O barulho é autodestrutivo

    “O silêncio torna-se, pois, um vestígio arqueológico, um resto ainda não assimilado. Simultaneamente, o silêncio ressoa como uma nostalgia  suscita o desejo de uma escuta sem pressa do rumor do mundo”,  escreve  o antropólogo e sociólogo francês David Le Breton.
    A poluição do meio ambiente, o capitalismo dominante, o terrorismo, o fanatismo religioso, a escravidão dos vícios, a violência e suas várias modalidades, a fábrica de doenças, a desigualdade social e a poluição sonora são componentes da indústria da morte. Não se fala muito do criminoso barulho em nossa sociedade. Esse barulho é progressivamente consistente e demolidor. O barulho é um assassino que passa como um agente dissimulado e impune. Condiciona a pessoa de tal forma que a sua ausência torna ela perturbada, ou seja, perturbada ela já vive, no entanto ela é dominada pelo barulho e precisa dele e é necessário para não ser atormentada pelo silêncio, pela calma e pela solidão.
    A zoada é demais e crescente. Fala-se muito. A danada da falação é terrível. Essa conexão adoece e mata: “Poluição ambiental, poluição visual e poluição sonora”. Pense numa pessoa que agride a natureza, que vê bastantes imagens (da TV ao celular) e conversa sem parar? Claro que isso é uma loucura, ou seja, a pessoa está doente e precisa de ajuda psicológica.
    O barulho é autodestrutivo, a desconstrução da paciência, do sossego  e a morte lenta assimilada e aceita por muitos. O sistema trabalha fazendo suas vítimas sem oposição. O lucro é colossal para manter a máquina mortífera.
    Essa trilogia tem causado tragédias no indivíduo, na família, na igreja, na sociedade e no mundo inteiro. É indelicado, deselegante e vexatório se expor demais, ser falastrão e ser pedante. Hoje já se conhece claramente o desequilíbrio, a inquietação doentia, a boçalidade do ser humano que deseja ser  o centro das atenções, chama para si o culto a personalidade se esbanja no ridículo da espetacularização. O sinal visível, a pontuação clara e a revelação direta que a pessoa está dominada pelo barulho, pela imagem, ficar só é sufocante, e quando ela começa falar muito e sozinha, é ai que ela necessita de ajuda de um psicólogo.
    Depois de passar pelo profissional habilitado, a pessoa deve procurar um excelente lugar para retiros espirituais. Um bom mestre espiritual. Ler obras monásticas, eremíticas e de espiritualidades. Sempre manter o equilíbrio emocional, físico e espiritual. Saber seus limites e confiar no poder de Deus. Viver na fé, no amor, na esperança e na graça de Jesus Cristo. A humildade, a simplicidade e a bondade são bases da vida cristã sadia em prol de um maravilhoso relacionamento e da vida abençoada.
    Silêncio e deserto são experiência profunda consigo mesmo, com Deus e com o próximo. O silencio é um grande tesouro que precisamos assimilar e tomar posse dele e ser o nosso companheiro no frutífero caminho de felicidade e de conhecimento imanente e transcendente.
    É uma bênção, é uma escola e de uma riqueza eterna conviver com pessoas tranquilas, serenas, moderadas, sábias, piedosas e amorosas. Ensina-se melhor pelo exemplo. Não há espaço para o teatro de horror, para hipocrisia e para maldade no verdadeiro testemunho do ser humano que fala pouco, suave, inteligente e vive o silêncio e o Evangelho de Cristo.
    Pe. Inácio José do Vale
    Professor, escritor e conferencista
    Sociólogo em Ciência da Religião
    Religioso da Fraternidade dos Irmãozinhos da Visitação de Charles de Foucauld
    E-mail: pe.inacio.jose@gmail.com

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