Purificar nosso olhar e nosso falar!

    Nem sempre o caminho é claro ao longo da viagem da vida. Ao longo do percurso, recebemos indicações, sugestões, orientações, propostas. Como discernir as indicações boas das indicações más, as que nos dão pistas certas e as que nos lançam por caminhos sem saída? Todos os que se apresentam como “guias” são dignos da nossa confiança? A Palavra de Deus que a liturgia deste 8º. Domingo do Tempo Comum nos propõe convida-nos a refletir sobre isto.

    No Evangelho Jesus põe os seus discípulos de sobreaviso contra os “guias cegos”, arrogantes e prepotentes, sedentos de protagonismo, cujo interesse está nos seus projetos pessoais e não no bem dos seus irmãos. Os caminhos que eles apontam não levam à vida. Os discípulos poderão detectar esses “falsos mestres” pelas suas ações e pelas suas palavras, que acabam por revelar os interesses inconfessáveis que escondem no coração. Se as propostas que nos apresentam não estão em linha com as propostas de Jesus, esses “guias” não devem ser escutados.

    A primeira leitura, na mesma linha, oferece-nos um conselho muito prático, mas também muito sábio: não julguemos as pessoas pela primeira impressão, pela forma como se apresentam ou pelas atitudes mais ou menos exuberantes que exibem: deixemo-las falar, escutemos o que dizem, pois as palavras revelam, mais tarde ou mais cedo, a verdade ou a mentira que há em cada coração. As palavras revelam o interior de cada um; e ainda que possam enganar, os frutos não enganam. O melhor modo de conhecer alguém é confrontar suas palavras com suas ações e os respectivos frutos. A imagem da peneira indica que é na provação que se percebe a medida da integridade da pessoa.

    A segunda leitura traz-nos a conclusão de uma catequese de Paulo de Tarso sobre a ressurreição dos mortos. É uma temática substancialmente diferente da que aparece nas outras duas leituras deste domingo. Podemos, no entanto, dizer que a ressurreição, a vida plena, é a meta final do caminho para aqueles que se deixam guiar por Jesus e que vivem de acordo com o seu Evangelho. A leitura proclama a vitória final da vida, que vence todos os obstáculos, até a morte. A fé na ressureição nos leva a viver, desde agora, a vida nova. Trata-se do processo que conduz da mortalidade para a imortalidade.

    A liturgia deste domingo nos convida a purificar o olhar (Lc 6,41). Não poucos se queixam do que não funciona na Igreja e na sociedade, em geral sem se comprometerem. Olhar assim é olhar cego, e quem o possui não tem como ser guia dos outros (Lc 6,39). O percurso da purificação do olhar se inicia quando temos a coragem de sondar dentro de nós próprios e lá verificar quais são nossos defeitos. Só depois disso, com humildade, podemos olhar para os outros – como faz Jesus, que vê primeiro o bem nas pessoas. Nosso desafio é aprender com Jesus e, a seu exemplo, ter um olhar de cuidado e compaixão.

    Em seguida, depois de purificar o olhar, devemos purificar o falar(Lc 6,45). Nosso modo de falar manifesta o que está em nosso coração. As palavras têm o peso de abençoar ou de agredir e destruir – sobretudo neste mundo digital. No trato, com o próximo, costumamos usar palavras de respeito e de compaixão ou palavras propagadoras de veneno destrutivo?

    A sociedade nova, anunciada por Jesus e assumida pelos que desejam segui-Lo, não pode ser de julgamento e de condenação, mas sim de acolhida e de perdão. Observa-se, infelizmente, que até nas fileiras eclesiásticas e dentro do mundo da Igreja há uma necessidade permanente de dar satisfações, do chamado politicamente correto, que não dá direito de defesa a falsas acusações que querem, via de regra, apenas aniquilar e destruir os outros e jamais recuperá-lo. Esta dimensão da condenação prévia, vai contra o Evangelho. Todos, absolutamente todos, têm direito de defesa e de viverem o itinerário de conversão, se porventura, tiverem caído em pecado.

    Só no diálogo, no perdão, no respeito mútuo, viveremos a purificar do olhar e do falar porque “a boca fala do que o coração está cheio!”.

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