O dia 1º de maio é celebrado no mundo inteiro como o Dia do Trabalho. Mais do que um simples feriado ou data comemorativa, esta é uma oportunidade para os cristãos refletirem, à luz da fé, sobre o valor humano, espiritual e social do trabalho. Não é por acaso que a Igreja, em sua sabedoria pastoral, escolheu para essa data a memória de São José Operário, não para desviar o foco do trabalhador, mas para apresentar um exemplo vivo de como o trabalho é parte essencial do plano de Deus para a humanidade.
Desde as primeiras páginas da Escritura, o trabalho aparece como vocação humana. No livro do Gênesis, lemos que “o Senhor Deus tomou o homem e o colocou no jardim do Éden, para que o cultivasse e guardasse” (Gn 2,15). Ou seja, antes mesmo do pecado, o trabalho já fazia parte da vida do ser humano como forma de participar da obra criadora de Deus. O trabalho dignifica o homem, permite-lhe desenvolver os dons recebidos do Criador e contribuir para o bem comum.
Contudo, o pecado desfigurou essa dimensão. O suor, a fadiga, a injustiça e a exploração passaram a fazer parte da experiência laboral. Foi por isso que os profetas clamaram por justiça e os pobres trabalhadores confiaram em Deus como seu defensor. A voz profética de Amós, por exemplo, denuncia: “Ai dos que exploram os pobres e esmagam os necessitados da terra” (cf. Am 8,4-6). A justiça social, portanto, está enraizada na tradição bíblica e cristã.
No Novo Testamento, o trabalho não é apenas valorizado, mas também vivido por Jesus e seus discípulos. O próprio Senhor aprendeu e exerceu o ofício de carpinteiro com São José (cf. Mc 6,3). O apóstolo Paulo, além de evangelizar, fazia tendas com as próprias mãos para não ser um peso à comunidade (cf. At 18,3). Em sua carta aos tessalonicenses, ele afirma: “Se alguém não quer trabalhar, também não coma” (2Ts 3,10), sublinhando a dignidade e a responsabilidade que o trabalho traz consigo.
A tradição da Igreja continuou essa valorização. Com a Encíclica Rerum Novarum, do Papa Leão XIII, publicada em 1891, a Igreja passou a intervir explicitamente na defesa dos direitos dos trabalhadores em tempos de revolução industrial e exploração. Essa carta magna da doutrina social da Igreja reconhece o direito ao trabalho digno, à remuneração justa, à associação sindical e à proteção do Estado aos mais vulneráveis.
Desde então, o Magistério tem reafirmado, em diferentes contextos históricos, que “o trabalho é para o homem, e não o homem para o trabalho” (São João Paulo II, Laborem Exercens, n. 6). O Concílio Ecumênico Vaticano II também declara: “O homem, trabalhando, não apenas transforma o mundo, mas também realiza-se como pessoa, aprende, desenvolve suas qualidades e se torna mais plenamente homem” (Gaudium et Spes, n. 35).
O Papa Francisco, em diversas ocasiões, defendeu o direito ao trabalho como uma questão de dignidade humana. Em sua exortação apostólica Evangelii Gaudium, ele afirma: “O trabalho é uma necessidade, parte do sentido da vida nesta terra, caminho de maturação, de desenvolvimento humano e de realização pessoal” (EG, n. 192). Além disso, critica com firmeza a cultura do descarte que exclui os pobres e desempregados.
Celebrar o Dia do Trabalho, portanto, é também uma celebração da dignidade humana à luz do Evangelho. É tempo de agradecer a Deus pelos dons recebidos, pelos talentos que podemos desenvolver e pelas mãos que trabalham na construção de um mundo mais justo. É igualmente tempo de clamar pelos que estão desempregados, subempregados ou em condições análogas à escravidão, pedindo a intercessão de São José Operário e a sabedoria do Espírito Santo para que haja justiça social e oportunidades dignas para todos.
A missão dos cristãos é dupla: testemunhar no trabalho os valores do Reino — honestidade, solidariedade, generosidade — e lutar, com caridade e coragem, por condições mais humanas de vida e trabalho para todos. Como nos recorda o apóstolo Paulo: “Tudo o que fizerdes, fazei-o de coração, como para o Senhor e não para os homens” (Cl 3,23).
Na minha missão pastoral tenho trabalhado com o mundo da saúde. Quero agradecer a Deus ao trabalho silencioso e eficiente de todos os médicos, administradores hospitalares, enfermeiros e todos os que levam saúde para as pessoas!
Neste 1º de maio, que o Senhor abençoe cada trabalhador e trabalhadora, que proteja os desempregados, e que nos conceda sabedoria para que nossas ações contribuam para um mundo onde o trabalho seja sinal de dignidade, fraternidade e esperança.