Que queres de mim?

    Nascemos e crescemos ao sabor das descobertas. Desde criança, os olhares atentos e os ouvidos ligados a qualquer movimento, barulho ou ação são as antenas do aprendizado. Observem qualquer criança. Estão sempre em sintonia com tudo que acontece ao redor delas. Por isso dizemos que a infância é a idade das descobertas, de preparo às grandes navegações que o futuro nos reserva, de juntar forças, criar condições, enrijecer corpo e alma para a grande aventura da vida.
    Vem o momento, no entanto, de nos depararmos com as encruzilhadas. Nelas encontramos as cobranças que o livre arbítrio nos faz. E agora? Qual o melhor caminho? Diria serem estas as maiores provações do discernimento vocacional, que todos somos obrigados a fazer um dia. No plano terreno, a tendência é optarmos pela via do sucesso, do retorno imediato, dos benefícios e regalias que determinada opção profissional possa nos proporcionar. Já no plano espiritual ou mesmo psicológico, nossas escolhas exigem discernimentos maiores.  Vem, pois, a pergunta crucial: Senhor, que queres que eu faça?
    Aqui não importa qual seja nossa opção ou visão que possuímos de uma situação mística. Mesmo os que se dizem ateus buscam respostas. O que Deus (ou a força que governa nosso existir) quer de nós? Porque estamos aqui? Ou, repetindo o tripé das questões mais que originais na história humana: Por que, para quê e para onde?
    A resposta sempre exige uma sondagem interior. Nessa busca, queira ou não, Deus sempre estará presente. A mística humana não renega a si mesma. Ela é latente à vida. Está embutida em nossa razão de ser, de existir. É esse o grande questionamento do animal pensante que somos, que sonda sua própria origem perante o Universo, explora estrelas e constelações, conhece sua insignificância, descobre-se um nada diante dos mistérios que rondam sua existência e formula a primeira grande questão da vida: Por quê?
    Então se aventura um pouco mais, deixando de lado o campo da lógica, do tangível, do mensurável, para explorar os mistérios da própria alma. É o começo de uma solução mais lógica. Há de ter uma razão para nossas vidas. Não surgimos do nada; nunca é palavra incompatível com seu tempo, pois só o fato de existir, de apalpar-se, de sentir, contemplar ou mesmo se questionar nos prova a razão e o objetivo de aqui estarmos. E não há outra resposta senão a aceitação de uma missão, uma razão além das razões biológicas. Aqui a pergunta não deixa margens para respostas vazias de significados ou fugas da realidade que nos cerca. Qual a razão, a motivação da nossa existência? Para quê?
    Eis que a resposta nos devolve à lógica da vontade criadora… A razão de nosso existir está na motivação da força que nos criou. Ela nos envia ao mundo como instrumentos de um projeto maior, com metas claras e objetivas, a serem aprimorados. Para onde vamos? Foi essa a grande pergunta dos maiores profetas da nossa fé. Continua sendo a grande questão vocacional daqueles que descobrem seu peso encarnado numa resposta mais que coerente: “Aqui estou, Senhor, envia-me”… Não há espaços para insegurança na descoberta do profeta diante da missão que lhe era confiada. A descoberta do projeto divino para sua própria vida tinha uma motivação mais que especial. “Eu, o Senhor, chamei-te realmente, eu te segurei pela mão, eu te formei e designei para seres a aliança com os povos, a luz das nações” (Is 42, 6). Essa é a vocação do homem de Deus. Esse é o caminho, razão e motivação dos que acreditam que a vida não é um simples passeio, uma passagem sem maiores significações. Porque vocação é chamado, mas também resposta. É escolha, mas também privilégio. É seleção, eleição. Portanto, ousamos perguntar: Senhor, que queres de nós?