O amor de Deus

    O Evangelho do sexto domingo da Páscoa leva-nos ao centro da vida cristã. Fala-nos do mandamento, do único mandamento: “Que se amem uns aos outros como eu os amei.” Mas, é possível que amar seja um mandamento, uma lei, uma ordem? Podem nos ordenar que amemos? Na realidade, o amor é algo que nasce de dentro da pessoa e não de uma ordem recebida de outrem. No exército, são dadas ordens e estas são obedecidas. No trabalho, acontece o mesmo. Mas ninguém pode nos ordenar o que devemos sentir pelos que estão ao nosso redor. Isso é algo diferente.
    Jesus sabe que é algo diferente. Ele experimentou o amor de Deus. Ainda mais, experimentou que Deus é amor. A sua presença em nosso mundo é um sinal concreto, real desse amor de Deus por cada um de nós. Esse amor é o que nos dá vida. O amor de Deus é o que criou este mundo e é ele que o mantém em sua existência, apesar da forma imprópria como o tratamos e como lidamos uns com os outros. Aí está a razão pela qual Jesus fala de “mandamento do amor”. Deus nos amou primeiro, somos as criaturas do seu amor. O amor, como diz a segunda leitura, não é algo que nasce de nós, mas de Deus. Ele é a origem do amor, desse fluxo vital sem o qual não podemos viver.
    Não há forma de colocar limites a esse amor que vem de Deus. Para Deus, não há judeus ou pagãos, Isso surpreende os judeus na leitura dos Atos dos Apóstolos. Deus vai além das normas e das tradições. Seu amor é mais forte que qualquer lei humana. Deus presenteia-se e dá-se a todos. Muitos até dizem que “sabem que te amo”, mas na vida concreta apenas disseminam o ódio, a violência, a exclusão, a fofoca ou a calúnia. Amar é acolher sem pestanejar, caminhar rumo a unidade pedida.
    As leituras do sexto domingo da Páscoa nos falam do mandamento do amor. Mas, de fato, nos convidam a prestar atenção no amor com o qual Deus nos ama e cuida de nós. Apenas a partir dessa experiência nascerá nosso próprio amor, nossa capacidade de amar e dar a vida de presente aos que estão a nossa volta.
    Algo parecido acontece quando pretendemos convencer alguém de que não ir à Missa aos domingos é pecado. É muito melhor convidá-lo a vir a nossa comunidade, fazer com que aprecie a celebração da Missa com os cantos, com a fraternidade e o encontro com Jesus. É provável que ele retorne. Mas, se o ameaçarmos com o pecado, é muito provável que ele não volte. Francisco nos alerta muito contra o rigorismo jurídico dentro da Igreja. Ele ao invés de punir acolhe com testemunho. O Papa nos ensina a amar a todos e a construir pontes e não destruí-las. Com o amor se dá o mesmo. Ninguém irá amar sob ameaça de uma multa se não o praticar. É mais fácil que ame se já experimentou ser amado e reconhecido pelos que estão a seu lado. Está em nossas mãos fazer os que vivem conosco conhecerem o amor de Deus por todos nós. Na prática, isso significa sermos cristãos.