O Evangelho do 26º Domingo do Tempo Comum (Cf. Lc 16, 19-31) descreve-nos um homem que não soube tirar o proveito dos seus bens. Ao invés de ganhar com eles o Céu, perdeu-o para sempre. Trata-se de um homem rico, que se vestia de púrpura e de linho, e que todos os dias fazia festas esplêndidas; muito perto dele, à sua porta, estava deitado um mendigo chamado Lázaro, todo coberto de chagas, que desejava saciar-se com as migalhas que caíam da mesa do rico. E até os cães lambiam as suas feridas.
A descrição que o Senhor nos faz nesta parábola tem fortes contrastes: grande abundância num, extrema necessidade no outro. O homem rico vive para si, como se Deus não existisse. Esqueceu uma coisa que o Senhor recorda com muita frequência: não somos donos dos bens materiais, mas administradores.
A parábola ensina a sobrevivência da alma após a morte e que, imediatamente depois da morte a alma é julgada por Deus de todos os seus atos – juízo particular –, recebendo o prêmio ou o castigo; que a Revelação divina é, de per si, suficiente para que os homens creiam no mais além.
Jesus hoje desmente os que afirmam que os mortos estão dormindo. É verdade que, antes do Exílio de Babilônia, quando ainda não se sabia em Israel que havia ressurreição, os judeus e seus textos bíblicos diziam que quem morria ia dormir junto com os pais no sheol. Tal ideia foi superada já no próprio Antigo Testamento, quando Israel compreendeu que o Senhor nos reserva a ressurreição. Então, os judeus pensavam que quem morresse, ficava bem vivo, na mansão dos mortos, à espera do Julgamento Final. Já aí, havia uma mansão dos mortos de refrigério e paz e uma mansão dos mortos de tormento.
É esta crença que Jesus supõe ao contar a parábola do mau rico e do pobre Lázaro. Então, nem mesmo para os judeus, que não conheciam o Messias, os mortos ficavam dormindo! Quanto mais para nós, cristãos, que sabemos que “nem a morte nem a vida nos poderão separar do amor de Cristo” (Cf. Rm 8,38-39). Afirmar que os mortos em Cristo ficam dormindo é desconhecer o poder da Ressurreição de Nosso Senhor. Muito pelo contrário, como para São Paulo, o desejo do cristão é “partir para estar com Cristo” (Cf. Fl 1,23).
Jesus continua o tema de domingo passado, quando nos exortou a fazer amigos com o dinheiro injusto. Este é o pecado do rico do Evangelho de hoje: não fez amigos com suas riquezas. Se tivesse aberto o coração para Lázaro, teria um amigo a recebê-lo no céu! É importante notar que esse rico não roubou, não ganhou seu dinheiro matando ou fazendo mal aos outros. Seu pecado foi unicamente viver somente para si: “se vestia com roupas finas e elegantes e fazia festas esplêndidas todos os dias” (Cf. Lc 16,19). Ele foi incapaz de enxergar o “pobre, chamado Lázaro, cheio de feridas, que estava no chão” (Cf. Lc 16,20), à sua porta. “Ele queria matar a fome com as sobras que caíam da mesa do rico. E, além disso, vinham os cachorros lamber suas feridas” (Cf. Lc 16,22). O rico nunca se incomodou com aquele pobre, nunca perguntou o seu nome, nunca procurou saber sua história, nunca abriu a mão para ajudá-lo, nunca lhe deu um pouco de seu tempo. O rico jamais pensou que aquele pobre, cujo nome ninguém importante conhecia, era conhecido e amado por Deus. Não deixa de ser impressionante que Jesus chama o miserável pelo nome, mas ignora o nome do rico! É que o Senhor se inclina para o pobre, mas olha o rico de longe!
Contudo, o homem rico não está contra Deus nem oprime o pobre! Apenas está cego para as necessidades alheias. O seu pecado foi não ter visto Lázaro, a quem poderia ter feito feliz com um pouco menos de egoísmo e um pouco mais de despreocupação pelas suas próprias coisas. Não utilizou os bens conforme o querer de Deus. Não soube compartilhar. Santo Agostinho comenta: “Não foi a pobreza que conduziu Lázaro ao Céu, mas a sua humildade; nem foram as riquezas que impediram o rico de entrar no descanso eterno, mas o seu egoísmo e a sua infidelidade”.
Neste domingo, o Papa Francisco envia ao mundo sua mensagem para o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado que passa a ser comemorado nesta ocasião, com o tema: “Não se trata apenas de migrante”. Na Igreja no Brasil, celebramos o Dia Nacional da Bíblia. Que a nossa vida seja permeada pela Palavra de Deus, que é lâmpada para os nossos pés e luz para os nossos caminhos. Que a Palavra de Deus transforme nossas vidas em fermento de construção da paz e da solidariedade, que tanto precisamos e rezamos. E que a Virgem da Penha, nos ajude, Amém!