O Evangelho de hoje mostra como Jesus ao anunciar aos discípulos sua partida deste mundo lhes diz: ”Dou-vos um mandamento novo que vos ameis uns aos outros; como assim como eu vos amei, vós também vos ameis uns aos outros” (Jo 13,31-35). Num momento delicado no qual ele mostra aos apóstolos que estaria por pouco tempo com eles, Ele proclama seu preceito de amor. Cumpre observar que São João não diz que o Mestre divino deixou então um novo mandamento, mas, sim, um mandamento novo. É que àqueles da Lei de Moisés Ele ajunta o seu. Aliás, o mesmo São João já havia dito no Prólogo de seu Evangelho: “Porque a Lei foi dada por intermédio de Moisés, a graça e a verdade nos vierem por Jesus Cristo” (Jo 1,17). Entretanto é ainda de se observar que se trata, realmente, de uma ordem. Ora, se pode mandar que alguém obedeça, que alguém preste um serviço, mas é estranho mandar que alguém ame. É que Jesus havia acrescentado “como eu vos amei, amai-vos uns aos outros”. Portanto ele estava dando o preceito de imitá-lo. Assim sendo, só poderia alguém julgar que era seu seguidor se amasse como Ele amou. Ele tornou visível esta dileção no serviço, pois antes Ele havia lavado os pés daqueles a quem ele estava dando este mandamento. Único preceito da comunidade cristã seria um amor que se manifesta visivelmente no serviço: “Nisto todos reconhecerão que sois meus discípulos”. Eis a marca distintiva dos que seguem a Jesus. Não é o título de cristão, mas o amor ao próximo que se transforma em serviços que baliza o seguidor de Cristo. Neste mandamento, como observam grandes teólogos, Deus que se manifesta em Jesus não absorve as energias do cristão, mas lhe comunica suas energias espirituais que se patenteiam em obras concretas de dileção. Dilata-se assim ao máximo a generosidade, o dom o altruísmo de cada um. Disto resulta a grande alegria de viver em comunhão com Deus, nosso Pai, e com os irmãos. O mandamento de Jesus flui da fonte do amor trinitário. Ao criar o ser humano Deus confere a ele a capacidade de amar, embora dotando-o de liberdade que possibilita então toda espécie de maldade, de violência, de ódio. As guerras através da História são disto prova, além das discórdias familiares, nos locais de trabalho, de lazer, No seu íntimo, porém, o homem e a mulher percebem que é o amor e não a ira, a concórdia e não a discórdia, o perdão e não o ódio que devem prevalecer. Para incentivar o reinado da paz Jesus também lançou a célebre sentença: “O que quiserdes que os outros vos façam, fazei-o a eles também vós”. Isto significa que para o Mestre divino a bondade é mais profunda que o mal por mais virulento que ele seja. Ao perdoar seus inimigos no alto de uma cruz, Ele mostrou que o amor é capaz de indultar as maiores ofensas e elevar o ser humano às paragens luminosas da compreensão, da liberalidade, da paz A seiva da fé torna o cristão o agente por excelência da harmonia, da consonância, do consenso mútuo. Deste modo o homem e a mulher ficam convencidos de que a vida não é uma questão de cálculos, de estratégias, de precauções, de desconfianças, mas a manifestação ininterrupta da a comiseração amorosa que vem lá de dentro do coração e jorra em cataratas de ondas salvíficas. Com efeito, só o amor constrói, o desamor tudo destrói. A tranquila serenidade que deve envolver a sociedade humana é um ideal possível, exequível, mas supõe um alerta contínuo contra as forças do mal que semeiam a desinteligência, a impaciência, os gestos bruscos, ríspidos e severos. Deste modo, o mandamento do amor irradia esperanças fagueiras em contrastes com todos os ímpetos destrutivos. Entretanto, cumpre se firme que para amar e irradiar o amor é preciso passar por Aquele que tanto nos amou . Não pode amar com perseverança e eficazmente sem a fé na pessoa de Cristo. Lá onde reina a guerra entre os povos ou no meio em que se vive é porque Jesus está ausente. Este amor pregado pelo Filho Bem-amado do Pai não é mera beneficência. Esta até pode subsistir sem a fé, mas não construirá nunca a civilização do amor. As ações maravilhosas de São Damião de Molokai junto dos leprosos, de um São Vicente de Paulo, de uma Madre Teresa de Calcutá e tantos outros sempre foram privilégio daqueles que viveram e vivem em função de Jesus e, por isto mesmo, tantos projetos de paz se esboroam por não se fundamentarem no verdadeiro amor. Paz resplandecente como a aurora reina somente quando se está atento às necessidades alheias, isto, contudo, ao som dos apelos amorosos de Cristo. Apenas em Jesus e por Jesus o amor não perde consistência. Ele disse claramente: “Amai-vos, como eu vos amei”. Apenas nele e por Ele “o cumprimento da Lei é o amor” (Rm 13,10). * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.