É isso mesmo. Por mais estranho que o título lhe pareça, essa é a situação de muitos cristãos no mundo. Estão órfãos! E, o pior, por opção pessoal. Abandonaram a mãe que têm. Digo mais: cristão sem Maria não pode se dizer cristão, membro da família de Cristo. Portanto, não existe. Pronto: disse tudo o que estava entalado, que oprimia meu coração mariano. E, do outro lado, posso ouvir nitidamente: lá vem outro católico defender Maria. Que o digam, pois é isso mesmo!
Então, se você se arrisca em continuar nessa leitura, nada mais oportuno do que seguir uma narrativa bíblica. Está lá, em Lucas (1,39-56) e nos relata a visita de Maria a Isabel. Ocorre que a prima dileta de Maria estava grávida, já no sexto mês, apesar da idade avançada. Maria, menina ainda (alguns dizem ter ela mais ou menos 15, 16 anos), quase que num ato de confirmação do milagre que o anjo lhe anunciara, subiu às pressas as montanhas e seus olhos puderam ver o que seu coração já dizia: para Deus nada é impossível. De fato, o menino no ventre de Isabel pulou de alegria ao sentir a presença do primo que chegava. De fato, as palavras de alegria que selaram aquele encontro não poderiam ser outras: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre”. Mil vezes bendita, mil vezes bendito! A mãe do Senhor se dignou visitar a mãe do precursor, aquele que iria preparar os caminhos de um novo tempo, que iria realizar as promessas anunciadas pelo anjo e confirmadas também no ventre da idosa Isabel.
Então, a alegria transbordante de Maria não mais tem palavras que exprimam sua intensidade, sua gratidão pela confirmação do milagre. Maria, extasiada, não fala por si. Ao contrário, prostra-se diante da grandiosidade divina, e reza. Profere palavras bíblicas que bem conhece e que seu coração faz transbordar naquele instante. O magnificat espelha a magnificência de Deus e a magnitude do milagre que se opera em seu ventre: “Minha alma glorifica o Senhor”. Explode seu coração. Aos borbotões, Maria despeja vários Salmos que a alegria daquele momento tenta descrever com fidelidade. Até trechos do profeta Isaias são lembrados naquela oração porque seu Deus “olhou para a humildade de sua serva”, aquela que, desde então, seria proclamada “bem-aventurada por todas as gerações”, porque “sua misericórdia se estende sobre os que o temem”. Bendita mulher através da qual Deus manifestou “o poder de seu braço, derrubou dos tronos os poderosos, exaltou os humildes, saciou os indigentes e despediu os ricos de mãos vazias”. Bendita mulher a quem muitos hoje podem repetir a saudação da própria Isabel: “Donde me vem esta honra de vir a mim a mãe do meu Senhor?”
Se Maria não teve palavras para justificar ou mesmo explicar o tamanho do milagre que se operou em seu ventre, quem somos nós para não valorizar essa maternidade em nossas crenças? Se o próprio Cristo seguiu seus conselhos, cresceu “em graça e sabedoria” diante dela, pediu-lhe a bênção filial, beijou suas mãos com reverência, obedeceu às suas ordens, seremos melhores que Ele? Quão doce para Maria era ouvir Jesus a lhe chamar: “Mãe!” E a nos dizer, um dia, através de João a nos representar diante da cruz: “Eis aí a tua Mãe!”