Um chamado urgente e histórico: jejum e oração pela paz

    Amados irmãos e irmãs em Cristo, dirijo-me a todos vocês com coração de pai e pastor para ecoar o apelo que o Santo Padre, Papa Leão XIV, dirigiu à Igreja na Audiência Geral de 20 de agosto: vivermos o dia 22 de agosto, memória litúrgica de Nossa Senhora Rainha, como um dia de jejum e oração pela paz. O Papa, com a autoridade de Pedro e a ternura do Bom Pastor, implorou que supliquemos ao Senhor a graça da paz e da justiça, que Ele mesmo enxugue as lágrimas dos que sofrem, sustente os fracos, converta os violentos e conduza os povos pelo caminho da reconciliação. Atendo, portanto, com prontidão a esse chamado e convido toda a nossa Arquidiocese do Rio de Janeiro a unir-se a esta grande corrente de intercessão.

    Este convite do Papa não é uma iniciativa isolada, nem um gesto meramente devocional; ele nasce do coração do Evangelho e da tradição viva da Igreja, que sempre recorreu ao jejum e à oração quando a humanidade se viu à beira do abismo. Em cada época, quando as armas falaram mais alto e as ideologias obscureceram o rosto do irmão, a Igreja levantou as mãos ao céu e, com os pés bem firmes na terra, propôs um caminho de conversão, perdão e paz. Lembremos o clamor de Bento XV diante da Primeira Guerra Mundial, os apelos insistentes de Pio XII durante o pavor da Segunda Guerra, o testemunho de São João XXIII, cuja encíclica Pacem in Terris permanece atual, as jornadas de oração convocadas por São Paulo VI e São João Paulo II em meio a conflitos que pareciam insolúveis.

    Meu apelo é direto: não nos omitamos. O mundo passa por provações que não podem ser relativizadas: populações deslocadas, cidades destruídas, feridas psíquicas e espirituais que se agravam a cada dia, crianças sem futuro, idosos sem amparo, famílias esfaceladas pelo luto ou pela dispersão. A guerra — onde quer que esteja — é sempre uma derrota da humanidade. E se a guerra nasce no coração, como nos recorda o Senhor, a paz também nasce e amadurece no coração que se deixa evangelizar. Jejuar não é apenas abster-se de alimento: é renunciar a tantos excessos, a palavras que ferem, a impulsos de violência, a posturas de indiferença; é abrir espaço em nós para Deus e para o próximo, é deixar que a caridade ocupe o lugar do egoísmo. A oração, por sua vez, é esse grito que sobe ao céu e que Deus sempre escuta; é a súplica dos pobres, dos aflitos, dos inocentes, dos que não têm voz; é a força silenciosa que transforma pessoas e histórias.

    O profeta Isaías já advertia que o jejum agradável a Deus é aquele que rompe as cadeias da injustiça, liberta os oprimidos, reparte o pão com o faminto e acolhe o desabrigado (cf. Is 58). O profeta Joel conclamou o povo a “proclamar um jejum sagrado e clamar ao Senhor” (cf. Jl 1,14), e a cidade de Nínive, ao acolher o anúncio de Jonas, experimentou a misericórdia divina. Nos Atos dos Apóstolos, a comunidade cristã discernia e enviava missionários “com jejum e oração”. Nada disso é simples recordação do passado: é método de Deus para tocar o coração humano.

    Quero propor a todos alguns modos concretos de viver este dia: onde for possível, que as paróquias abram suas portas por mais tempo, com Adoração Eucarística ampliada; que haja recitação do Rosário em horários acessíveis, envolvendo idosos, jovens e crianças; que se programem vias-sacras ou celebrações penitenciais que recordem as vítimas das guerras; que os grupos e movimentos ofereçam obras de misericórdia a famílias e pessoas em situação de rua; que os fiéis, conforme as possibilidades e a saúde, assumam um jejum sério e discreto, unindo-o a gestos de partilha — por exemplo, destinando o que seria gasto em uma refeição a uma obra de caridade. Nas casas, que se recupere o hábito de rezar juntos, talvez à noite, pedindo a intercessão de Maria, Rainha da Paz, com uma dezena do terço, uma leitura breve do Evangelho do dia, um Pai-Nosso e uma Ave-Maria, e um gesto de reconciliação entre os membros da família. Se pudermos, escolhamos também uma intenção específica: uma nação em conflito, um grupo de vítimas, os governantes que negociam, os diplomatas e mediadores, os líderes religiosos e todos os que se arriscam pela paz.

    Também desejo dirigir uma palavra aos comunicadores, catequistas, educadores e agentes de pastoral: este é um tempo de formação das consciências. Aproveitemos para ensinar a beleza da doutrina social da Igreja, a centralidade da dignidade da pessoa humana, o valor da vida desde a concepção até a morte natural, a necessidade de uma cultura do encontro e do diálogo, o dever moral de buscar a verdade e renunciar às manipulações. Em nossas redes sociais e ambientes digitais, sejamos cuidadosos: não espalhemos ódio, desinformação ou desesperança; ao contrário, sejamos pontes que conduzem à oração e à caridade. Cada postagem pode ser um tijolo no caminho da paz ou uma pedra de tropeço que alimenta a divisão. Escolhamos ser artesãos de paz também no espaço virtual.

    Sei que alguns poderão perguntar: “Mas qual a eficácia de um dia de jejum e de oração diante de tanta complexidade geopolítica?”. A pergunta é legítima. Porém, a lógica de Deus não coincide com a lógica do mundo. A oração e o jejum não substituem a ação diplomática, o trabalho político responsável, as negociações, os acordos, a justiça. Eles sustentam tudo isso; purificam intenções, reorientam prioridades, abrem frestas onde tudo parecia fechado. Quantas decisões históricas foram iluminadas por uma consciência tocada pela graça! Quantos passos de reconciliação nasceram do perdão oferecido em segredo!

    Convido de modo especial os sacerdotes: que preguem com ardor, que confessem com paciência, que animem o povo à esperança. Peço aos diáconos: que sirvam com alegria, lembrando que o serviço humilde reconcilia o coração. Às pessoas consagradas: que ofereçam discretamente suas penitências e intercedam com fidelidade, como sentinelas que velam a noite inteira. Aos jovens: que tenham a coragem de remar contra a corrente e testemunhar a força do Evangelho; sejam criativos ao convocar amigos para rezar, ao mesmo tempo em que praticam gestos de caridade.

    Meus irmãos e minhas irmãs, façamos do 22 de agosto um marco espiritual. Quem puder, una-se à celebração da Santa Missa e ofereça a comunhão pela paz; quem estiver trabalhando, reserve alguns minutos para uma oração breve; quem estiver em viagem, reze o terço; quem puder, visite um doente, ajude um necessitado, ligue para alguém com quem não fala há muito tempo e reate laços. Pequenos gestos têm grande valor quando feitos com fé. E que este dia não seja um parêntese, mas o início ou o recomeço de um estilo de vida mais simples, mais orante, mais fraterno. Um dia vivido com autenticidade pode inaugurar processos de paz em nossas casas, nas paróquias, nos bairros e nas cidades.

    Por fim, peço que não desanimemos. Mesmo quando as notícias parecem esmagadoras e as soluções, distantes, o Senhor da História caminha conosco. Ele nos disse: “Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz” (Jo 14,27). A paz de Cristo não é frágil, nem ilusória; é firme porque nasce da sua Páscoa, da vitória do amor sobre o ódio, da vida sobre a morte. Confiemos, portanto, e caminhemos juntos. Como Igreja no Rio de Janeiro, respondamos ao Papa Leão XIV com generosidade: jejuemos, rezemos, reconciliemo-nos, partilhemos. E que, sob o manto da Virgem Maria, Rainha da Paz, Deus nos conceda ver os frutos deste dia nas famílias, nas ruas de nossa cidade, nas frentes de batalha, nas mesas de negociação e, sobretudo, no íntimo de cada coração.

    De coração pastoral, abençoo a todos e os confio ao cuidado materno de Maria. Que o Senhor nos conceda a paz e nos faça instrumentos da paz.

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