Os onze Apóstolos estavam reunidos em Jerusalém quando chegaram os discípulos de Emaús narrando o encontro que tiveram com Jesus Ressuscitado. Narra São Lucas que “enquanto assim falavam apareceu Ele próprio no meio deles e lhes disse: Paz a vós” (Lc 24,36). Uma questão logo se impõe: Porque estas narrativas registradas nos Evangelhos sobre as aparições de Cristo após sua ressurreição? É que o divino Ressuscitado queria fazer dos discípulos da Igreja primitiva testemunhas oficiais de que Ele esta vivo: “Vós sereis testemunhas destas coisas” (Lc 24,48). Aqueles discípulos tinham conhecido de perto Jesus de Nazaré, suas pregações, a perseguição dos judeus que O levaria á morte. Depois viram a autenticidade do Ressuscitado, aquele mesmo que eles conheceram, amaram e seguiram. Eram, portanto, testemunhas qualificadas para proclamar Sua vitória sobre a morte. A fé dos cristãos através dos tempos se firmaria na fé das primeiras testemunhas às quais Jesus apareceu. No quarto século Santo Agostinho exprimiu bem esta realidade. Assim se expressou: “O Cristo total se faz conhecer pelos seus discípulos e se faz conhecer por nós”. De fato eles viram Jesus e nos transmitiram aquilo que viram. Entretanto, para conhecer Jesus pela fé é preciso a experiência do amor que leva a praticar tudo que Ele ensinou. São João foi claro: “O que diz que O conhece e que não guarda seus preceitos é um mentiroso e a verdade não está nele” (1 Jo 2,4). Acrescenta este Apóstolo: “Entretanto naquele que guarda fielmente sua palavra, o amor de Deus atinge verdadeiramente a perfeição (1 Jo 25). No contexto atual no qual impera o sensacionalismo as aparições de Jesus podem muitas vezes deslumbrar pelo extraordinário do fato, levando muitos a se esquecerem de que a Ressurreição de Cristo é antes de tudo e sobretudo um objeto de fé. Jesus se manifestou àqueles que acreditavam nele. Sua aparição a São Paulo no caminho de Damasco foi uma exceção e naquele instante o Apóstolo das Gentes recebeu o dom da fé ao escutar a voz de Jesus. Aos Apóstolos suas aparições foram manifestação de sua presença, a mesma presença que o verdadeiro cristão percebe até hoje. Nosso encontros com Cristo se dão através da crença inabalável de que Ele é Deus e homem verdadeiro. Eis porque Ele fez questão de comer com seus discípulos. Através dos tempos seria no banquete eucarístico que seus seguidores teriam a força para continuar a crer nele. Depois, aos lhes explicar o que estava escrito na lei de Moisés, nos profetas e nos Salmos a respeito dele, a mente dos apóstolos se abriu e eles compreenderam as Escrituras e sua fé no Mestre resplandeceu em toda sua plenitude. Para ler a Bíblia, para a compreender é preciso ter Jesus como referencial. Sua vida, suas ações e suas palavras são um comentário vivo das Escrituras. Além disto, Ele prometeu que enviaria o Paráclito prometido pelo Pai, o Espírito Santo que conduz à verdade. Na prece, vinda do coração e da contemplação das realidades sobrenaturais, se abre a inteligência dos fiéis. É o Espírito Santo quem conduz ao conhecimento de Jesus para que cada um seja testemunho dele, levando muitos a ter um melhor sentido da fé no Filho de Deus. Esta fé é a fonte daquela alegria de que estavam possuídos os discípulos ao lhes aparecer Jesus. Esta alegria gera uma imensa paz interior que afasta todos os medos. Foi o que aconteceu com os Apóstolos, antes tímidos perante os perseguidores de Cristo, sendo que somente São João se fizera presente no Calvário, mas após as aparições de Jesus, revigorada a fé, eles, de fato, se fizeram testemunha de tudo que viram e ouviram do Mestre e todos selaram com o martírio a firmeza desta crença e puderam anunciar que Jesus está vivo, presente na vida de todos que nele creem.
* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.