Depois de termos celebrado, com dignidade e muita piedade, a Semana Santa, chegou este tempo especial de cinquenta dias de permanente Aleluia: um tempo de permanente caridade e de esperança. Sim, esperança que só o Cristo Ressuscitado, contra toda a desesperança humana, pode nos dar. Uma esperança que se concretiza na nossa ação pastoral, enquanto virtude que deve ser vivida em nosso cotidiano, como pede o Ano Arquidiocesano da Esperança Cristã. Páscoa (que tem a sua origem etimológica do hebraico Pessach) significa passagem. É uma grande festa cristã para nós, é a maior e a mais importante festa, por isso, liturgicamente chamada de Solenidade e comemorada com “oitava”. Reunimo-nos como povo de Deus para celebrar a Ressurreição de Jesus Cristo, Sua vitória sobre a morte e Sua passagem transformadora em nossa vida.
O Tempo Pascal compreende cinquenta dias a partir do Domingo da Ressurreição até o Domingo de Pentecostes, vividos e celebrados com grande júbilo, como se fossem um só e único dia festivo, como um grande domingo, conforme cantamos na Vigília e no dia da Páscoa. A Páscoa é o centro do Ano Litúrgico e de toda a vida da Igreja. Celebrá-la é celebrar a obra da redenção humana e da glorificação de Deus que Cristo realizou quando, morrendo, destruiu a morte; e ressuscitando, renovou a nossa vida.
Foi com a intenção de celebrar a Páscoa de Cristo que, desde os primórdios do Cristianismo, os cristãos foram organizando esta bela festa. A Páscoa é este tempo bonito (primavera ou outono) de valorizar a vida que venceu a morte. A vida que dá uma palavra final contra o pecado e contra a maldade humana.
Páscoa é passagem para uma situação melhor, da morte para a vida, do pecado para a graça, da escravidão para a liberdade, do homem velho para o homem novo, baseada não em nossas forças, mas na graça de Deus, na fé em Jesus Cristo. Páscoa se dá não só no rito da Liturgia; deve acontecer em cada instante da vida cotidiana do homem e da mulher em busca da terra prometida, da vida nova da felicidade. O Tempo Pascal acontece do Domingo da Ressurreição até o Domingo de Pentecostes, por isso, cinquenta dias na presença do Ressuscitado preparando-nos para receber o Espírito Santo prometido.
Nas leituras bíblicas, sobretudo nos Evangelhos do Tempo Pascal, percebemos que Jesus se dá a conhecer, que Ele ressuscita lá onde existe acolhimento, lá onde se presta serviço ao próximo. Podemos dizer que Cristo ressuscita lá onde se vive o novo mandamento do amor, da caridade. Primeiramente, Jesus se dá a conhecer às mulheres que vão ao sepulcro para ungir com aromas o Seu Corpo. E, lembremos: foi na Vigília Pascal que o Papa Francisco agradeceu o papel das mulheres na história da salvação. Jesus se dá a conhecer a Madalena, que vai em busca do Seu Corpo para ungi-lo com aromas. O Senhor se manifesta a Pedro e a João que vão ao sepulcro. Jesus aparece à comunidade reunida no cenáculo. Tomé, que não está presente, não usufrui da presença do Senhor; tornando-Se presente no domingo seguinte, no entanto, também O reconhece.
O Evangelho mais significativo nesta linha é certamente o Evangelho dos discípulos de Emaús (Lc 24, 13-35), aos quais Cristo se dá a conhecer pela Sua Palavra e pela fração do pão (Eucaristia). Os quais, a Seu exemplo, acolhem os irmãos na caridade e compartilham com eles sua vida, constituem o Cristo ressuscitado entre os homens. Cristo ressuscita os que andam à Sua procura; Cristo ressuscita os que vivem os acontecimentos à luz da Escritura; Cristo ressuscita nos que acolhem e nos que servem; Cristo ressuscita nos que sabem partir o pão. À medida que existir entre os homens a atitude hospitaleira, isto é, de serviço, a exemplo dos discípulos de Emaús, Cristo vai ressuscitando através da história dos homens.
Quando os discípulos O reconhecem na fração do pão, Ele desaparece. Não há mais necessidade de Cristo permanecer entre os homens de maneira corpórea, pois Ele continua presente de maneira sacramental na Eucaristia, na Palavra, nos Seus discípulos, na Sua Igreja, naqueles que vivem o serviço do amor, pois o novo mandamento tudo renova, faz reviver todas as coisas.
Ide, dirá Ele, vós sereis minhas testemunhas até os confins da Terra. Vós sereis meus continuadores no meio dos homens. Isso vem expresso no que segue: Os discípulos de Emaús se levantaram na mesma hora e voltaram a Jerusalém. Eles, por sua vez, contaram o que havia acontecido no caminho e como O tinham reconhecido ao partir o pão (Lc 24, 33-35).
Pela caridade, os cristãos se apresentam no mundo como chagas do Cristo ressuscitado, no qual o homem, a exemplo de Tomé, poderá perceber e apalpar o amor de Cristo e n’Ele crer; e, acreditando, tenha a vida eterna. Cada cristão é convidado a se tornar presença do Cristo ressuscitado entre os irmãos, de tal sorte que os homens reconheçam Sua face na caridade do irmão.
Irradiemos ao nosso redor a esperança e a certeza da presença de Cristo Ressuscitado! Que se encha nosso olhar de luz, como os das mulheres que viram o sepulcro vazio e o Filho de Deus ressuscitado (Mt 28). Que possamos também nós, numa só fé, exclamar como elas: o Senhor ressuscitou! Aleluia, Aleluia, Aleluia!