São Sebastião, discípulo do amor e da caridade

    A cidade do Rio de Janeiro celebrou, com gáudio, o seu padroeiro São Sebastião, na segunda-feira, dia 20 de janeiro. Foi um dia de grande alegria em nossa cidade. Além disso, abrimos o Ano da Caridade arquidiocesano, que nos prepara para os 450 anos da cidade maravilhosa em 2015. Agradeço o empenho de todos os que nos proporcionaram a bela celebração do dia do padroeiro da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Foram belas todas as manifestações!

    O Ano da Caridade aberto nesse dia deve ser um tempo oportuno para diversas atividades que contribuam para a elevação integral do homem. Mais do que ser movido por mero humanismo, o cristão sente-se tocado por Deus e por Ele impelido a responder com generosidade o amor que recebe gratuitamente. Quem se reconhece amado por Deus se vê na obrigação de transmitir esse dom, e é isso que marca o legítimo amor: a vontade de difundir-se.

    Mas volvemos nosso olhar sobre nosso excelso Padroeiro que, com a sua imagem missionária e peregrina, réplica da imagem trazida pelos portugueses quando da fundação da cidade, nos faz reviver a nossa vida pelo itinerário do seu martírio, para que interceda por nós para sermos firmes na fé em meio às “flechadas da vida” que sofremos a cada dia.

    A família de São Sebastião, quando ele ainda era pequeno, mudou-se da França para a cidade de Milão, bem mais próxima de Roma, que era a capital do Império. Ali morreu o seu pai, ficando o menino entregue aos cuidados maternos. A sua mãe era cristã, e isto não era tão comum naquela época, lá pelo final do século II. Os cristãos eram perseguidos como inimigos do Estado pelo fato de não adorarem os deuses pagãos. Todos os que adotassem essa nova religião seriam aprisionados e lhes eram confiscados os seus bens e mortos. A mãe de Sebastião, sendo cristã, transmitiu ao filho o dom da fé cristã.  A fé da família de São Sebastião é uma fé viva e verdadeira, que o comprometeu em tudo e, particularmente, com o próximo.

    Os cristãos foram perseguidos inclementemente na capital do Império Romano. Por isso, Sebastião transferiu a sua residência para Roma para que, como soldado fiel e corajoso, pudesse ajudar os seus irmãos batizados cristãos que eram vítimas da perseguição imperial.

    No início do século IV foi ordenado pelo Imperador Diocleciano o seguinte decreto romano: “Sejam invadidas e demolidas todas as Igrejas! Sejam aprisionados todos os cristãos! Corte-se a cabeça de quem se reunir para celebrar o culto! Sejam torturados os suspeitos de serem cristãos! Queimem-se os livros sagrados em praça pública! Os bens da Igreja sejam confiscados e vendidos em leilão!”

    Essa perseguição atroz ocorreu por três anos ininterruptos. São Sebastião, já em Roma, foi promovido a oficial, e o Imperador Diocleciano nomeou-o comandante dos pretorianos, os guarda-pessoais do Imperador, em vista da personalidade do jovem soldado.

    Para o cristão, qualquer tempo é tempo de provação e de tentação. Em todo tempo, porém, é preciso perseverança na virtude da fé. Nesse tempo de perseguição, São Sebastião trabalhava na corte. Era um cristão que ajudava os demais mesmo com o alto cargo que ocupava, mesmo sabendo que isso poderia comprometer sua carreira e sua vida. Cumpria sua missão: encorajava seus irmãos na fé e na perseverança, especialmente os mais tímidos e vacilantes, merecendo, com isso, o título de “auxílio dos cristãos”.

    São Sebastião visitava os cárceres, consolando aqueles seus irmãos que estavam presos e seriam martirizados por ódio da fé. Sendo chefe da guarda imperial, tinha livre acesso de entradas e saídas sem maiores complicações. E muitos dos que ouviam suas palavras se convertiam. Foi numa dessas visitas a presos que o carcereiro e sua mulher, alguns parentes dos presos e demais funcionários da prisão assumiram a fé cristã ao ouvirem suas convincentes palavras e seu intrépido exemplo apostólico de coragem de anunciar o Evangelho em um ambiente hostil. É um grande exemplo para nós que muitas vezes temos ambientes hostis contra a Igreja e o cristianismo ao nosso redor.

    São Sebastião não ocultava sua fé, e, por ter se tornado luz que ilumina a todos, passou a ser mais conhecido como cristão. E um dia alguém o denunciou ao prefeito por ser cristão. O imperador também foi notificado e recebeu todas as informações. Deixar Sebastião em liberdade representava um grave “perigo” para a cidade inteira. Então, mandou que o chamasse para ouvir dele próprio a confirmação.

    São Sebastião, revestido da cintilante couraça e ostentando todas as insígnias merecidas, se apresenta diante do Imperador Diocleciano, que o interroga. Diante dos presentes estupefatos, confessa sua fé e diz resolutamente ser cristão. O Imperador logo o acusa de traidor. Sebastião lembra que esta acusação é uma absurda mentira, pois até agora tem cumprido fielmente seu dever para com a Pátria, e o Imperador protegendo-lhe a vida em muitas circunstâncias. A condenação foi imediata. O Imperador ordenou que amarrassem o soldado cristão a uma árvore, num bosque dedicado ao deus Apolo, e que o crivassem de flechas, mas não atingissem seus órgãos vitais, para que morresse lentamente. Assim foi feito! Com a perda de sangue e a quantidade de feridas, Sebastião desmaiou, já era tarde! Julgando-o morto, os flecheiros retiraram-se. Ele não morreu nessa ocasião e foi socorrido pelos cristãos que foram buscar o seu corpo, sendo atribuído a ajuda a Santa Irene, que o levou para casa.

    No dia 20 de janeiro, em uma audiência pública que o Imperador concedia, São Sebastião, com toda a dignidade que sempre o distinguiu, e cheio do Espírito Santo, apresentou-se diante do Imperador e, destemidamente, reprovou-lhe o comportamento em relação à Igreja. Reprovou-lhe as injustiças, a falta de liberdade e a perseguição aos cristãos. O Imperador ficou estarrecido ao reconhecer naquela pálida figura a pessoa de seu antigo oficial, que julgava morto. Tomado de ódio, ordenou aos guardas que o executassem ali, em sua presença e na presença de todos. Ele mesmo queria ter a certeza de sua morte. Nosso padroeiro foi morto a cacetadas pelos guardas do Imperador. E para que seu corpo não fosse cultuado, mandou jogar nos esgotos de Roma. Aí, outra santa mulher, Luciana, retirou e o sepultou onde estão hoje as catacumbas de São Sebastião, em Roma.

    São Sebastião trilhou o seu itinerário cristão pela via do martírio. Com isso, nos ajuda a entender que na nossa vida o que realmente vale é o viver para o Cristo. Por isso, a caridade deve ser vivenciada pelos seguidores de São Sebastião. Por amor a Deus e à Igreja, São Sebastião imolou a sua vida e defendeu a fé cristã.

    Ele foi invocado na conquista desta cidade na chamada “batalha das canoas”, mas, hoje, sem dúvida temos outras batalhas a serem enfrentadas e para as quais pedimos a intercessão do nosso padroeiro. Diante da imagem dele recordamos tantas flechas que recebemos: transporte, saúde, educação, moradia, lazer, violência, insegurança, liberdade, intolerâncias e tantas outras! É a ele que nós nos dirigimos para confiar, uma vez mais, a sua cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro.

    A fama em Roma foi a sua proteção contra a peste, mas, quais são as pestes de hoje? Creio que uma grande peste do mundo moderno são as drogas e os entorpecentes que geram a violência, o poder paralelo, a desagregação familiar.

    Invocado também contra a fome, embora tenhamos muitos problemas de alimentação no mundo qual seria a principal fome do dia de hoje? Em primeiro lugar, da Palavra de Deus e dos sacramentos, infelizmente muitas vezes deixados de lado na educação das famílias. Devemos lutar pela inclusão social e pelo emprego. Dar de comer ao outro é importante. Mas o fundamental é criar postos de empregos para que a juventude tenha acesso ao mercado de trabalho.

    Protetor contra as guerras: qual seria a guerra de hoje? A guerra é a guerrilha urbana, a insegurança e não tratar o outro como irmão.  Infelizmente as pessoas querem tirar proveito de tudo e de todos. Somos chamados a amar o próximo concretamente.

    Tenhamos, pois, a convicção de que como batizados somos chamados a morrer como São Sebastião, para dar o exemplo da virtude cristã do seguimento radical de Nosso Senhor Jesus Cristo. E, como cristãos, devemos nos preocupar com as pequenas coisas e gestos na vida do irmão, do necessitado, do ancião, do desempregado e de todos aqueles e aquelas que precisam da excelsa proteção de Deus, pela intrépida intercessão do Mártir Guerreiro!

    São Sebastião, ensina-nos a viver a caridade, a acolher o outro e a dar a vida por Cristo, com Cristo e em Cristo, Amém!