A primeira leitura do décimo nono domingo do Tempo comum nos leva a refletir que há dois modos de encararmos a marcha de Elias fugindo da cidade de Jezrael, atravessando o reino do sul, chegando a Betsabeia e entrando pelo deserto, o correspondente à caminhada de um dia. O primeiro modo é considerarmos a marcha do ponto de vistas do profeta: trata-se de verdadeira fuga, no desespero, procurando no deserto um lugar para por-se a salvo. Sob esse aspecto, Elias é uma pessoa desestruturada internamente, a ponto de desejar a morte pelas mãos de Deus. A desorientação do homem de Deus é tal a ponto de desejar morrer, deste que não seja pelas mãos do poder tirano de Jezabel. O fim da linha do profeta é a morte.
O segundo modo de lermos o episódio leva em conta a intenção de quem o escreveu. Aí não se trata mais de fuga e, sim, de peregrinação. O ponto final dessa peregrinação não é a marcha para a morte: é o encontro com Deus no monte Horeb (Sinai), onde Deus se encontrou com Moisés, selando a Aliança com seu povo. Nessa peregrinação, Deus sustenta e protege o profeta, mostrando-se muito próximo, tocando-o, conversando com ele, erguendo-o, alimentando-o, insistindo para que coma e beba, em vista da longa caminhada. Sob esse aspecto, o profeta é o protegido do Senhor.
Nesse sentido, Elias é símbolo do próprio povo de Deus do êxodo, alimentado com o maná, para o qual o Senhor fez jorrar água da rocha. Ao mesmo tempo, o texto revela a proximidade de Deus, que sustenta e dirige seu povo e o profeta, na realização do projeto de vida. A gratuidade de Deus se manifesta no alimento e bebida que o homem não preparou nem comprou. Isto porque Deus não abandona seu povo e seus profetas, ainda que marcados para morrer.
A Liturgia escolheu esse trecho porque “o alimento misterioso” dado a Elias aponta para o mistério-revelação de Jesus: “Eu sou o pão da vida. Eis aqui o pão que desce do céu. Quem dele comer nunca morrerá”.