Ocupados que estamos em administrar posses, investimentos, nossos confusos relacionamentos pessoais, a saúde de nossos pets, os comprovantes dos pixs recebidos, os horários no salão ou na academia, eventualmente para poucos a mensalidade escolar do filho ou da filha, bem como as referências do asilo para nossos idosos, deixamos de lado as questões religiosas, a prática e o aprofundamento nestas. Cristo, no mundo de hoje, tornou-se um ilustre desconhecido para grande maioria. Um mito, um personagem do passado, que só a história relembra e cuja vida foi tão bela quando a de muitas fadas, duendes, papai-noel ou saci-pererê. Foi. Não mais faz sentido. Quando muito, serve para disciplinar crianças endiabradas, metendo-lhes a ideia de céu e inferno. Esse é o Cristo dos tempos modernos.
Felizmente há exceções. Quando o próprio Jesus resolveu fazer uma enquete entre aqueles que o seguiam, para avaliar a ideia que faziam a respeito dele, obteve respostas confusas e sem sentido. Disseram ser ele o espectro de precursor degolado, o Batista de volta às suas atividades , ou até mesmo Elias que a história diz ter sumido desse mundo montado em uma carruagem de fogo, ou Jeremias, o profeta ferido e abandonado qual vaso de argila inservível na mão do oleiro, mas que provou ser útil nas mãos de Deus, ou mesmo qualquer outro profeta dos quais a Palavra e as promessas da Salvação estavam repletas. Tudo, menos Ele próprio, o Messias! E essa verdade só foi ser ouvida da boca do mais rude e velho pescador ali presente: “Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo!” Quem soprou nos ouvidos do velho Simão Pedro essa verdade tão profunda e enigmática? Em poucas palavras, aqui está a revelação do mistério cristão, para o qual o mundo de hoje faz vista grossa, não entende, não quer compreender, mergulhar nessa verdade reveladora, consoladora. Um Cristo que na língua grega significava “o ungido”, o redentor escolhido, o salvador e no hebraico era simplesmente o Messias, aquele que haveria de vir para libertar seu povo dos grilhões da escravidão. O Filho de Deus soava quase a uma blasfêmia – e para muitos exegetas contrários aos mistérios da fé cristã continua sendo a mais vil das blasfêmias contra a grandeza de Deus. Mas Pedro acrescenta a essa definição uma palavra reveladora: vivo! Sim, um Cristo Vivo, presente no meio de nós, caminhando, desvendando os mistérios do caminho, se revelando, abrindo trilhas e orientando seu povo… Esse era o Cristo de Pedro, ali, em carne e osso, a encantar e arrebanhar um povo desesperançado.
Nada mudou, desde então! Ao contrário, cresceu em solidez e resistência às oposições mundanas. Levantou novas paredes sobre novo alicerce e se tornou o maior dos Tabernáculos que um dia o povo israelita possa ter construído, desde aquele que edificaram no deserto. Tornou-se Igreja, pedra viva, templo santo que hoje renova as esperanças dos seus seguidores, mesmo que esse templo se reduza ao simples sacrário de um coração humano aberto aos mistérios de Deus. Sobre essa pedra está seu povo, sua Igreja no mundo! Contra ela atentam as borrascas do secularismo, a ironia dos materialistas, a indiferença dos incrédulos, mas perdura sempre a Verdade de uma Revelação: “as portas do Inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16,18). Se você sentiu um arrepio de frio e desolação perpassando suas vertebras neste momento, não se assuste. Ainda há tempo de procurar abrigo à sombra daquele que revestiu de autoridade o pastor-chefe de sua Igreja. E lhe deu a chave do Reino!