Estamos nos encaminhando para o final da Quaresma; estamos próximos do início da Grande Semana que culmina com o Tríduo Pascal! Hoje, a Palavra que escutamos nos convida a esquecer o velho pecado, esquecer o que ficou para trás, e prosseguir, renovados, para adiante, para frente, onde Cristo nos espera! Certamente, esse “esquecer o que fica para trás” não pode ser uma negação irresponsável do nosso passado! Esquecer o pecado que passou somente é possível quando o assumimos diante de Deus e o confessamos de coração sincero. Para isto Cristo nosso Deus nos deixou o Sacramento da Penitência! Assumamos, pois, que somos pecadores, confessemos nossos pecados e caminhemos, passos apressados e decididos, ao encontro do Cristo que nos salva e purifica.
O Senhor, na primeira leitura, nos exorta pela boca de Isaías: “Não relembreis coisas passadas, não olheis para fatos antigos. “Eis que eu farei coisas novas, e que já estão surgindo: acaso não as conheceis? Pois abrirei uma estrada no deserto e farei correr rios na terra seca” (cf. Is 43,18-19). O mesmo Deus que abriu o tremendo Mar Vermelho e arrancou Israel da morte, dando-lhe um futuro, agora nos promete algo maior, uma coisa nova. Em Cristo Jesus nos será aberta uma estrada no meio do mar da morte, e nós com Cristo e em Cristo, ressuscitaremos, viveremos. Mais ainda: já agora, atravessando as águas do santo Batismo, seremos lavados, regenerados, purificados e, como novo povo de Deus, como sua Igreja, atravessaremos o deserto deste mundo rumo à Terra Prometida da glória celeste.
São Paulo na segunda leitura, convida-nos a deixar o que ficou para trás e correr para adiante, para o Cristo. Suas palavras são claras e nos devem contagiar de entusiasmo: “Não que já tenha recebido tudo isso ou que já seja perfeito. Mas corro para alcançá-lo, visto que já fui alcançado por Cristo Jesus. Irmãos, eu não julgo já tê-lo alcançado. Uma coisa, porém, eu faço: esquecendo o que fica para trás, eu me lanço para o que está na frente. “Corro direto para a meta, rumo ao prêmio, que, do alto, Deus me chama a receber em Cristo Jesus”(cf. Fl 3, 12-14). Isto mesmo: não somos perfeitos, experimentamos em nós ainda as marcas da concupiscência deixada pelo pecado original, mas Cristo nos atrai, seu amor nos impele porque ele nos alcançou, nos conquistou, nos resgatou com sua preciosa cruz e ressurreição.
No Evangelho (Jo 8, 1-11) temos uma comovente cena da vida de Jesus: os mestres da Lei e os fariseus trouxeram uma mulher surpreendida em adultério! Segundo a Lei de Moisés tais pessoas deviam ser apedrejadas. Aproveitaram a situação, para deixar o Cristo numa situação embaraçosa: “Mestre, que vamos fazer dessa mulher, perdoá-la ou apedrejá-la, como manda a nossa lei?” Para os escribas e fariseus, era uma oportunidade para testar a fidelidade de Jesus às exigências da Lei. Para Jesus, foi a oportunidade para revelar a atitude de Deus frente ao pecado e ao pecador. Perguntaram ao Mestre: “Que dizes?”(Jo 8,4).
Disse Jesus: “Quem dentre vós não tiver pecado, seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra” (Jo 8,7). Todos os homens são pecadores; por isso ninguém tem o direito de se arvorar em juiz dos outros. Só um tem esse direito: o Inocente, o Senhor, mas nem sequer usa dele, preferindo exercer o Seu poder de Salvador: “Ninguém te condenou? … Também Eu não te condeno. Podes ir, e de agora em diante não peques mais” (Jo 8, 10-11). Somente Cristo, que veio para entregar a Sua vida pela salvação dos pecadores, pode libertar a mulher do seu pecado e dizer-lhe: “não tornes a pecar”. A Sua palavra é portadora da graça que nasce do Seu sacrifício.
Cristo, como o Pai, não quer a morte do pecador, mas que se converta e viva” (Ez 33,11). Quanta nova confiança deve ter infundido, na mulher, aquele “Vai!”, pois significa: volta a viver, a esperar, volta para a casa; retoma a tua dignidade; dize aos homens, com tua presença entre eles, que não há somente a Lei, há também a Graça.
Este Evangelho toca na raiz de muitos de nossos costumes. Não pegamos em pedras contra o próximo; a lei civil proíbe! Mas a lama sim, a crítica sim. Quanta lama é esguichada no próximo em certas conversas entre amigos e amigas! Se alguém de nosso círculo de conhecimento fraqueja ou dá motivo a conversas, logo se cai em cima dele, como aqueles fariseus; mas não porque se detesta sinceramente o mal (dele se tem, às vezes, inveja!), mas porque se detesta o pecador; porque do contraste com sua conduta se quer, inconscientemente, fazer brilhar mais a nossa: Agradeço-vos, meu Deus, que não sou como os outros, dizia o fariseu no templo.
Nós somos chamados a reconhecer o nosso pecado e experimentar o perdão e a reconciliação e anuncia-la aos irmãos e irmãs: Eis que tudo se faz novo.