Com a Solenidade de Cristo, Rei do Universo, iniciamos A 34ª semana do tempo comum com a qual encerramos o Ano Litúrgico. Neste domingo comemoramos também o dia do cristão leigo, os jovens celebram a Jornada Diocesano da Juventude e iniciamos a Campanha para a Evangelização e fazemos o ato de consagração do gênero humano a Jesus Cristo Rei. No domingo seguinte, dia 27 de novembro, será o primeiro domingo do Advento, um novo Ano Litúrgico, início da preparação para o Natal. Ainda que as festas da Epifania, Páscoa e Ascensão sejam também festas de Cristo Rei e Senhor de todas as coisas criadas, a solenidade de Cristo Rei foi especialmente instituída para nos mostrar Jesus como único soberano de uma sociedade que parece querer viver de costas para Deus.
A solenidade de Cristo Rei foi instituída no Ano Jubilar de 1925 pelo Papa Pio XI, com a Carta Encíclica Quas Primas (QP), com a qual coincidiu o 16º Centenário do Concílio de Niceia, que proclamara a divindade do Filho de Deus. Este Concílio inseriu também em sua fórmula de fé as palavras: “cujo reino não terá fim”, afirmando assim a dignidade real de Cristo (cf. QP 2).
Quando nós, cristãos, confessamos que Cristo é Rei, de que reinado estamos falando? A que Reino estamos nos referindo? Nós realmente acreditamos com todo o coração e confessamos com toda convicção que Jesus Cristo — e só Ele! — é Rei: Rei do universo, Rei da história, Rei da humanidade, Rei da vida de cada pessoa humana, cristã ou não cristã. Ele é Rei porque é Deus feito homem. É, como diz a Escritura, aquele “através de quem e para quem todas as coisas foram criadas, no céu e na terra… Tudo foi criado através dele e para ele… Ele é o Primogênito dentre os mortos” (Cl 1,15-18).
Jesus veio ao mundo para buscar e salvar o que estava perdido; veio em busca dos homens dispersos e afastados de Deus pelo pecado. E, como estavam feridos e doentes, curou-lhes as feridas. Tanto os amou que deu a vida por eles. Como Rei, vem para revelar o amor de Deus, para ser o Mediador da Nova Aliança, o Redentor do homem. No Prefácio da Missa, fala-se de Jesus que ofereceu ao Pai “um reino de verdade e de vida, de santidade e de graça, de justiça, de amor e de paz”.
No Evangelho da festa (Lc 23,35-43), percebe-se esse desejo através da conjunção “se”: “Se és o Cristo, o escolhido de Deus!” — manifestam os príncipes dos sacerdotes; “Se és o rei dos judeus” — dizem os soldados; “Se és o Cristo” — diz um dos malfeitores crucificados com Jesus. Parece existir uma dúvida que, no fundo, é um “grito silencioso”, que poderia ser traduzido assim: “Por favor, Senhor, manifesta-te; por favor, diz-me quem és. Não aconteça que, pela minha ignorância, eu venha a perecer. Se tu és o Cristo, salva-me”. Frequentemente, diante da aparente indiferença em relação à escuta do Evangelho, devemos ouvir esse apelo oculto, silencioso, um grito sufocado.
O chamado “bom ladrão” teve coragem de expressar nitidamente o desejo do seu coração: “Jesus, lembra-te de mim, quando tiveres entrado no teu Reino!” Não devemos temer as revoltas humanas contra Deus. Temos a esperança de que, um dia, essas pessoas possam dizer como esse pecador que, como era um bom ladrão, soube “roubar” o céu nos últimos minutos de vida. Tenhamos por certo: a verdade de Cristo é o que todos os homens e mulheres desejam — sabendo ou não.
A Liturgia coloca como antífona de entrada do Missal Romano uma frase do Apocalipse que é surpreendente: “O Cordeiro que foi imolado é digno de receber o poder, a divindade, a sabedoria, a força e a honra. A ele, a glória e o poder através dos séculos!” (Ap 5,12; 1,6). Frase surpreendente, sim! Quem é Aquele que proclamamos Rei? O Cordeiro — e Cordeiro imolado. Cordeiro evoca mansidão, paz, fragilidade… Nosso Rei é o Cordeiro que foi esmagado na cruz, Aquele que foi imolado pelo pecado do mundo. O mundo passou e passa por cima do nosso Rei, refuta seu Evangelho, desdenha de sua Palavra, ridiculariza seus preceitos, calunia sua Igreja… Esse Rei é Aquele que foi crucificado, que foi derrotado e terminou sozinho; é o “homem das dores”, prenunciado por Isaías. No Evangelho, escutamos que zombaram — e continuam zombando — dele: “A outros ele salvou. Salve-se a si mesmo, se de fato é o Cristo de Deus, o Escolhido! Tu não és o Cristo? Salva-te a ti mesmo e a nós!” (Lc 23,35.39).
Jesus não é Rei nos moldes dos reis da terra. Não podemos imaginar os reis, presidentes e poderosos deste mundo para depois enquadrar Cristo nesses modelos. O reinado de Cristo somente pode ser compreendido a partir da lógica do próprio Cristo: “O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate por muitos” (Mc 10,45). Eis o modo que Cristo tem de reinar: servindo, dando vida e entregando a própria vida. Tão diferente dos reis da terra, dos políticos e líderes de ontem e de hoje: “Sabeis que aqueles que governam as nações as dominam, e os seus grandes as tiranizam. Entre vós não será assim…” (Mc 10,42s). Cristo é Rei porque se fez solidário conosco ao fazer-se um de nós; é Rei porque tomou a nossa vida sobre seus ombros; é Rei porque passou entre nós servindo, até o maior serviço: entregar-se totalmente na cruz.
Ao comemorarmos o centenário desta feliz iniciativa do Papa Pio XI, peçamos que Cristo Rei reine em nossas vidas e em nossas famílias! Viva Cristo Rei!



