Meus queridos irmãos e irmãs, amada família de Deus,
Estamos imersos na oitava do Natal. O eco do choro do Menino Deus em Belém ainda ressoa em nossos ouvidos e, liturgicamente, a Igreja nos convida hoje a olhar não apenas para a manjedoura, mas para o testemunho daquele que, ao longo de toda a sua vida, compreendeu profundamente o mistério que ali se iniciou: São João, o Evangelista, o Discípulo Amado.
Como comunicador e pastor, sinto-me profundamente tocado pela Primeira Leitura que ouvimos hoje, extraída da Primeira Carta de São João (1Jo 1,1-4). Percebam a urgência e a concretude das palavras do Apóstolo. Ele não começa sua carta com uma teoria abstrata ou um conceito filosófico distante. Ele começa com a experiência dos sentidos. Ele diz: “O que era desde o princípio, o que nós ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplamos e as nossas mãos tocaram da Palavra da Vida.”
Meus irmãos, a nossa fé católica é uma fé de contato! Deus não enviou um e-mail, Deus não enviou apenas um livro de regras. Deus se fez carne. A expressão grega que João usa para ‘tocar’ (psalaphao) refere-se a um apalpar físico, real. João encostou a cabeça no peito de Jesus na Última Ceia; João viu o sangue correr na Cruz; João entrou no sepulcro vazio.
Hoje, em um mundo dominado pela virtualidade, onde tantas relações são líquidas e distantes, São João nos chama de volta à realidade do encontro. Não existe evangelização sem o ‘tocar’ as feridas do irmão, sem o ‘ver’ a necessidade do próximo, sem ‘ouvir’ o clamor do povo de Deus. A comunicação do Evangelho exige presença física e testemunho ocular. Como diz o Papa Francisco, precisamos ser uma Igreja em saída, uma Igreja que toca a carne sofredora de Cristo nos outros.
Olhemos agora para o Evangelho segundo São João (Jo 20,2-8). A cena é dinâmica, cheia de movimento. Maria Madalena traz a notícia de que o corpo do Senhor não está mais lá. O que acontece? Pedro e João correm. O texto nos diz: “Os dois corriam juntos, mas o outro discípulo correu mais depressa que Pedro e chegou primeiro ao sepulcro” (v. 4).
Eu gosto de pensar nesta “corrida” de João como a corrida do amor. O amor nos dá asas, o amor nos rejuvenesce. João, talvez por ser o mais jovem dos apóstolos, mas certamente por ser aquele que se sentia profundamente amado, tinha pressa em encontrar o Senhor. A fé não pode ser estática, acomodada. A fé precisa ter esse ardor, essa pressa santa de estar na presença de Deus. Quem ama, corre! Quem ama, não mede esforços.
No entanto, o Evangelho nos dá uma lição preciosa de respeito e comunhão. João chega primeiro, inclina-se, vê as faixas de linho no chão, mas “não entrou” (v. 5). Ele espera Pedro. Ele reconhece a autoridade, ele respeita a caminhada do outro. Isso é comunicação de verdade: saber o momento de falar e o momento de esperar; saber correr com o próprio carisma, mas saber caminhar junto com a Igreja.
O versículo final desta passagem é o selo da fé de João: “Ele viu e acreditou” (v. 8). O que ele viu? Viu os sinais da morte vencida. Viu o sudário enrolado num lugar à parte. O olhar do amor permitiu a João ler os sinais que outros talvez não vissem. O amor é a chave hermenêutica da ressurreição.
Neste dia, peçamos a intercessão de São João para que sejamos comunicadores apaixonados da Verdade. Que a nossa vida seja uma carta viva, onde as pessoas possam ler a presença de Jesus. Que possamos dizer ao mundo, com a mesma convicção do Apóstolo: “Nós vos anunciamos a vida eterna… para que a vossa alegria seja completa” (1Jo 1,2.4).
Que o vinho do amor de Deus, abençoado pela tradição deste dia, embriague nossos corações de esperança e caridade.
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!



