A inquietude humana foi sempre causadora de grandes desastres. Levou povos e nações a precipícios históricos, quando a pressa de acelerar processos de conquistas não lhes permitiram a visão das pequenas atitudes, dos pequenos gestos, das pequenas vitórias diárias… Causou grandes guerras e decepções. A inquietude humana impediu e continua impedindo a lenta e gradual contemplação do milagre da vida, que nos permite a compreensão de Deus. Deixamos de lado a simplicidade do cotidiano, do dia a dia entregue aos planos divinos, para acelerar nossos sonhos de poder e glória, de ambições sem medidas, de prazeres sem os critérios do bom senso.
Não fiquem inquietos! É Jesus quem nos adverte, em seu mais belo discurso sobre o que seria a busca fundamental da vida humana. Lucas, em sua sensibilidade evangélica, bem detalhou essas palavras (Lc 12,22-34), deixando-nos uma das mais belas páginas dos muitos aconselhamentos cristãos sobre nossos ideais. A sensatez vem por primeiro, mas a confiança na proteção divina está acima de tudo. O Pai conhece nossas necessidades. Antes, nossa busca é a construção do seu Reino entre nós, não a discórdia, não as ambições pessoais, não a descrença, não o ceticismo, a dúvida, a insatisfação… O hedonismo, o egoísmo… Nada disso! Quem quiser dar sentido à vida precisa se aquietar no coração de Deus.
“Não tenha medo, pequeno rebanho, porque o Pai de vocês tem prazer em dar-lhes o Reino” (Lc 12,32). Essa é a Promessa. Essa é a certeza dos que um dia se deixaram seduzir pelas palavras de uma revelação divina, não humana. Essa a diferença. Na inquietude dos tempos modernos, muitas são as promessas vazias de fundamentação e inspiração divinas. Dizer o que muitos estão dizendo, prometer o que o mundo promete, fazer o que muitos fazem apenas impelidos por promessa vazias de um mundo cão, principalmente no jogo político, foi, é e sempre será uma ilusão passageira. Esquecemos a simplicidade da vida e a trocamos pela complexidade do jogo de poderes que nos asfixia. E assim destruímos o Reino, a tranquilidade de uma vida sob as bênçãos divinas.
Se hoje a vida nos assusta e nos põe inquietos, é porque estamos perdendo o referencial da fé, principalmente aquela que nos ensina a contemplar a ação de Deus em nossas vidas. Ele não nos abandonou. Os passos contrários foram os nossos. O desastre maior é que preferimos ambicionar as glórias dos nossos reinados terrenos (a opulência de Salomão – e quantos destes reis nos iludem!) à beleza que veste uma simples flor, o perfume de um lírio selvagem. Perdemos o referencial da simplicidade. É esta a veste da fé pura, mansa e humilde, simples como uma pomba.
Conquanto o mundo se levante contra a fé cristã, o fundamentalismo de certas crenças ameaça a soberania de muitas nações, ideologias e modismos vão de encontro aos princípios básicos da nossa doutrina e o que era inimaginável no seio de uma estrutura familiar torna-se corriqueiro, normal, termômetro de uma vida moderna, caminhamos para o caos. Um simples olhar sobre os fatos que nos rodeiam aponta essa realidade. Ao pequenino rebanho, aqueles que ainda teimam na fé de seus pais, foi lhes dito: “Não fiquem preocupados” … pois valemos muito mais. Estamos um grau acima das inquietudes de um mundo sem Deus. “Porque são os pagãos desse mundo que procuram (e provocam) tudo isso”. Coragem! Nossa fé deve ser inquieta. E provocar a Paz, nunca a discórdia.