Passarão o céu e a terra

    Ao falar sobre o fim do mundo Jesus lançou a célebre sentença: “Passarão o céu e a terra, mas minhas palavras não passarão” (Mc 13,24-32). Ele deixou evidente seu retorno “sobre as nuvens, com muita potência e glória”. Esta sua vinda marcará o fim da história. Este acontecimento deve ser esperado e preparado. Esta verdade está sintetizada no Símbolo niceno-constantinopolitano: “Espero a ressurreição dos mortos e a vida do mundo que a de vir”. Entre as dicas lançadas por Cristo está a convulsão universal que se dará, o surgimento dos anjos que reunirão os eleitos para a glória eterna, ou seja, aqueles que foram seus fiéis seguidores. Por certo uma multidão imensa de todos os países e de todos os tempos. Não se dará uma catástrofe, mas a realização do plano de Deus, quando surgirá a humanidade nova, instante em que, ressuscitados os mortos, o ser humano com seu corpo glorioso e com sua alma que já passara pelo juízo particular verá a glória do Senhor. Os dois aspectos escatológicos, o messiânico e o cósmico, estão entrelaçados entre si. A comparação que Jesus fez com a figueira é então sumamente sugestiva. De fato o projeto criador terá chegado ao seu ápice com o nascimento do homem novo, fruto opimo do processo criativo desenvolvido através das gerações. Será o instante da maturidade. O Profeta Daniel já a havia prenunciado: “Os sábios resplandecerão como o fulgor do firmamento, e os que tiverem ensinado a muitos para a justiça, serão como estrelas para sempre, eternamente” (Dn 12,3). Seus nomes estavam registrados no Livro da Vida. Jesus voltará porque com Ele e nele foi que todo o projeto de amor e salvação de Deus se iniciou e solenemente se completará. Eis por que para o discípulo de Cristo o pensamento do fim do mundo não o envolve em pavor. O cristão, realmente, espera esta ocorrência na prece e na alegria. Assim como a morte não é o fim da vida, mas uma entrada em plenitude na verdadeira Vida, o fim do mundo não será um retorno da humanidade ao nada ou um simples fim de uma civilização. Será a apoteótica vitória de bem, quando as promessas de um Deus fiel se cumprirão nos novo céu e na nova terra (Ap 21,1). Toda a fecundidade da Igreja fugirá em milhares de seres humanos que corresponderam aos desígnios salvíficos de Deus. Raiarão a vitória do Criador e o triunfo daqueles que não sucumbiram ao mal. Este triunfo foi preparado na história pessoal daquele que compreendeu o que significaram os sofrimentos e as lutas numa terra de exílio por onde passaram. Foram sustentados pela fé, viveram no amor fraterno e sempre moraram na casa da esperança. Sempre estiveram em contato com Jesus presente na Eucaristia, penhor da glória eterna. Rezaram centenas de vezes pedindo que o reino do Pai viesse e que Sua vontade fosse continuamente feita e agora contemplarão a concretização destes desejos sublimes. Tudo então consumado na grande glória do Senhor Onipotente com o qual reinarão por todo sempre. Assim sendo, outro grande ensinamento que flui deste fato inexorável, que será o fim dos tempos, é a necessidade da constância na observância dos mandamentos. Jesus foi claro: “É pela vossa perseverança que obtereis a vida” (Lc 21,19). Orientação breve, mas incisiva para se estar entre os eleitos no fim dos tempos. Esta firmeza fez parte da fortaleza com que cada terá enfrentado as batalhas rumo à eternidade, tendo suportando com ânimo as contradições, nunca cedendo ao desânimo. Quando soar o término da história universal, quem soube superar as dificuldades de um vale de lágrimas receberá o prêmio final de sua fidelidade a Deus. Nesta trajetória por este mundo esta lealdade é um mistério de adesão livre às graças divinas. Isto leva a uma permanente conversão que vai preparando a chegada ao Reino que há de vir. Uma atitude dinâmica que transporta para as paragens das virtudes e transforma divinizando o ser humano. É que a união com Deus se inicia neste mundo. O pensamento do final dos tempos vem assim lembrar que o movimento de redenção oferecida à humanidade exige uma adaptação da vida de cada um aos desígnios divinos. É o dever da colaboração rumo ao coração de um Deus-Amor que a todos quer acolher junto de si. Impera então a esperança, pois passarão o céu e a terra, mas as palavras, as promessas de Jesus não passarão.* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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