O mundo restaurado em Cristo

    Na oração pelo planeta Terra, no final da Encíclica Laudato Si’, vemos o Santo Padre totalmente envolvido com o cuidado da casa comum, de tal modo que todos sejam atingidos e, como resultado, que tudo seja restaurado: “Ensinai-nos a descobrir o valor de cada coisa, a contemplar com encanto, a reconhecer que estamos profundamente unidos com todas as criaturas no nosso caminho para a vossa luz infinita. Obrigado porque estais conosco todos os dias. Sustentai-nos, por favor, na nossa luta pela justiça, o amor e a paz”. Como é imprescindível olhar o Livro Sagrado, em especial, para o Novo Testamento, a partir da pessoa de Jesus de Nazaré, porque nele a esperança tornou-se uma expectativa de confiança, de proteção e de bênção de Deus, indicando o caminho celestial com a criatura humana, cada dia tornando-se mais humano e a Terra, que é dádiva de Deus, mais habitável e generosa, no seu papel de cumprir as promessas da aliança, em que fé e esperança caminham intimamente entrelaçadas.
    É  com esse mesmo espírito que associamo-nos ao Romano Pontífice, na sua alocução antes da oração mariana do Angelus, dirigindo-se aos milhares de fiéis e peregrinos reunidos na Praça de São Pedro, ao comentar o Evangelho da missa do 21º Domingo do Tempo Comum (23/08/2015). Na expressão, logo no início do Evangelho: “Esta palavra é dura. Quem pode escutá-la?” (cf. Jo 6, 60), a palavra de Jesus causa decepção no povo e mesmo nos discípulos. A partir daquele momento, Jesus percebe que “muitos dos seus discípulos haviam desistido e perante estas deserções, Jesus não poupa e nem atenua as suas palavras, ao contrário, obriga a fazer uma escolha precisa: ou estar com Ele ou separar-se d’Ele, e diz aos Doze: Também vós quereis ir embora? E é então quando São Pedro faz a sua confissão de fé em nome dos outros Apóstolos: “Senhor, a quem iremos? Tu tens palavras de vida eterna”.
    A vida humana, segundo Santo Agostinho, na sua preciosa obra, A Cidade de Deus, se desenvolve entre duas grandes forças, dois dramáticos e contrastantes amores, a saber: “Dois amores edificaram duas cidades: o amor-próprio, levado pelo desprezo a Deus, a cidade terrena; o amor a Deus, levado ao desprezo de si próprio, a cidade celestial”. Vemos, pois, que o primeiro gira em torno de si próprio e o segundo é evidente que gira em torno de Deus. Que a resposta de Pedro, “A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna”, ajude-nos a compreender que o sonho de Deus Pai é de um mundo novo, restaurado no amor. Daí contarmos sempre mais com sua bondade infinita, no dizer do Santo Padre em Aparecida: “Conservar a esperança, deixar-se surpreender por Deus, viver na alegria” (24/07/2013). Nascemos para uma missão: de viver com esperança o sonho do Pai, que também é nosso, no dizer de Dom Helder: “Missão é partir, caminhar, deixar tudo, sair de si, quebrar a crosta do egoísmo que nos fecha no nosso Eu. É não se deixar bloquear nos problemas do pequeno mundo a que pertencemos: humanidade é maior (…)”, na expectativa dos bons frutos aqui e na vida futura, na ressurreição definitiva junto de Deus, naquele presente muito eterno e feliz! “Tenho para mim que as aflições deste tempo presente não se podem comparar com a glória que em nós há de ser revelada, porque a criação aguarda com ardente expectativa a revelação dos filhos de Deus” (cf. Rm 8, 18-19).
    Daquela interrogação de Pedro, entendemos que a fidelidade a Deus é uma questão de fidelidade a uma pessoa, e essa pessoa é Jesus, segundo o Sumo Pontífice: “Tudo o que temos no mundo não satisfaz a nossa fome de infinito. Precisamos de Jesus, de estar com Ele, de nos alimentar à sua mesa, das suas palavras de vida eterna! Crer em Jesus significa fazer d’Ele o centro, o sentido da nossa vida. Cristo não é um acessório opcional, é o ‘pão vivo’, o alimento essencial”.
    Deus nos dê a graça de sempre compreender e viver das palavras de vida eterna,  no rigor espiritual e poético do Servo de Deus, Dom Helder Câmara: “Aceita as surpresas que transformam teus planos, derrubam teus sonhos, dão rumo totalmente diverso ao teu dia e, quem sabe, à tua vida. Não há acaso. Dá liberdade ao Pai para que ELE mesmo conduza a trama dos teus dias”. Assim seja!