Celebramos hoje o dia do Natal do Senhor. O Natal celebra o grande mistério da encarnação de Deus na história humana. A teologia da encarnação fundamenta-se, sobretudo, no sublimíssimo prólogo de São João. São aqueles quatorze versículos iniciais do primeiro capítulo do seu Evangelho, dos quais dizia Santo Agostinho que deveriam ser escritos com letras de ouro. Pois o excelso evangelista, nesse texto, revela-nos a eternidade e a origem divina do Filho de Deus, sua entrada no mundo e sua rejeição pelos homens: “Veio para os seus, e os seus não o acolheram” (Jo 1,11).
O Natal de Jesus é, portanto, a plena inserção de Deus no contexto vivencial humano. A encarnação de Jesus é um profundo gesto de solidariedade com os homens. Por isso, o Natal é ocasião para compreendermos o valor do amor solidário pelos irmãos. Ao contemplarmos o presépio, vemos o exemplo do amor gratuito e universal, pois o verdadeiro amor, revelado pelo Menino-Deus, possui dois aspectos: a gratuidade e a universalidade.
A primeira leitura – Is 52,7-10 –, da segunda parte do livro de Isaías (também chamada Dêutero-Isaías), é uma mensagem dirigida ao povo de Israel para consolá-lo. O autor dessa segunda parte de Isaías teve a difícil missão de manter acesa a esperança do povo durante o exílio da Babilônia. Tanto os que permaneceram na terra quanto os que foram exilados experimentaram a dominação estrangeira e a desolação da guerra. É nesse contexto de desolação, no pós-guerra, com a cidade de Jerusalém em ruínas, que o profeta encoraja seu povo. Ele convida a comunidade dos fiéis a depositar toda a confiança no Reinado de Deus, e não nos reinos deste mundo. De forma poética, o texto descreve as sentinelas da cidade olhando para todos os lados, à espera do Senhor que está para chegar.
Na segunda leitura – Hb 1,1-6 –, a mensagem é dirigida a essa comunidade cujos membros, em sua maioria, provinham do judaísmo e, portanto, conheciam profundamente as promessas de salvação anunciadas pelos profetas nas Escrituras. Essa carta pastoral faz um resumo da história da salvação, recordando que Deus é o protagonista do projeto e de sua realização. Para concretizar seu plano de salvação e cumprir suas promessas, de muitas formas Ele falou à humanidade: serviu-se de seres humanos e da linguagem humana para estreitar a distância entre Ele e os homens. Outrora, Deus falou por meio dos profetas; agora, fala por meio de seu próprio Filho.
O Evangelho – Jo 1,1-18 –, o prólogo do Evangelho segundo João, é um hino por meio do qual a comunidade joanina professava sua fé em Jesus Cristo. A confissão de fé expressa nesse hino ressalta que Jesus é a Palavra de Deus encarnada. Essa Palavra é de origem eterna e divina; faz com que toda a obra da criação, desde o seu princípio, tenha como destino o encontro com o divino. Ao afirmar que a Palavra se fez carne, João identifica claramente a Palavra com Jesus Cristo, o Filho de Deus. A expressão “armou sua tenda no meio de nós” (v. 14) recorda a experiência do Êxodo, o encontro com Deus no deserto, quando o povo vivia em tendas. Naquele tempo, o povo sentia a presença de Deus muito próxima: o Senhor residia onde o povo estava. A encarnação de Jesus permite que novamente a humanidade experimente, agora de modo muito mais profundo, a presença do Deus que vem morar entre nós. Ele é a Palavra criadora, a luz que ilumina as trevas.
A presença de Jesus deve encher o coração das pessoas de esperança, paz e alegria. Ele é a Boa Notícia que o mundo espera. Como, porém, fazemos essa proposta ao mundo que nos cerca? Como podemos testemunhar ao mundo que Jesus é a Boa Notícia para todas as categorias de pessoas que sofrem pela ausência de Deus? O Menino Jesus, que contemplamos no presépio, é, para nós, a Palavra de Deus encarnada, que dá sentido e direcionamento à nossa vida. A liturgia do Natal nos interpela: quantas vezes nos deixamos guiar por outras palavras, por outras mensagens e promessas que não vêm de Deus, mas dos poderosos deste mundo?
Revela-nos este texto que Jesus é a sabedoria de Deus encarnada, a Palavra eterna feita homem. Pela encarnação, realizam-se as promessas de Deus aos patriarcas e profetas. A salvação prometida por Deus torna-se realidade concreta com a vinda de Jesus Cristo, o único mediador desta salvação. Essa verdade é cantada pela liturgia da Igreja: “Vem, Senhor, vem nos salvar, com teu povo vem caminhar”.
Simplicidade e humildade de Jesus. Com este binômio, o amado Papa Leão XIV, dirigindo-se aos funcionários da Santa Sé Apostólica, dirige-se a todos os cristãos do mundo: “Queridos irmãos, aprendamos com o Natal de Jesus o estilo da simplicidade e da humildade e façamos, todos juntos, que este se torne cada vez mais o estilo da Igreja, em todas as suas expressões. Por favor, transmitam também as minhas saudações aos seus entes queridos em casa; especialmente aos idosos ou doentes, digam-lhes que o Papa está rezando por eles. Desejo-lhes um santo Natal, na alegria e serenidade que Jesus nos dá.” (Disponível em: https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2025-12/papa-leao-funcionarios-curia-romana-natal-jesus-simplicidade.html, Vatican News, último acesso em 23 de dezembro de 2025.)
Celebremos o Natal de Jesus com simplicidade e humildade. Acolhamos os pobres, os doentes, os marginalizados, os anciãos e todos os que sofrem no corpo e na alma. Se não podemos acolher fisicamente, vamos ao encontro dessas pessoas para levar a simplicidade e a humildade do Deus-Menino que nasceu para nos salvar!
Desejo a todos vocês um abençoado Natal, e que o Menino Jesus os ilumine!



