No dia 4 de novembro de 2024 houve uma sessão especial, presidida pelo Dep. Fred Pacheco na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro fazendo memória das comemorações do jubileu de ouro de ordenação sacerdotal que agradeço muito a todos que interagiram e participaram nessa ocasião.
O Excelentíssimo Senhor Deputado Fred Pacheco, que teve a gentileza de me convidar para esta homenagem, ilustres autoridades presentes, do Legislativo, Executivo, Judiciário, Militares e forças de segurança, os meus bispos auxiliares e eméritos, sacerdotes, religiosos e religiosas, seminaristas e os queridos irmãos e irmãs em Cristo, amigos de caminhada, agradeço muito!
É com imensa gratidão que me coloco diante da história neste momento tão especial da minha vida, marcando os 50 anos de minha ordenação sacerdotal. Olhar para essa longa estrada percorrida me enche de emoção e me faz refletir sobre o quanto Deus, em sua infinita misericórdia, tem conduzido cada passo dessa jornada. Recordo com carinho o Bispo Ordenante, o Servo de Deus, D. Tomás Vaquero, então bispo Diocesano de São João da Boa Vista.
Desde o meu chamado ao sacerdócio, em minha terra natal, São José do Rio Pardo, no interior de São Paulo, passando por cada diocese, São João da Boa Vista, São José do Rio Preto, Santa Maria de Belém do Grão Pará e São Sebastião do Rio de Janeiro, cada comunidade e cada missão, pude experimentar a graça de Deus em cada um de vocês, que me acompanharam com suas orações, conselhos e amor fraternal. Este jubileu é, antes de tudo, uma oportunidade para expressar meu profundo agradecimento a todos que cruzaram meu caminho e me ajudaram a chegar até aqui. A Deus, em primeiro lugar, doador de todos os dons e bens o agradecimento pelo sustento nesta missão de 50 anos. A capela do Santíssimo na Igreja Abacial expressa bem isso: o sacrário que tudo sustenta é o sinal que tudo está sustentado por Cristo Jesus!
Minha primeira missão pastoral, ainda como jovem sacerdote, foi marcada pela simplicidade e pelo contato direto com as pessoas, aprendendo a escutar suas dores e esperanças. A Diocese de São João da Boa Vista foi o berço onde comecei a entender a profundidade do compromisso que eu assumia com Cristo e sua Igreja. Àqueles que lá estiveram comigo, meu eterno agradecimento por me ajudarem a moldar o coração de pastor.
Seguindo essa trilha, meu serviço à Igreja me levou a locais distintos, cada um com seus desafios e riquezas. Sempre pautei o meu ministério por uma profunda devoção mariana, e isso tocou profundamente minha espiritualidade. Foi ali, aos pés da Mãe Aparecida, que renovei minha fé em momentos cruciais. Todos nós devemos buscar no orago da graça e da santidade onde se encontra a Imagem de Aparecida as graças necessárias para servir bem ao povo de Deus na evangelização e na dilatação do Evangelho.
Depois, ao assumir a responsabilidade da Diocese de São José do Rio Preto e mais tarde da Arquidiocese de Belém do Pará, vivi a riqueza de regiões tão diversas, aprendendo a valorizar a pluralidade do nosso Brasil, das tradições às espiritualidades tão vivas. A cada pessoa que conheci nessas terras, levo comigo uma marca de amizade e fé. E foi essa experiência de caminhar com as comunidades do Norte que moldou minha visão missionária, ajudando-me a enxergar a Igreja como uma verdadeira rede de fraternidade.
E, agora, aqui estou no Rio de Janeiro, cidade maravilhosa que aprendi a amar como minha. Meu coração e minha mente agem onde pisam os meus pés! Esta terra maravilhosa, com suas paisagens abençoadas e, acima de tudo, seu povo caloroso, tem sido o cenário de minha missão como arcebispo. Sou profundamente grato a todos os cariocas e a cada membro desta Arquidiocese que me acolheu de braços abertos. O Rio de Janeiro, com sua complexidade e beleza, é um reflexo do próprio Brasil: um lugar onde o sofrimento e a alegria convivem, mas onde sempre encontramos uma fé vibrante e um coração generoso.
A missão sacerdotal que assumi há 50 anos me ensinou que o verdadeiro pastor é aquele que caminha junto do seu rebanho, ouve suas necessidades, compartilha de suas dores e alegrias e, acima de tudo, se faz servo, ou seja, vive a sinodalidade. Ao longo desse meio século, aprendi que o amor de Deus por nós se revela, sobretudo, no encontro com o outro, no cuidado pelos mais necessitados, na construção de uma sociedade mais justa e fraterna.
Em minha mais recente Carta Pastoral, “Missão, Esperança e Paz”, publicada em 20 de outubro de 2024, acerca do Ano Santo de 2025, procurei abordar algumas das questões prementes enfrentadas por nossa grande cidade. Frequentemente, somos bombardeados por uma avalanche de notícias negativas e acontecimentos preocupantes que afetam profundamente a vida urbana. Entre eles estão a violência, a pobreza, o abandono e as falhas na execução de políticas públicas, que não apenas perpetuam, mas também ampliam a desigualdade social, gerando dor e sofrimento.
Uma das preocupações mais evidentes é a crescente fragmentação de nossa cidade, que se divide em ambientes isolados, sem diálogo entre si. Isso cria uma cidade setorizada, onde muitas vezes os bairros e comunidades permanecem incomunicáveis, resultando em uma sociedade fragmentada. Isso ocorre também nas famílias e em nossas comunidades.
Como pessoas de fé, não podemos nos render a um olhar pessimista diante de tantos desafios. O Papa Francisco, ao convocar o Jubileu do Ano Santo de 2025, nos convida a sermos “peregrinos da esperança”. Este é o chamado para nós, cristãos, especialmente em nossa Cidade Maravilhosa: sermos portadores de esperança, mesmo em tempos difíceis.
Nossa tarefa não se limita a desejar a paz; é preciso construí-la diariamente através de pequenos gestos e atitudes. Convido todos a abraçar uma fé viva, que se manifesta em todas as situações do cotidiano. Ao fazermos isso, plantamos sementes de eternidade onde passamos, deixando um legado de boas ações e testemunhos concretos da presença de Cristo em nossa cidade, não apenas com palavras, mas com a nossa vida.
Em um mundo que perdeu a capacidade de amar, podemos mostrar que o amor verdadeiro é possível. Em um ambiente que constrói muros de separação, somos chamados a ser construtores de pontes de diálogo, acolhimento e caridade. Mesmo diante do mal, podemos escolher fazer o bem, mostrando que é possível viver, pensar e agir de forma inovadora, impactando positivamente o mundo ao nosso redor.
A missão de ser “peregrinos da esperança” é desafiadora, mas necessária. Ao assumirmos essa missão, podemos transformar realidades, promovendo a paz e a esperança em nossa cidade e além. Que possamos, com nossas vidas, fazer a diferença em um mundo que tanto necessita de amor e compaixão. Somos convidados a construir e a reconstruir a unidade no Rio de Janeiro, a fazer a nossa parte, na certeza de que Deus habita esta cidade.
Ao comemorar esse jubileu, penso no que disse o Papa Francisco: “O pastor deve ter o cheiro das ovelhas”. E como é bonito perceber que, nesses 50 anos, pude caminhar com o povo de Deus, sentindo seu cheiro, suas lutas, sua fé. Não há um recanto em minha terra natal, em São José do Rio Preto, em Belém do Pará ou neste amado Rio de Janeiro que tenho a oportunidade de visitar a todas as regiões. Faço questão de estar com as pessoas, de ouvir as suas agruras e de levar esperanças. O meu coração é profundamente grato a todos vocês, pois sem o povo de Deus, não haveria pastor.
Gostaria de relembrar a fé e a convicção de que a minha vida, desde os gestos abençoados do amor de meus pais, Maria e Achille Tempesta, lá na simplicidade de nossa casa em São José do Rio Pardo, no interior de São Paulo, sempre aprendi que todos os problemas devem ser enfrentados com a graça de Deus, a confiança inabalável na família como instituição divina e humana de ternura, compaixão, troca de experiências e caminho de esperança. Nas figuras de meus pais e irmãos falecidos faço um apelo ao povo do Rio de Janeiro: sejamos peregrinos da esperança, a começar de nossos lares, de nossas comunidades e paróquias e vamos construir pontes de paz, concórdia, convivência e enfrentamento dos problemas do cotidiano confiando em Deus e na solidariedade humana que acolhe a todos, sem distinção!
Expresso uma mensagem que marca essa caminhada: ao longo dos anos, aprendi que a fidelidade a Cristo é uma escolha diária, uma doação constante. O Evangelho que vivemos não é algo distante, mas uma realidade que transforma nossa vida a cada instante. Convido a todos a renovarmos, juntos, nosso compromisso com a verdade, com a caridade e com a paz. Que sejamos agentes de transformação no mundo, promovendo o Reino de Deus em nossas ações, com fé e esperança.
E que Maria, a Santíssima Virgem Aparecida, a Mãe de todos nós, aqui invocada como N. Sra. da Penha, continue intercedendo por este Brasil que tanto amo, pelo povo do Rio de Janeiro e por todos aqueles que, de alguma forma, partilharam comigo essa missão.