O Reinado da Simplicidade: O Leigo como o Sal na Panela do Mundo e o Fermento na Massa da História

    Caríssimos irmãos e irmãs no Senhor,

    A graça e a paz de Deus estejam convosco.

    Chegamos ao ponto alto e final do nosso ano litúrgico, quando celebramos a majestosa Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo. É um momento de glória e de profunda reflexão, pois junto a esta festa, celebramos o Dia Nacional dos Leigos e Leigas. Esta união não é por acaso: o Reinado de Cristo não se constrói em palácios, mas no coração e nas mãos de cada batizado que assume sua vocação no mundo.

    O nosso Rei é o Servo, Aquele que escolheu lavar os pés dos discípulos (cf. Jo 13, 1-17), e que usou a Cruz como trono. O seu Reinado é um reinado de amor, serviço e verdade, e este reinado é delegado a vocês, leigos, que são a vasta maioria do Povo de Deus, a presença viva da Igreja no meio do mundo.

    1. O Leigo: Fermento Escondido e Sal no Cotidiano

    A vocação laical, meus irmãos, é linda por sua simplicidade e radicalidade. Não se trata de uma vocação “secundária”, como se o leigo fosse apenas um ajudante do padre. Vocês são o protagonismo da Igreja na ordem temporal. O Concílio Ecumênico Vaticano II nos deu imagens preciosas para entender isso:

    Vocês são o fermento na massa (Lumen Gentium). O fermento é pequeno, silencioso, e se esconde. Ele não aparece, mas age com uma força transformadora imensa. A sua missão é estar no meio da massa, na realidade do mundo, para fazer a obra crescer e se expandir. O leigo deve ser o fermento na política, na economia, na cultura, nos meios de comunicação e, acima de tudo, na família.

    Vocês são, ainda, o sal da terra (cf. Mt 5, 13). O sal tem três funções essenciais: dar sabor, evitar a corrupção e preservar o que é bom. Assim é a missão do leigo:

    • Dar Sabor: Levar a alegria, a esperança e o sentido evangélico para ambientes insípidos, onde o materialismo e o desânimo imperam.
    • Evitar a Corrupção: Ser a voz profética da honestidade e da ética em ambientes de negócios e política, onde a tentação do mal é forte.
    • Preservar o Bom: Defender os valores permanentes do Evangelho, a dignidade da vida humana desde a concepção até o fim natural, e a santidade da família.
    1. A Santidade do Comum e a Amorevolezza no Mundo

    A santidade não é para ser alcançada apenas por aqueles que vestem um hábito ou vivem em clausura. A santidade é para o pai e a mãe de família, para o profissional, para o jovem que estuda. É a santidade do cotidiano.

    Esta é a beleza da vossa vocação: santificar o mundo a partir de dentro. O seu trabalho de todos os dias, a rotina de cuidar dos filhos, o esforço em manter um casamento fiel, a paciência com o vizinho, a dedicação ao doente: tudo isso, quando vivido por amor a Cristo, se torna uma oração contínua. É a transformação da vida comum em culto espiritual (cf. Rm 12, 1).

    A nossa querida Pessoa de Dom Bosco, com sua pedagogia salesiana que tanto nos ensina, falava da Amorevolezza – aquele carinho, aquela bondade amorosa que não se impõe, mas conquista. O leigo deve levar esta amorevolezza para o mundo. É o toque humano nas relações de trabalho, o olhar de misericórdia para com o colega que errou, o acolhimento fraterno na vizinhança.

    Meus irmãos, a maior crise do nosso tempo não é econômica, mas a crise dos afetos, do sentido, do amor. E é o leigo, com a sua fé simples e robusta, que pode curar essa crise, injetando o calor da caridade de Cristo nas relações frias e impessoais do mundo moderno.

    III. A Igreja Serva e o Apostolado Leigo

    Nós, a Hierarquia da Igreja – bispos, padres e diáconos –, temos a missão de servir à missão de vocês. A nossa função é garantir que vocês sejam nutridos pelos Sacramentos, pela Palavra e pela Doutrina, para que sejam fortes lá fora. A paróquia e a diocese são o campo de formação, mas o campo de batalha e de missão é o mundo.

    O Dia Nacional dos Leigos é um apelo para que abandonemos toda e qualquer mentalidade clericalista que tente diminuir o valor do leigo. Pelo contrário, devemos valorizar e promover a formação de vocês, para que possam assumir os postos de decisão na sociedade com competência e com ética cristã.

    Sejam corajosos. Não tenham medo de levar a cruz de Cristo para o seu local de trabalho ou para o debate social. Não se calem diante da injustiça ou da relativização da fé. O Reino de Cristo só se manifesta onde há leigos dispostos a serem luz na escuridão.

    Que a Virgem Maria, a mais perfeita de todas as leigas – Mãe, Esposa, Discípula e Serva –, interceda por todos vocês. Que ela os ajude a viver a sua vocação com alegria e a certeza de que a simples fidelidade no cotidiano é a forma mais eficaz de construir o Reino.

    Com a minha bênção pastoral e o reconhecimento sincero por todo o vosso apostolado.

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