“Mestre, que eu veja!”

                Estamos chegando ao final do ano litúrgico, neste ano conduzidos pelo evangelista São Marcos que foi revelando, passo a passo, quem é Jesus Cristo. A narrativa da cura do cego Bartimeu, na saída de Jericó, é o último milagre de Jesus antes da última entrada em Jerusalém onde sofrerá a paixão, morte e ressurreição (Jeremias 31,7-9, Salmo 125, Hebreus 5,1-6 e Marcos 10, 46-52). O relato é breve, mas carregado de muito significado.

                Jesus saindo de Jericó, acompanhado de uma grande multidão, ouve o grito de Bartimeu, cego e mendigo: “Jesus, filho de Davi, tem compaixão de mim!” Esta oração brota da profundidade de uma vida de sofrimento e humilhação. A cegueira impôs a Bartimeu uma série de limitações e obstáculos. Mendigar foi a forma encontrada para se sustentar. Isto faz pensar que sua família também passava necessidade. Hoje os portadores de deficiências, mesmo amparados pela legislação, sofrem com inúmeros obstáculos.

                A oração confiante de Bartimeu além de ser grito para a cura física é também uma profissão de fé. Reconhece que Jesus é o Messias enviado. Segundo as profecias, o enviado teria poderes de curar cegos, isto é, fazer algo que nenhum humano seria capaz. Portanto, é um grito de esperança, um anúncio para a multidão. A Igreja, colocou esta oração confiante e de anúncio, no início da liturgia da missa: “Senhor, tende piedade de nós”. Somente quem se sente sem visão e pequeno é capaz de rezar e de suplicar a Deus a cura da cegueira.

                A súplica de Bartimeu, num primeiro momento não chega a Jesus, pois é repreendido para que se calasse. A lei do mais forte, ou aquela da maioria poderia se impor calando e mantendo no anonimato aquele homem: “mas ele gritava mais ainda”. Nos faz suspeitar que nem sempre a maioria ou os mais fortes estão certos, pois as multidões podem ser induzidas ao erro. Restava ao cego como último recurso o grito e este chegou aos ouvidos de Jesus. Deus não é indiferente e ouve o apelo com os ouvidos e com os ouvidos do coração.

                Chega o momento decisivo quando Bartimeu sai do meio da multidão e tem o encontro pessoal e direto com o Senhor. Encontram-se um diante do outro. Duas pessoas livres que começam um diálogo. “O que queres que eu te faça?” “Mestre, que eu veja!” “Vai, a tua fé te curou”. Não era evidente que o desejo de Bartimeu era ser curado da cegueira?  Sim, mas havia outras questões a serem resolvidas. Quando o cego se levantou “jogou o manto, deu um pulo e foi até Jesus” indica que era necessário tirá-lo da sua condição de mendicância. Quando é perguntado o que deseja, Jesus devolve-lhe a voz para expressar o que pensa, o que sente, deseja e assim participar ativamente da sociedade.

                “Ele recuperou a vista e seguia Jesus pelo caminho” fazendo-se discípulo e sobe com o Mestre a Jerusalém para participar da Páscoa. Esta narração recorda o itinerário da iniciação à vida cristã. A fé é um caminho de iluminação: parte-se da humildade de se reconhecer necessitado de salvação, depois acontece o encontro pessoal com Cristo que chama a segui-lo pelo caminho do amor. No caminho de preparação para os sacramentos do Batismo, da Eucaristia e da Confirmação ou Crisma realiza-se o Rito da Iluminação. Isto é, abrir os olhos para ver Jesus e com a perspectiva divina. Bartimeu é um modelo do itinerário de fé. Jesus lhe restitui com a cura a alegria de viver, salva-o da mendicância e o acolhe como discípulo. Somos convidados a insistir que Deus nos cure das cegueiras, sair da multidão que pode impedir o acesso a Jesus, encontrar-se pessoalmente com Ele e segui-lo feliz como discípulo.

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