Ao ouvir que o Papa Francisco disse sobre “padres pedófilos” que é a “vergonha da Igreja,” julgo ter muitos outros fatos ou muitas outras atitudes, acontecendo nesta mesma Igreja, que merecem ser qualificados e qualificadas também como “ vergonha da Igreja”.
Infelizmente, constatamos nos meios eclesiásticos e laicais certas atitudes que se não são, parecem ser tão vergonhosas quanto a que o Papa Francisco qualificou, mesmo sendo elas frutos de personalidades doentias ou até mesmo de “psicopatas”.
Deus nos fala por diversos modos, entre eles, pelas pessoas e pelos acontecimentos. Hoje, também vem nos falando pelo Papa Francisco que nos leva a fazer uma revisão corajosa no nosso seguimento a Jesus Cristo, o enviado do Pai, e a dar testemunho d’Ele, a sermos verdadeiramente Igreja, novo Povo de Deus,” povo santo e fiel”, como disse o referido Papa , recordando LG nº 12.: A Igreja é a totalidade do povo de Deus.
Os cristãos: leigos católicos, agentes de pastoral, ministros ordenados: diáconos, presbíteros e bispos são convidados e até mesmo convocados a um sério e profundo exame de consciência, e a fazer uma revisão corajosa, leal, sincera e humilde, confrontando sua vida diária e seu testemunho com a Palavra e o ensinamento de Jesus. Outrora, Ele “sacudiu” a consciência de seus contemporâneos. Hoje, Ele está no meio de nós e também nos chama a atenção. principalmente pelo sucessor de Pedro, o Papa Francisco, fazendo eco às palavras e ao ensinamento do Cristo Jesus. Compete a nós, como seguidores e imitadores de Jesus, estarmos atentos, pois temos ouvidos para ouvir, escutar, olhos para ver, enxergar e boca para falar ou mesmo calar, uma vez que não somos e nem estamos prontos, perfeitos e acabados.
E a Igreja, povo de Deus, pela boca do Papa Francisco, diz que “se sente vergonha” de alguns ou de muitos de seus membros que não deram ou não dão testemunho de Jesus Cristo. Por que? Porque o agir do ser humano, batizado, cristão, católico, ministro ordenado, não está em conformidade no que implica e exige o seu “ser” cristão como membro ordenado (diácono, padre, bispo) ou não. O seguimento a Jesus supõe imitação d’Ele, praticando o que Ele ensinou visando uma nova proposta de vida, num Reino de justiça, de amor, de misericórdia,de fraternidade, de solidariedade, de santidade, de igualdade, de simplicidade, de sinceridade, de respeito e de paz. A conduta dos que “ envergonham a Igreja” está fora desta proposta de Jesus,
Jesus, em determinados momentos de sua pregação, de seus ensinamentos, se dirigia, não à multidão, mas especialmente aos seus discípulos, àqueles que tinham a função de guiar, de orientar a outras pessoas e fazê-las discípulas, discípulos, irmãos e irmãs. Jesus chama a atenção deles porque naquela época já havia também falsos guias no caminho da verdade, da justiça, do respeito e da misericórdia, com suas ações vergonhosas.
Jesus nos ensina que o verdadeiro guia deve ser sincero e agir com muita sinceridade, transparência, sem máscara,
É desses falsos guias, ministros ordenados, diáconos, padres e bispos, discípulos mascarados de hoje, que o Papa Francisco chamou atenção e disse ser eles “vergonha da Igreja”
Existe uma grande tentação para o ser humano: a de aparecer. Infelizmente, até mesmo dentro da Igreja, isto acontece. São guias “mascarados” e querem parecer o que na realidade não são . Todos queremos dos outros e, às vezes até exigimos: transparência, veracidade, sinceridade, justiça, bondade e misericórdia. Muitas vezes tais qualidades ou atitudes, em nós, estão somente nos discursos, nas pregações, e não em nossas vidas. Isso também é vergonhoso.
Bento XVI chegou mesmo a dizer que no Vaticano havia “disputa de poder, ciúme, inveja, corrupção”. Onde está o ser humano há possibilidade de tudo isso acontecer, pois a Igreja é humana e divina, santa e pecadora. Porém, se há possibilidade não significa que deva haver conformidade ou até mesmo tolerância de tais” enfermidades. Não podemos aceitar atitudes, atos ou ações contrárias ao Evangelho ou nos conformar com elas, como: mentira, injustiça, desrespeitos, calúnias, perseguições, preconceitos, acusações, até mesmo dentro de nossos presbitérios. Isso também é “vergonha da Igreja”.
Em nome da verdade e do amor, da justiça e da misericórdia também questionamos essas atitudes, na busca da conversão, de criar uma convivência humana, uma verdadeira comunidade cristã, uma fraternidade onde todos são respeitados, convivendo como irmãos, na humildade e no amor.
Os bispos e os presbíteros devem recordar sempre suas posições de guias escolhidos para ajudar e orientar o povo de Deus, a Igreja, na sua caminhada querida por Jesus. Guiar outras pessoas deve ser gesto de amor, de gratuidade, de carinho e de solidariedade e não gesto de egoísmo. “ Ser semelhante ao Mestre e nunca acima d’Ele”.(Jo,3,17)
Também devem tomar muito cuidado e estarem atentos a certas manifestações que podem vir à tona, em nossas Igrejas particulares, em nossos Presbitérios, não para serem imitadas, pois são conseqüências de uma afetividade não bem trabalhada, não bem cuidada, não bem administrada, trazendo certos desvios que igualmente, são manifestações não de integração, frutos de uma personalidade até mesmo doentia e que chegam até mesmo a provocar sombras na Comunidade Igreja, no Presbitério, trazendo muitas interrogações provindas de problemas sexuais e afetivos, não solucionados, danosos no ponto de vista psicológico e pastoral, motivos e sinais evidentes de desintegração na vida em comum, na vida da Comunidade, no Presbitério ,na própria Igreja particular. Neste casos a Correção Fraterna se torna mais difícil em razão da inveja , do desejo de mando, do carreirismo, do ciúme, do egoísmo, da rigidez, do mau humor, da indiferença, da agressividade , da rigidez, do autoritarismo, do sectarismo, do se julgar mais perfeito, pronto e acabado, da busca do poder, manifestando mais uma vontade de ser servido do que servir, do simplesmente aparecer, chamar a atenção sobre si, da auto-suficiência ou do orgulho. Quando isso acontece, também é “uma vergonha na Igreja, tão grave quanto a pedofilia.E pior ainda quando em vez de promover uma verdadeira, autêntica e evangélica pastoral presbiteral, implanta a pastoral do terror, do temor, do medo, da ameaça, “da punição, da suspensão de ordens ou até mesmo da redução ao estado leigo.” Disso também nos envergonhamos, “e vergonha da Igreja”.
Os discípulos de Jesus, no entanto, têm a função, a obrigação, a missão de testemunhar com a própria vida os valores do Reino, valores de integração: alegria, paz, serenidade, generosidade, desprendimento, solidariedade, fraternidade, honestidade, veracidade e de outras virtudes que podem ser imitadas e, portanto, rejeitar todos os contra-valores, pois esses são de desintegração. Palavra e ação na vida do discípulo, do ministro ordenado, principalmente, estão destinadas a estarem em perfeita sintonia. Antes de ser guia é preciso ordenar a própria vida. Sem essa ordenação, seria perigoso e até poderia afastar ainda mais as pessoas do Reino.
O discípulo, o ministro ordenado, deve adequar sempre seu modo de proceder com as exigências do Reino, para não cair no moralismo inconsciente. Ele convence pelo seu jeito de viver e só assim tornar-se-á um referencial válido para os demais.
Peçamos a Deus, meus irmãos bispos, padres e diáconos, que o nosso modo de ser, de viver, conviver e de agir seja uma proclamação viva dos valores do Reino, no qual as pessoas possam espelhar-se;
“Portanto, considerem-nos as pessoas, como servidores de Cristo e administradores dos mistérios de Deus. Ora, o que se requer dos administradores, é que cada um seja fiel.” ( 1 Cor. 4,1-2)