Sexto Domingo da Páscoa
Para bem compreender esta Palavra de Deus que será proclamada neste 6º. Domingo da Páscoa é necessário recordar o Evangelho de Domingo passado. Estamos ainda no capítulo 15 de São João: aí Jesus revelou-se como a videira verdadeira, cujo agricultor é o Pai e cujos ramos somos nós. Eis, caríssimos: estamos enxertados no Cristo morto e ressuscitado; somos ramos seus, vivendo da sua seiva que é o Espírito Santo, “Senhor que dá a vida”, Espírito de amor derramado em nossos corações (Rm 5,5). Porque temos o Espírito do Cristo, vivemos do Cristo e, no Espírito, o próprio Cristo Jesus habita em nós e nos vivifica. Recordando essas coisas, podemos compreender o que o Senhor nos fala nesta sagrada liturgia.
Neste 6º. Domingo Pascal o Senhor na liturgia nos fala do Amor. “Como o Pai me amou, assim também eu vos amei. Permanecei no meu amor”. Caríssimos em Cristo, de que amor o Senhor nos fala aqui? De um sentimento, de um afeto, de uma simpatia, de uma amizade? Não! De que amor? Escutemos São Paulo: “O amor de Deus foi derramado nos nossos corações pelo Espírito que nos foi dado” (Rm 5,5). O amor de que fala Jesus é o amor-caridade, o amor de Deus, o amor que é fruto da presença do Espírito de amor, o Espírito Santo. Guardemos no coração: na Escritura, falar de amor, de glória, de presença e de poder de Deus é falar do Espírito Santo! Pois, podemos agora compreender a profunda afirmação de Jesus: “Como o Pai me amou, assim também eu vos amei”.
Como o Pai amou o Filho? No Espírito de amor! Desde a eternidade, o Santo Espírito é o laço, o vínculo de amor que une o Pai e o Filho numa única e indissolúvel divindade. Na sua vida humana, Jesus foi sempre amado pelo Pai no Santo Espírito. Basta recordar quando o Pai derrama sobre ele o Espírito, no Jordão, exclamando: “Este é o meu Filho amado, em quem eu me comprazo” (Mt 3,17). Eis: o Pai declara o seu infinito amor pelo Filho, derramando sobre ele, feito homem, seu Espírito de amor. Jesus é o Filho amado porque nele repousa o Amor-Deus Espírito Santo! Pois bem, escutemos: “Como o Pai me amou no Espírito, eu também vos amei! Dei-vos o meu Espírito de Amor, que agora habita em vós! Permanecei no meu amor, isto é, deixai-vos guiar pelo meu Espírito, vivei no meu Espírito!” Vede, irmãos, como agora tudo tem sentido, como as palavras de Jesus são profundas! Vede como tudo isso é verdadeiro! Escutai ainda uma palavra da Escritura: “Nisto reconhecemos que permanecemos nele e ele em nós: ele nos deu o seu Espírito!” (1Jo 4,13).
O Apóstolo e Evangelista São João tem uma das mais profundas e completas definições de Deus: “Deus é amor” (1 Jo 4,7-10). Abre nossos olhos para a presença de Deus, sob dois aspectos: o amor que se revela na doação de Cristo por nós e o amor que devemos praticar para com os filhos de Deus, sendo que o primeiro é modelo e fundamento do segundo. Se Deus é o amor, o amor deve estar presente na vida dos filhos de Deus. Em Jo 15, 9-17 Jesus mostra aos discípulos o caminho a percorrer: Testemunhar o amor de Deus no meio dos homens. Trata-se de um discurso de despedida, na última ceia. É o último discurso de Jesus, aos discípulos, antes de ser preso. São as últimas recomendações aos seus amigos, antes de partir.
Refere-se à relação de Jesus com os discípulos e à missão que os discípulos serão chamados a desempenhar no mundo. A relação do Pai com Jesus é modelo da relação de Jesus com os discípulos. O Pai amou Jesus e demonstrou-lhe sempre o seu amor; e Jesus correspondeu ao amor do Pai, cumprindo os seus mandamentos. A certeza de que Deus nos ama é a raiz da alegria e do gozo cristão, mas ao mesmo tempo exige a nossa correspondência fiel, que deve traduzir-se num desejo fervoroso de cumprir a Vontade de Deus em tudo, isto é, os seus mandamentos, à imitação de Jesus Cristo que cumpriu a vontade do Pai (Jo 4,34).
O mandamento do amor é a raiz de toda vida cristã. “Já não vos chamo servos, mas amigos…” Amigo é muito mais de que um servo, um colaborador, é um confidente, com o qual existe uma comunhão de vida, de planos e ideais. “Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi”. Três ideias estão contidas nestas palavras do Senhor! Uma, que o chamamento aos Apóstolos e também a todo o cristão não provém de bons desejos, mas da escolha gratuita de Cristo. Não foram os Apóstolos que escolheram o Senhor como Mestre, segundo o costume judaico de escolher para si um rabino, mas foi Cristo quem os escolheu. A segunda ideia é que a missão dos Apóstolos e de todo o cristão consiste em seguir Cristo, buscar a santidade e contribuir para a propagação do Evangelho. O terceiro ensinamento refere-se à eficácia da súplica feita em nome de Cristo; por isso a Igreja costuma terminar as orações da Liturgia com a invocação “por Jesus Cristo Nosso Senhor”.
A Palavra de Deus deste domingo nos aponta para Pentecostes, daqui a quinze dias… Prestai atenção como o fruto da morte e ressurreição de Jesus é o Dom do seu Espírito, que permanece conosco e torna Jesus presente a nós, vivo e vivificante.