O Pecado contra o Espírito Santo

    Decisiva a declaração de Jesus: “Quem blasfemar contra o Espírito Santo nunca será perdoado” (Mc 2,22-30). Blasfemar contra a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade, o amor eterno entre o Pai e o Filho, fonte do amor imenso deste Deus Uno e Trino é desprezar o amor. É duvidar da salvação oferecida pelo Ser Supremo. Consiste em desesperar da misericórdia divina. É uma paranóia no alto grau. Tudo junto de Deus pode ser perdoado exceto a recusa do perdão, a desconfiança do amor, a ausência radical do afeto que tudo destroem e nada constroem, nada reparam e tudo perdem. O requinte desta atitude sumamente condenável leva inclusive a não querer a dileção oferecida pelo Criador, rejeitando seus dons num gesto ignóbil, insensato. Deus ama e perdoa, mas não destrói a liberdade do ser racional de recusá-lo, apesar de todas as provas de Sua ternura infinita. Deste modo, surge um pecado sem remissão pela natureza intrínseca do mesmo. Não se trata de ofender com palavras o Espírito Santo, de contristá-lo, mas se trata de recusar a receber a salvação que o Pai ofereça ao ser racional pelo Espírito em virtude do sacrifício da Cruz.   Deus não tem um limite para sua misericórdia que é infinita.  Entretanto, a recusa desta misericórdia, do perdão de Deus impossibilita o Senhor a conceder a perdoar este pecador renitente. Deus não pode perdoar o ser racional à força. É preciso que seu perdão seja acolhido, que se aceite a luz divina. Quem recusa a salvação e se fecha no seu pecado coloca uma barreira intransponível para o mundo sobrenatural, impedindo inteiramente a ação do Espírito Santo. Bloqueia assim totalmente a entrada no reino do céu. Adite-se que o Espírito Santo não é Deus que se manifesta numa carne humana, mas Deus que vem habitar no interior mesmo do coração do batizado. É Deus que se revela no interior do cristão. O Espírito Santo é a luz que faz ver o mistério de Deus. Quem não quer esta realidade sublime passa para a outra margem da vida de onde todo retorno se torna impossível. É aquele que não deseja ser amado pelo seu Criador. Então Deus não pode nada mais fazer diante de tanta insensatez e inclusive Ele fica impedido de entrar no íntimo deste coração empedernido. Deus não força a liberdade humana. Neste caso não é Ele que rejeita o homem, mas este que se colocar fora do Reino, rejeitando a manifestação suprema de seu amor que é o perdão que Ele oferece a quem se arrepende. Dá-se desta forma a maior desgraça que pode acontece a alguém que volta suas costas ao Onipotente, ao Todo-poderoso. É o próprio homem que torna assim o seu pecado imperdoável por ser uma atitude inteiramente descabida, a negativa afrontosa da dileção divina. Blasfêmia profunda porque nega o essencial mesmo de Deus que é o seu amor.  Todas estas reflexões devem então alertar o cristão, para que por suas infidelidades não chegue a cair em tão profundo abismo. Cumpre rezar sempre pelos que se desesperam da misericórdia divina e àqueles que se acham em tal estado é preciso levar uma palavra e encorajamento, de abertura para o Absoluto. Deus está sempre de braços abertos para receber quem se arrepende e se corrige. O Filho pródigo encontrou a porta aberta do coração de se pai, porque ele voltou, ele se arrependeu. Estava morto e começou a novamente viver. Além disto, é preciso saber escutar o Espírito Santo. Todo cuidado é pouco, dado que  a mensagem divina esclarece, o milagre aponta uma rota, mas nem a palavra nem o milagre podem aprisionar o homem em sua lógica e arrebatar-lhe a liberdade de ser irredutível à evidência. Se assim não fosse, não haveria nem a ventura suprema da opção, nem o valor da virtude livremente praticada. O Espírito Santo é admirável advogado de todos os homens e apela sem cessar junto de cada coração: “Volta de novo para o teu Senhor que muito te ama”! Entretanto o pecado grave da desesperança bloqueia a percepção de um tal apelo. O  ser racional se torna então obtuso para o plano espiritual. É necessário portanto estar cada um atento, porque as distrações mundanas podem blindar a vida interior, o apego às coisas terrenas pode absorver de tal modo o ser humano que este se torna impermeável às mensagens divinas. Os divertimentos malsãos, os programas televisivos, as paixões terrenas acabam impedindo o diálogo com Deus. Aquele que se fecha a esta tertúlia vai aos poucos dando as costas ao Ser Supremo. Entretanto, aquele que cai em si e se esforça para se aproximar das realidades espirituais logo conhece a alegria interior vinda do alto. Há então a experiência do perdão de Deus e uma imersão no seu amor.Assim longe de qualquer blasfêmia contra o Espírito Santo passa a reinar a paz.  Esta permite vencer a inércia e os temores. Brilha a fidelidade à Verdade e a presença do Espírito Santo inflama a coragem e afasta toda e qualquer blasfêmia.

     

    * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.