“Consolai, consolai meu povo, diz vosso Deus. (Is 40, 1)
Os últimos dias têm sido de recolhimento e oração junto aos irmãos e irmãs diante da dor e do sofrimento de nosso povo. Os desastres que ceifaram vidas em nossa querida cidade do Rio de Janeiro, nesta semana, nos unem em uma corrente de fé e solidariedade por todos aqueles que sofrem enlutados por imensa perda.
Desde quarta-feira (6), seis pessoas perderam suas vidas devido a fortes chuvas e ventos que deixaram um rastro dramático de destruição no Rio de Janeiro, especialmente, na comunidade da Rocinha, na região de São Conrado e outros locais. Todos os anos, acompanhamos com profunda consternação as notícias desesperadoras sobre os estragos causados nesta época do ano. Já é passado da hora o investimento em uma cultura que se preocupe com o bem comum, a ecologia e a justiça entre as gerações, para que não tenhamos mais que assistir a tantas imagens de flagelo social, onde especialmente os mais pobres e vulneráveis pagam com suas vidas o preço da falta histórica de planejamento urbano.
São famílias que perderam tudo, menos a fé e a confiança em Deus para superar esses desafios. O Papa Francisco, em sua encíclica “Laudato si”, relaciona as questões ecológicas, o cuidado da criação, o esforço por unir a sociedade na busca de um desenvolvimento sustentável e integral, a partir das consequências tão perversas da degradação ambiental na vida dos mais pobres do mundo. Eles são os excluídos do planeta, são bilhões de vítimas da chamada cultura do lixo.
Na manhã desta sexta-feira (8), somos surpreendidos, desta vez, pela morte de dez (10) pessoas, entre jovens atletas e funcionários, após um incêndio no Centro de Treinamento do Flamengo, no Rio. O fogo destruiu parte dos alojamentos do “Ninho do Urubu” e os sonhos de tantas famílias que perderam seus entes queridos. Nosso coração está unido a elas, nesse momento, pedindo que Deus Pai acolha os seus filhos que perderam a vida e conforte os familiares e amigos.
De joelhos dobrados, peço ao povo de toda a nossa Arquidiocese que mantenham as orações constantes em suas Igrejas e Paróquias, pedindo que Nosso Senhor Jesus Cristo possa para confortar as famílias e iluminar as autoridades do Rio de Janeiro, para que possam prover recursos que sanem os problemas urbanos e cessem as tragédias sociais evitáveis. Lembrando o que disse o Papa emérito Bento XVI, na abertura da conferência em Aparecida (SP): “Os povos latino-americanos e caribenhos têm direito a uma vida plena, própria dos filhos de Deus, com condições mais humanas: livres das ameaças da fome e de todas as formas de violência. Para estes povos, os seus Pastores têm que fomentar uma cultura da vida que permita, como dizia o meu Predecessor Paulo VI, “passar da miséria à posse do necessário, à aquisição da cultura, à cooperação no bem comum… até chegar ao reconhecimento, por parte do homem, dos valores supremos e de Deus, que é a origem e o termo deles” (cf. Populorum progressio, 21).
Diante das calamidades ensinou o Papa Francisco: “Pode ser. Mas há um Pai que chora conosco; há um Pai que chora lágrimas de infinita piedade para com os seus filhos. Nós temos um Pai que sabe chorar, que chora conosco. Um Pai que espera por nós para nos consolar, porque conhece os nossos sofrimentos e nos preparou um futuro diferente. Esta é a grande visão da esperança cristã que se expande por todos os dias da nossa existência, e nos quer reanimar”. (https://meldedeus.com/o-papa-esperanca-crista-vence-tragedias-mundo/, último acesso em 08 de fevereiro de 2019.)
A nossa atitude diante da tragédia e de tanto sofrimento é morte é a oração, como nos ensinou o Papa Bento XVI: “Caros irmãos e irmãs, o Salmo 3 nos apresentou uma súplica plena de confiança e de consolação. Rezando este salmo, podemos fazer nossos, os sentimentos do Salmista, figura do justo perseguido que encontra em Jesus a sua plenitude. Na dor, no perigo, na amargura e na incompreensão e nas ofensas, as palavras do Salmo abrem o nosso coração à certeza confortante da fé. Deus é sempre próximo – também nas dificuldades, nos problemas, nas obscuridades da vida – escuta, responde e salva ao seu modo. Mas necessitamos saber reconhecer a sua presença e aceitar as suas vias, como Davi na sua fuga humilhante do filho de Absalão, como o justo perseguido do livro da Sabedoria e, por último e completamente, como o Senhor Jesus no Gólgota. Que o Senhor nos dê a fé, nos ajude na nossa fraqueza e nos torne capazes de crer e de rezar em meio a todas as angústias, nas noites dolorosas da dúvida e nos longos dias de dor, abandonando-nos com confiança nEle que é nosso escudo e nossa Glória”. https://noticias.cancaonova.com/mundo/catequese-de-bento-xvi-07092011/, último acesso em 08 de fevereiro de 2019).
As paróquias das regiões afetadas nessas duas tristes ocorrências estão tomando as providências, seja de assistência, proximidade, orações e celebrações. É a Igreja do Rio de Janeiro próxima e presente junto as pessoas. Na questão da ajuda social a Caritas Arquidiocesana está coordenando as ajudas humanitárias. As paróquias da sede do Flamengo na região do Leblon e do Centro de Treinamento em Vargem Grande estão unidas e com a proximidade possível celebrando e rezando nas várias intenções. O mesmo ocorre com as Paróquias de São Conrado e Rocinha que estão muito presentes com os desabrigados e necessitados. Em todas as nossas paróquias e capelas, neste final de semana recomendo que façam orações e súplicas nessas intenções.
Com a confiança em Deus, Pai, Filho e Espírito Santo encomendamos as almas das pessoas falecidas de maneira trágica e confiamos o seu eterno descanso ao Pai. Unidos às famílias enlutadas as abraçamos e queremos estar próximos na confiança da esperança da vida. Junto aos necessitados a nossa Caritas Arquidiocesana procura cumprir sua missão de concretizar as ajudas em unidade com as paróquias locais.
Que nosso padroeiro São Sebastião interceda pelo Rio de Janeiro e por todos nós. Amém!