Quem não os têm? Quem nunca deixou de lado um sonho, uma ideia, um projeto de vida meticulosamente trabalhado, imaginado, elaborado numa prancheta bem cuidada? Mas condições adversas, falta de tempo, de recursos ou mesmo incapacidades físicas ou circunstanciais, nos levaram a abandonar aquele projeto outrora ambicionado. Nossa mente constrói palácios voadores. A maioria de nossos projetos de vida se esvaem à menor brisa de adversidades. Somos assaz inconstantes em nossas realizações e metas. Então somos obrigados a ouvir: “Este homem começou a construir e não foi capaz de acabar” (Lc 14, 30). Essa parábola nos serve a todos.
A inconstância humana é o tema aqui abordado. Se a maioria das vezes não levamos a bom termo um propósito de vida é porque nossos projetos estão além de nossas capacidades de realizações. Sonhamos alto. Imaginamos sempre que vitórias e conquistas sejam o auge de uma realização pessoal, mas rejeitamos o caminho estreito, as lutas e batalhas, suores e sacrifícios para se chegar até o clímax desejado. Assim, muitos dos nossos ideais ficam pelo caminho. Assim Cristo nos apresenta as condições para seu discipulado, seu seguimento pelo caminho estreito da cruz e das renúncias pessoais. “Quem não carrega sua cruz e não caminha atrás de mim não pode ser meu discípulo” (Lc 14, 27). A linguagem figurada e extremamente dura desse discurso nos impõe disciplina e objetividade. É isso o que nos falta em muitos dos nossos projetos.
Vivemos um mundo de facilidades. Tudo hoje se nos é apresentado de forma triturada, pré-cozida, temperada e quase pronta pelas facilidades criativas dum mundo consumista. Assim pouco temos a fazer, além de nossa contribuição circunstancial no processo lucrativo da sociedade, essa massa de manobra voltada para os interesses dos poderes constituídos. Poderes como os de uma Nação, independente hoje, escrava amanhã, ou vice-versa, que mantem sua aparente soberania às custas da sanha política daqueles que a governam. Nossa liberdade é transitória. Depende do ponto de vista daqueles que escrevem a história. E história não se escreve só com papel e caneta, mas com a vida, com suor e sangue… Do ponto de vista dos algozes de Cristo, por exemplo, sua morte era a extinção de uma ameaça aos poderes da época. Do ponto de vista do povo, princípio de vida nova, ressurreição! E custou-nos compreender isso tudo.
Então, viva nossa Independência! Não aquela que destruiu laços familiares e nacionalistas apenas para estancar a sangria de nossas riquezas territoriais. Viva nossa independência mais sagrada, que ainda nos permite cultuar a fé num Cristo vivo, libertador, redentor. Aquele que nos ensina a buscar, por primeiro, as coisas do Alto, que nos induz a um projeto de vida de renúncias e sacrifícios em favor de um Mundo Novo, uma Nação Soberana, livre das tretas e artimanhas dos Demônios que hoje nos assaltam. Não defendo aqui nenhum jogo político em curso, mas o seguimento puro e simples Daquele que fez escola entre nós, que nos ensinou serem nossos projetos passíveis de frustrações se não houver a purificação da cruz, a passagem estreita mas vitoriosa pela morte dos interesses pessoais em função dos interesses coletivos. As hipérboles usadas por Cristo realçam a necessidade de uma opção mais radical, não pelos projetos factíveis e ilusórios de uma liberdade terrena, mas também e principalmente pela fé e esperança que alimenta a vida do nosso povo. Esta merece respeito. Por esta exigimos liberdade. Independência ou a vida… pelo Deus que nos uniu como povo!