Estamos no último domingo antes do tempo da Quaresma. Retornaremos ao tempo comum daqui a 3 meses, após a Solenidade de Pentecostes. Celebramos neste final de semana o sétimo (VII) Domingo do Tempo Comum e nos reuniremos para a santa Eucaristia dominical, na qual encontramos o Ressuscitado, alimentamo-nos da sua Palavra e nutrimo-nos do seu Corpo sagrado. Ele está conosco, Ele nos fala, Ele se dá a nós, totalmente! Ouvir o Senhor, alimentar-se dele significa abrir-se para ele porque nele cremos.
A ideia aparece na segunda leitura deste domingo (cf. 1Cor 3,16-23): São Paulo nos convida ter plena consciência de que não nos pertencemos: “Irmãos, acaso não sabeis que sois santuário de Deus e que o Espírito de Deus mora em vós?” (cf. 1Cor 3,16) Somos santuário de Deus, isto é, somos templo, morada do seu Santo Espírito, aquele Espírito que Jesus morto e ressuscitado derramou em nossos corações desde o nosso batismo. Então, como poderíamos viver do nosso jeito? Como poderíamos seguir a lógica do mundo atual? Como poderíamos abraçar a louca e tola sabedoria do mundo atual? Que palavras claras e escandalosas as do Apóstolo: “Ninguém se iluda: se algum de vós pensa que é sábio nas coisas deste mundo, reconheça sua insensatez para se tornar sábio de verdade; pois a sabedoria deste mundo é insensatez diante de Deus!” .
A Palavra de Jesus no Evangelho dominical (Cf. Evangelho de Mt 5, 38-48) convida-nos a amar a todos, sem nenhuma discriminação, pois assim seremos perfeitos como o Pai Celeste é perfeito. O Senhor nos convida a sermos santos como Ele é santo! A santidade a que somos chamados consiste em fazer a vontade de Deus nosso Pai, que ama a todos, sem distinção. Diz-nos São Paulo: “Esta é a vontade de Deus: a vossa santificação” (cf. 1Ts 4, 3). Jesus nos convida a viver a caridade para além dos critérios humanos.
“Aquele que te fere na face direita, oferece-lhe também a esquerda” (cf. Mt 5, 39). Diante da lei do talião Jesus Cristo estabelece novas bases – o amor, o perdão das ofensas, a superação do orgulho – sobre os quais os homens hão de atender a uma defesa razoável dos seus direitos. A pessoa pode defender-se e exigir-se que se faça justiça. Mas em todo esse processo ela é chamada a praticar a mansidão, a não usar de violência e a buscar o bem da pessoa que a prejudicou.
Ensina Jesus: “Amai os vossos inimigos, rezai por aqueles que vos perseguem e caluniam” (cf. Mt 5, 44). Devemos também viver a caridade com aqueles que nos tratam mal, que nos difamam e roubam a honra, que procuram positivamente prejudicar-nos. O Senhor deu-nos exemplo disso na Cruz, e os discípulos seguiram o mesmo caminho do Mestre. Ele nos ensinou a não ter inimigos pessoais – como o testemunharam heroicamente os santos de todas as épocas – e a considerar o pecado como o único mal verdadeiro.
Se pensarmos bem, é a uma atitude assim que a Palavra de Deus hoje nos convida. O Senhor Deus nos diz: “Sede santos, porque eu, o Senhor vosso Deus, sou santo” (cf. Lv 19,2); depois, no Evangelho, insiste: “Sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito!” Em outras palavras: Sede como o vosso Deus, deixai-vos invadir por ele, transformar por ele! Deixai que ele seja o lastro, o alicerce, o fundamento, o rumo da vossa vida! Crer nele e deixar-se invadir por ele e ir assumindo seus sentimentos, seus pensamentos, seus desígnios.
Em outras palavras: Sede como o vosso Deus, deixai-vos invadir por Ele, transformar por Ele! Deixai que Ele seja o lastro, o alicerce, o fundamento, o rumo da vossa vida! Crer n’Ele e deixar-se invadir por Ele e ir assumindo Seus sentimentos, Seus pensamentos, Seus desígnios. A primeira leitura deste domingo afirma: “Eu sou o Senhor!” (cf. Lv 19,18). Se eu sou o Senhor para vós, sede santos como eu, tende um coração como o meu: não guardes ódio no coração, não te vingues, repreende o teu próximo com bom coração, ama de verdade o próximo como a ti mesmo!
Amor a quem? Aos inimigos? Sim. Aos que nos odeiam e aos que nos maltratam, aos que nos perseguem e aos que falam mal de nós, nem excluímos os que difamam a Igreja e os que injuriam os ministros de Deus. Também os insensatos que afirmam disparates contra a fé e os bons costumes tentando corromper a família, a juventude e as crianças, devem ser objetos do nosso amor que perdoa. Enfim, todos os que nos consideram inimigos – nós, ao contrário, não somos inimigos de ninguém – se sintam amados e perdoados por nós. O amor de Cristo não conhece fronteiras e nós, seus discípulos, também devemos desconhecê-las.
Graças sejam dadas ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo que quis difundir o amor que há entre eles às suas criaturas inteligentes. É verdade, Deus foi crucificado por amar. É verdade, talvez sejamos crucificados por amar. Mas continuemos a ouvir a voz que vem desde o Antigo Testamento: “Sede Santos, porque eu, o Senhor vosso Deus, sou santo” (Lv 19, 2). No Evangelho deste documento vai ressoar com muita clareza: “Sede perfeitos como o vosso Pai Celeste é perfeito” (Mt, 5, 48). É esse o caminho que o Senhor nos aponta nestes tempos turbulentos de mudança de época.