O tema da liturgia deste domingo convida a refletir sobre o “caminho do profeta”: caminho de sofrimento, de solidão, de risco, mas também caminho de paz e de esperança, porque é um caminho onde Deus está. A liturgia de hoje assegura ao “profeta” que a última palavra será sempre de Deus: “não temas, porque Eu estou contigo para te salvar”.
“Um profeta só não é estimado em sua pátria, entre seus parentes e familiares”(cf. Lc 4,24; Mc 6,4). Segundo São Lucas, Jesus inicia a sua vida pública em Nazaré, na Sinagoga(cf. Lc 4,16), logo após a tentação no deserto. Ele lê a profecia de Isaías e a aplica a si mesmo: “Hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que acabastes de ouvir”(v. 21). A missão de Jesus é a realização da promessa salvífica de Isaías(cf. Is 61,1-2). Após uma aparente aprovação dos seus conterrâneos de Nazaré, que estavam “admirados com as palavras cheias de encanto que saíam da sua boca”(cf. Lc 4,23), Jesus experimentou a reação furiosa deles, que não só queriam expulsá-lo, mas também lança-lo no precipício(v. 28-29). Isto, porque Jesus, o filho de José(v. 22), ou seja, o filho do carpinteiro, pretende ser muito mais do que a sua humilde origem diz dele. Os habitantes de Nazaré sobem que ele não é um rabino, ou um profeta, mas só um trabalhador manual que cresceu junto deles, como qualquer outro habitante da aldeia. Além disso, Jesus declarou que o seu ministério se encontra na continuidade dos ministérios proféticos de Elias e de Eliseu(v. 25-27). Assim como esses profetas, Jesus não ficará restrito aos estreitos limites do seu povo. Ele “veio para o que era seu, e os seus não o acolheram”(Jo 1,11) e, deste modo, ele irá anunciar o Reino dos pagãos. Este início de ministério, tão conturbado e já marcado pela realidade da morte(Lc 4,29), apontando para o sacrifício redentor, demonstra a confiança de Jesus no plano de salvação do Pai, que ele veio realizar. Assim como Jeremias, e muito mais do que este profeta, pois aqui está quem é maior do que Jeremias, Jesus sabe que a unção com a qual foi consagrado(cf. Lc 4,18) o torna uma “cidade fortificada, uma coluna de ferro, um mundo de bronze”(cf. Jr 1,18) frente a todos os seus adversários. O Messias, o Ungindo, enfrentará muita oposição em seu ministério, mas seus inimigos não prevalecerão, porque o Pai e o Espírito estão com ele e o defenderão(Cf. Jr 1,19).
A primeira leitura(cf. Jr 1,4-5.17-19) apresenta a figura do profeta Jeremias. Escolhido, consagrado e constituído profeta por Jahwéh, Jeremias vai arrostar com todo o tipo de dificuldades; mas não desistirá de concretizar a sua missão e de tornar uma realidade viva no meio dos homens a Palavra de Deus.
O Evangelho(cf. Lc 4,21-30) apresenta-nos o profeta Jesus, desprezado pelos habitantes de Nazaré (eles esperavam um Messias espetacular e não entenderam a proposta profética de Jesus). O episódio anuncia a rejeição de Jesus pelos judeus e o anúncio da Boa Nova a todos os que estiverem dispostos a acolhê-la – sejam pagãos ou judeus.
A segunda leitura(cf. 1Cor 12,31-13,13) parece um tanto desenquadrada desta temática: fala do amor – o amor desinteressado e gratuito – apresentando-o como a essência da vida cristã. Pode, no entanto, ser entendido como um aviso ao “profeta” no sentido de se deixar guiar pelo amor e nunca pelo próprio interesse… Só assim a sua missão fará sentido.
Jesus não deixa ninguém indiferente. Os seus compatriotas admiram-se, espantam-se com o seu ensino, ficam furiosos, tentam expulsá-los da cidade… Mas é em Nazaré que Jesus inicia a sua pregação. As pessoas sabem quem Ele é, conhecem a sua profissão, a sua família, mas ignoram o seu mistério. Como poderiam imaginar que Ele vem de Deus, que é o Filho de Deus? É necessário o tempo de provação para que os seus olhos se abram, os olhos da fé postos à prova pela morte e ressurreição do seu compatriota. E, vemo-lo bem ao longo de todo o Evangelho, são aqueles que nunca ninguém imaginou que vão fazer acto de fé e beneficiar das palavras e dos gestos de salvação do Filho de Deus. Como os profetas Elias e Eliseu, Jesus manifesta que Deus ama todos os homens; a salvação que veio trazer é oferecida a toda a humanidade.
Neste sábado a Província Eclesiástica de Juiz de Fora, na Diocese de São João Del Rey, recebe o seu novo Bispo Diocesano, na pessoa de nosso irmão o Excelentíssimo Dom José Eudes Campos do Nascimento. Queremos desejar ao novo Bispo Diocesano muitos frutos em seu ministério. Desejamos que ele viva as palavras proféticas do Papa Francisco: “Um amor, com sabor a povo. Este amor, feito de adesão e gratidão, levou-o a abraçar, com paixão mas também com dedicação e estudo, toda a contribuição e renovação propostas pelo magistério do Concílio Vaticano II. Nele encontrava a mão segura para seguir Cristo. Não foi ideólogo nem ideológico; a sua ação nasceu duma compenetração sobre os documentos conciliares. Iluminado por este horizonte eclesial, sentir com a Igreja significa para Romero contemplá-la como Povo de Deus. Com efeito, o Senhor não quis salvar-nos permanecendo cada um isolado e separado, mas quis constituir um povo que O confessasse na verdade e O servisse na santidade (cf. Const. dogm. Lumen gentium, 9). Um povo que, na sua totalidade, possui, guarda e celebra a «unção do Santo» (Ibid., 12), e perante o qual Romero se colocava à escuta para não recusar a inspiração d’Ele (cf. São Óscar Romero, Homilia, 16/VII/1978). Mostra-nos assim que o pastor, para procurar e encontrar o Senhor, deve aprender e escutar as pulsações do coração do seu povo, sentir «o odor» dos homens e mulheres de hoje até ficar impregnado das suas alegrias e esperanças, tristezas e angústias (cf. Const. past. Gaudium et spes, 1) e, deste modo, compreender em profundidade a Palavra de Deus (cf. Const. dogm. Dei Verbum, 13). Deve escutar o povo que lhe foi confiado até respirar e descobrir, através dele, a vontade de Deus que nos chama (cf. Francisco, Discurso na Vigília de Oração pelo Sínodo sobre a Família, 4/X/2014). Deve escutar sem dicotomias nem falsos antagonismos, porque só o amor de Deus é capaz de harmonizar todos os nossos amores num mesmo sentir e olhar. Em suma, para ele, sentir com a Igreja é tomar parte na glória da Igreja, que consiste em trazer no próprio íntimo toda a kenosis de Cristo. Na Igreja, Cristo vive no meio de nós e, por isso, ela deve ser humilde e pobre, pois uma Igreja arrogante, uma Igreja cheia de orgulho, uma Igreja autossuficiente não é a Igreja da kenosis (cf. São Óscar Romero, Homilia, 1/X/1978).
(https://www.acidigital.com/noticias/discurso-do-papa-francisco-aos-bispos-centro-americanos-reunidos-no-panama-12006, último acesso em 30 de janeiro de 2019) Que ele seja um bispo com o amor de sabor do povo, santificando o povo, ouvindo o povo, caminhando com o povo, como pede o Papa Francisco. A Igreja hoje precisa de bispos que saiam como caminhantes ao encontro dos peregrinos! Tenho certeza de Dom José Eudes ajudará a Diocese de São João del Rey neste bonito caminho.
Cristo nos mostra o caminho da profecia. Só devemos configurar nossa vida em Cristo. Nenhum ídolo humano nos leva a Cristo. Só Cristo nos contagia e nos ensina a testemunhar a sua profecia da salvação.