Nota-se na narrativa de São João como surgiram os primeiros apóstolos, numa sequencia de fatos que mostram como age o chamamento de Deus (Jo 1,35-42). Os verbos empregados são sumamente significativos. João Batista viu Jesus que passava e retrata outra vez sua identidade: “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”. Dois de seus epígonos olham para aquele personagem e penetram fundo na sentença misteriosa que escutam. Surgia então uma nova Aliança, porque alí estava o Cordeiro pascal da verdadeira regeneração humana. Ele seria imolado para reparar os pecados da humanidade, mas, vitorioso, triunfaria da morte, deletando o mal no mundo. Tanto isto era verdade que não duvidaram e logo se puseram a seguir Jesus, que lhes pergunta: “O que procurais”? A Ele, que já chamam de Mestre, respondem com outra inquirição: “Onde moras?”. Eis aí o itinerário de toda vocação dos cristãos através dos tempos. Jesus não se impõe, Ele passa na vida de cada um. Há, porém, sempre alguém a anunciar que Ele é o Messias, ou seja, os pais, os catequistas, os ministros da Palavra, enfim alguém possuído de uma fé profunda. Da parte dos dois discípulos houve tal correspondência à graça recebida que já não queriam mais se separar de Cristo e procuraram logo saber onde depois o poderiam encontrar. Não mais desejavam perdê-lo de vista, pois O queriam escutar e ter com Ele outros encontros que se tornassem repetidos, almejavam estar sempre com Ele. “Onde moras”? Este termo já indicava que Jesus passasse a morar em seus corações numa permanência que trás em si todo um processo de eternidade, isto é, sem interrupções numa relação de confiança e de amor. Foi o que aconteceu, mais tarde, com São Paulo e deveria ocorrer sempre com todo seguidor de Cristo: “Já não sou quem vive é Cristo quem vive em mim”. Eis aí a morada o Senhor, a vida, a alma de quem o segue. Em suas pregações Jesus explicou: “Como o Pai me amou também eu vos amei, permanecei no meu amor. Se observardes meus mandamentos permanecereis no meu amor, como eu, guardando os mandamentos de meu Pai, moro no seu amor”. A morada de Jesus, sua casa para o tempo e a eternidade é o amor do Pai. Quem compreende isto leva outros até o divino Salvador como aconteceu com André e João que logo arrastaram Pedro até o Mestre o qual, o olhando lhe trocou o nome: “Chamar-te-ás Cefas que significa pedra”, Pedro, André e João nunca mais deixaram Jesus. Como outrora a André e João, Cristo está a indagar de cada um de nós: “Que procurais”. Como aconteceu com estes seus primeiros discípulos Ele quer nos introduzir no mistério de sua Pessoa. Aspira fazer compreender sua palavra de vida, seu caminho, sua missão de servidor. Quando se penetra nesta aventura sublime, cada cristão se torna também intermediário a fim de trazer muitos para conhecê-lo, amar e seguir. É preciso levar aos outros a própria experiência espiritual. Ser apóstolo é receber e acolher as mensagens divinas e as transmitir ao próximo com empenho e entusiasmo. Quando a graça celeste age realmente num coração, ela tende a se transbordar em outras almas. Eis aí a trajetória da fé em derredor de quem viu, escutou e passou a acompanhar Jesus. Por entre os engajamentos, fruto dos conselhos oportunos, e, sobretudo, do testemunho de vida, há um ritmo por entre a multiplicidade das influências benéficas. O cristão deve ser sempre o portador da vida eterna. Ele não está isolado, mas percebe uma multidão em seu derredor sequiosa dos bens celestes, de paz, de serenidade. É a palavra verbal e não verbal que envolve na perene novidade da mensagem de Cristo, que conforta, anima e salva. Aí está o segredo da força das comunidades cristãs através de uma evangelização mútua, ininterrupta. Então muitos conhecem permanentemente o Cordeiro de Deus, porque quem se engajou no Redentor aspira conduzir outros a esta felicidade indizível. União com Cristo que se estende ao futuro duravelmente tendo todo o porvir iluminado. Uma vida verdadeiramente cristã que é uma proposição ante as ilusões terrenas e que se abre na interação com os irmãos e irmãs de fé, gerando uma extraordinária união. Cada um de nós é chamado a cooperar com Jesus para tornar o mundo melhor. A história do cristianismo é uma grande cadeia de pessoas reunidas em torno do mesmo ideal ajudando-se mutuamente numa caminhada de fé. Incalculável as repercussões positivas de todas as boas ações, de todos os valores bíblicos irradiados. É que o autêntico cristão é aquele ou aquela que pouco a pouco, mas sem cessar, passou a entender o Mestre divino e a adotar sua mentalidade. O cristão não pode ser um mero espectador, mas precisa, de fato, ser um colaborador na obra da evangelização como os primeiros discípulos.