas sobre a cabeça das pessoas, o sacerdote ou o ministro diz uma das possíveis fórmulas: “Convertei-vos e crede no Evangelho”. A conversão consiste em crer no Evangelho. Crer é aderir a ele, viver segundo os ensinamentos do Senhor Jesus. Pode-se usar também outra fórmula possível: “Lembra-te que és pó e ao pó hás de voltar”. Numa das orações de bênção das cinzas se diz: “Reconhecendo que somos pó e que ao pó voltaremos, consigamos, pela observância da Quaresma, obter o perdão dos pecados e viver uma vida nova, à semelhança do Cristo ressuscitado”.

             A Cinzas tem um significado bíblico. A Bíblia nos conta que, certa vez, o general Holofernes, com um grande exército, marchou contra a cidade de Betúlia. O povo da cidade, aterrorizado, reuniu-se para rezar a Deus. E todos cobriram de cinzas as suas cabeças, pedindo o perdão e a misericórdia de Deus. E Deus salvou o povo pelas mãos de Judite. A cinza, por sua leveza, é figura das coisas que se acabam e desaparecem. É usada como um sinal de penitência e de luto. Nós a usamos hoje, nesta Quarta-feira de Cinzas, o primeiro dia da Quaresma, reconhecendo que somos pecadores e pedindo perdão de Deus, desejosos de mudarmos de vida.

             As cinzas são preparadas pela queima de palmas (ramos) usadas na procissão de Ramos do ano anterior. Os ramos lembram a nossa adesão a Cristo Senhor, portanto, o Cristo vitorioso sobre a morte. A palma é símbolo de vitória e de triunfo. Assim, passado o ano, ao queimar os ramos e suas cinzas serem impostas sobre nós, os cristãos aceitam reconhecer sua condição de criaturas mortais, e transformar-se em pó, ou seja, passar pela experiência da morte, a exemplo de Cristo, pela renúncia de si mesmos, participarão também da vida que ressurge das cinzas.

             Esta Páscoa se vive na conversão, através dos exercícios da oração, do jejum e da esmola. A imposição das cinzas não constitui um mero rito a ser repetido a cada ano. É celebração do chamado à conversão, da vocação do ser humano, chamado à imortalidade feliz, contanto que realize o mistério pascal de morte e vida em sua vida fraterna.

             O tempo da Quaresma é o momento oportuno para que olhemos mais profundamente para o Mistério da Cruz. Olhar para a Cruz, contemplar esse Mistério é ir ao porquê de tudo aquilo que nós faremos durante a Quaresma. As orações, os jejuns e esmolas têm sentido porque nos põem em contato com a Cruz do Senhor. Além do mais, nós recebemos do Mistério da Cruz a força para unir-nos à mesma Cruz, ou seja, aquilo que Deus nos pede, ele nos concede: Deus pede que rezemos? Ele nos dá a graça da oração. Deus nos pede que façamos penitência? Ele nos dá a graça para realizá-la. Deus pede que partilhemos e que não sejamos egoístas? Ele nos dá a graça da generosidade e da esmola. O que está por detrás de tudo isso é a primazia da graça de Deus na nossa vida. Quando dirigimos o nosso olhar contemplativo ao mistério da Cruz do Senhor surge em nós o desejo de fazer aquilo que São Paulo fazia: “o que falta às tribulações de Cristo, completo na minha carne, por seu corpo que é a Igreja” (Cl 1,24).

             Queremos estar sempre com o Senhor, a nossa vida só encontra sentido nele. Que nada nos separe de Deus! E, se por acaso, estamos longe, aproximemo-nos da Misericórdia. Com a celebração desta quarta-feira, inicia-se o Tempo da Quaresma, um espaço que a Igreja nos concede para que nos convertamos um pouco mais através da oração e da penitência mais intensas. Um tempo precioso para aproveitarmos a graça da reconciliação que o Senhor derrama sobre toda a Igreja e, para isso, vamos começar de uma maneira bem concreta: com o jejum e a abstinência.

             Que Deus nos ilumine neste tempo de Quaresma que se inicia, que possamos fazer e cumprir com os nossos propósitos para assim termos um coração cada dia mais preparado para o Senhor e para ser fermenta neste mundo que tanto necessita do amor e da misericórdia de Deus. Unidos ao pedido do Papa Francisco, hoje a nossa intenção do jejum e da nossa oração é em intenção é pela paz no mundo, em especial pelo fim da guerra na Ucrânia. Rezemos de modo particular pela paz entre a Rússia e a Ucrânia. Rezemos pela paz no mundo! Rezemos pela paz em nossas famílias!

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