Teve início no último dia 3 de outubro próximo passado, a novena em honra a Nossa Senhora Aparecida, nossa Mãe e Padroeira do Brasil. Durante nove dias, o povo de Deus se coloca em oração, preparando-se para a grande festa do dia 12 de outubro. Não estamos diante apenas de um costume religioso ou de uma bela tradição popular; estamos diante de um tempo de graça, em que Deus, pela intercessão de Maria, nos convida a renovar nossa fé, nossa esperança e nosso compromisso cristão com a vida e com o Evangelho. O tema que guia nossa novena neste ano, “Com Maria, Mãe da Esperança, conhecer Jesus e cuidar da vida”, é um verdadeiro itinerário espiritual, capaz de iluminar tanto nossa vida pessoal quanto os caminhos de nossa nação.
Maria é chamada de Mãe da Esperança porque soube confiar nas promessas de Deus quando tudo parecia incerto. Diante do anúncio do anjo, ela disse o seu “sim”. Ao longo de sua vida, passou por provações, dores e silêncios, mas jamais deixou que a esperança se apagasse em seu coração. No presépio, na fuga para o Egito, no trabalho escondido de Nazaré, na vida pública de Jesus, nas perseguições contra o Filho e, sobretudo, ao pé da Cruz, Maria permaneceu firme, sustentada pela certeza de que a última palavra é sempre de Deus. Quantas vezes, diante das dificuldades de nossa vida, sentimos a tentação do desânimo! Quantas vezes, olhando para a realidade social do Brasil, com suas desigualdades, suas violências e suas divisões, somos tentados a pensar que nada pode mudar! Mas Maria, Mãe da Esperança, nos recorda que a fé em Deus nos sustenta e nos permite esperar contra toda esperança, acreditar mesmo quando tudo parece perdido, confiar mesmo quando não vemos saídas. Ela é a mulher que acreditou que a vida venceria a morte, que o amor superaria o ódio, que a ressurreição triunfaria sobre a cruz.
E é justamente Maria quem nos conduz ao conhecimento de Jesus. Conhecer Jesus não é apenas um ato intelectual ou uma informação a mais em nossa memória. Conhecer Jesus é deixar que Ele se torne parte da nossa vida, que sua Palavra molde nossos pensamentos, sentimentos e atitudes. O Evangelho nos mostra que Maria guardava todas as coisas em seu coração. Ela não se limitava a ouvir superficialmente; ela meditava, refletia, rezava, buscava compreender e, sobretudo, colocava em prática a Palavra de Deus. Nós também precisamos fazer esse caminho. Em um mundo barulhento, cheio de distrações, onde tantas vozes competem por nossa atenção e tantas ideologias tentam distorcer a verdade, é urgente conhecer Jesus com profundidade. É Ele quem nos revela o rosto do Pai, quem nos mostra o verdadeiro sentido da vida, quem nos chama a viver na liberdade dos filhos de Deus. Conhecer Jesus é também reconhecê-lo no rosto dos pobres, dos sofridos, dos descartados. Ele mesmo nos disse: “O que fizestes ao menor dos meus irmãos, foi a mim que o fizestes”. Maria, que soube reconhecer a presença de Deus em cada momento de sua vida, nos ajuda a reconhecer Jesus em cada pessoa, especialmente nos que mais necessitam de cuidado, de dignidade e de esperança.
E conhecer Jesus nos conduz ao compromisso de cuidar da vida. Maria é exemplo de quem cuida. Cuidou da vida de seu Filho, cuidou da vida da comunidade dos discípulos, cuida até hoje da vida da Igreja. E o cuidado que aprendemos com Maria é um cuidado amplo, integral. Somos chamados a defender a vida humana desde a sua concepção até o fim natural, a proteger cada pessoa, especialmente os mais frágeis e indefesos. Somos chamados a combater todas as formas de violência, a denunciar a cultura da morte que tantas vezes se expressa no aborto, na eutanásia, no tráfico humano, na exploração dos pobres, na corrupção que tira o pão da mesa de milhões de famílias. Mas o cuidado da vida não se restringe ao ser humano: inclui também a criação. Nossa Senhora Aparecida foi encontrada no rio Paraíba do Sul, e esse fato não é apenas um detalhe histórico, mas um sinal de Deus. Ela vem das águas para nos recordar que a vida brota da criação e que devemos ser guardiões e não destruidores da obra de Deus. Quando olhamos para nosso país, tão rico em natureza, rios, florestas e terras férteis, mas ao mesmo tempo tão ferido pelo desmatamento, pela poluição, pelo descuido com a casa comum, entendemos que cuidar da vida também é assumir a responsabilidade de preservar o ambiente, garantindo que as futuras gerações possam viver com dignidade.
Iniciamos esta novena em um Brasil marcado por grandes desafios. Vivemos em uma terra de fé e de alegria, mas também em uma sociedade onde milhões ainda vivem na pobreza, onde famílias sofrem com a violência, onde muitos jovens não encontram oportunidades, onde os idosos muitas vezes são esquecidos, onde a corrupção fere a confiança no bem comum, onde as polarizações dividem e enfraquecem a fraternidade. Nossa Senhora Aparecida, a Mãe que foi encontrada pequenina, frágil e quebrada, mas que se tornou a grande Padroeira do Brasil, nos lembra que Deus realiza grandes obras a partir daquilo que é pequeno. Ela nos recorda que o futuro não está perdido, que a transformação é possível, que cada cristão pode ser sinal de mudança. O Brasil precisa de homens e mulheres de esperança, precisa de famílias que eduquem na fé, precisa de jovens corajosos, precisa de cristãos comprometidos com a justiça e a verdade.
Por isso, esta novena não é apenas devoção; é missão. Ao longo desses nove dias, somos chamados a abrir o coração à graça de Deus, a deixar que Maria nos conduza pela mão, a deixar que o Espírito Santo nos renove na fé. Não basta rezar; é preciso também agir. Não basta venerar a imagem de Nossa Senhora; é preciso imitá-la em sua vida de simplicidade, de serviço, de cuidado. A novena nos prepara para a festa, mas também nos envia em missão: sermos sinais de esperança em nossas famílias, em nossos trabalhos, em nossas comunidades e na sociedade inteira.
Que desde 3 de outubro, início da novena, possamos renovar nosso coração e nos colocar inteiramente sob a proteção da Mãe Aparecida. Que cada dia desta novena seja um degrau que nos aproxima mais de Jesus, que fortalece nossa esperança e que nos impulsiona ao cuidado da vida. Que Maria nos ajude a dizer sim a Deus em cada circunstância, a perseverar na fé mesmo diante das dificuldades, a olhar com compaixão para nossos irmãos, a cuidar da criação com responsabilidade. E que, ao celebrarmos o dia 12 de outubro, possamos reconhecer que não vivemos apenas uma festa, mas uma verdadeira experiência de fé, de conversão e de compromisso. Que possamos, como povo brasileiro, proclamar: Maria nos conduziu a Jesus, e com Ele aprendemos a amar, a esperar e a cuidar da vida. E que assim sejamos, como ela, testemunhas vivas da esperança que não decepciona, sinais de um futuro novo para nossa Igreja e para nossa nação.