A palavra esperança vem do latim: sperare. Sentimento que leva o homem a olhar para o futuro, considerando-o portador de condições melhores que as oferecidas pelo presente, de tal sorte que a luta pela vida e os sofrimentos são enfrentados como contingências passageiras na marcha para um fim mais alto e de maior valor. Do ponto de vista teológico, a Esperança é uma virtude sobrenatural, que leva o homem a desejar Deus como bem supremo.
Genericamente, a esperança é toda tendência para um bem futuro e possível, mas incerto. Psicologicamente, tensão própria de quem se sente privado de um bem ardentemente desejado (imperfeições), mas que julga poder alcançar por si mesmo ou por outrem. A esperança diz respeito aos bens árduos e difíceis por que não dependem apenas da vontade de quem os espera, mas também de circunstâncias ou vontades alheias, e que, por isso, a tornam, de algum modo, incerta e falível. Justaposta às esperanças do dia a-dia, há a grande esperança, ou seja, um vínculo permanente entre a espécie e o seu criador.
No pensamento grego, Platão, designa “a grande e bela esperança” num além depois da morte. No pensamento romano, a palavra “spes” designava somente o momento feliz. Tanto a palavra grega como a romana, mesmo nas suas mais elevadas expressões, jamais atingiram a certeza de um futuro feliz. Foi a revelação judaico-cristã que, ao dar como termo das tensões a posse gratuita e inadmissível do próprio Deus, elevou-a à categoria de uma virtude fundamental da vida cristã.
São de assinalar os contributos de Paulo de Tarso, Santo Agostinho, Pedro Abelardo e Duns Escoto para a compreensão do termo. Porém, foi Santo Tomás de Aquino, na sua Summa Teológica, quem lhe dedicou exaustivas páginas no sentido de explicar os fundamentos da Esperança e de sua relação com a Fé e a Caridade.
No âmbito da filosofia moderna, toda centrada na exploração da subjetividade, o tema foi relegado ao campo das paixões e das emoções. É que, diante do domínio racionalista, a fé cristã vê-se amputada dos grandes objetivos de sua dimensão escatológica, de modo que a “spes quae” acaba por ficar reduzida aos aspectos formais do ato de esperar (spes qua). As filosofias existencialistas, marxistas e materialistas roubam as expectativas da fé com relação à vida após a morte.
Na filosofia moderna, as injunções dos pensamentos, a busca pela racionalidade e a supremacia da razão levam os indivíduos a decretar a morte de Deus. É a doutrina do nada além dessa miserável vida. Esse sistema mata toda a Esperança. Como esperar algo se nada há o que se esperar? É por isso que Paul Sartre falava da náusea e do desespero, antíteses da esperança.
Santo Tomás de Aquino classifica o desespero e a presunção como pecados e, por isso, o oposto da esperança. O desespero é a pouca confiança em Deus, o amor próprio, o orgulho pessoal. A presunção é achar-se alguém digno de uma posição religiosa vantajosa, sem de fato o ser. Tanto um quanto o outro é contrário ou opõem-se à esperança. Acrescenta ainda que as causas do desespero são os nossos vícios, os quais nos obnubilam. A presunção, por outro lado, está ligada à vaidade. Por fim, diz que a esperança não é uma atitude passiva, mas cheia de vitalidade e de amor.
São Paulo nos alenta: “Porque tudo que dantes foi escrito, para nosso ensino foi escrito, para que pela paciência e consolação das Escrituras tenhamos esperança” (Romanos, 15, 4); “Ora, o Deus da esperança vos encha de todo o gozo e paz em crença, para que abundeis em esperança pela virtude do Espírito Santo” (Romanos, 15, 13); “Tendo por capacete a esperança na salvação” (I Tessalonicenses, 5, 8); “E assim, esperando com paciência, alcançou a promessa” (Hebreus, 6, 15); Em I Coríntios 13, Paulo discorre sobre a suprema excelência da caridade. Depois de tecer comentários sobre a parte e o todo, ele diz: “Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e a caridade, estas três, mas a maior destas é a caridade” (I Coríntios, 13, 13).
A Esperança faz com que o nosso pensamento ultrapasse tempo e espaço e penetre na imensidão do espaço infinito. Assim, de posse desta virtude, esquecemo-nos momentaneamente das dores, dos sacrifícios, das doenças, das dificuldades, e lembramo-nos somente da felicidade regida pela paz e tranquilidade de nossas tensões. Isso não é utopia, é a dimensão do eu que se transcende a si mesmo rumo à espiritualidade superior.