“Mestre, que eu veja!”

    A liturgia da Igreja católica, neste último domingo de outubro, reflete e reza a partir do fato, narrado pelo evangelista São Marcos 10, 46-52, do encontro de Jesus com Bartimeu, cego e mendigo, em Jericó. Este homem, sentado à beira do caminho, grita e faz um pedido a Jesus: “Mestre, que eu veja!”. Queria ter a oportunidade de ver como todos os que não tinham esta deficiência física. Não queria mais ficar sentado à beira do caminho, pois desejava caminhar com os outros e seguir o mestre. Este fato provoca uma reflexão sobre a maravilha dos olhos, sobre o dom de ver. Ver quem? Ver como? Ver o quê?

    Mestre, que eu veja de forma tão ampla e global como o universo. Mesmo com os mais modernos instrumentos de ampliação da visão, somente enxergamos parte deste universo repleto de galáxias, estrelas, planetas. Permanecendo somente no Planeta Terra, que eu possa ver de forma integral todos os seus elementos e seres, sem as barreiras das fronteiras de países, de raças, credos e línguas.

    Mestre, que eu veja de forma tão pontual e minuciosa como se visse através de um microscópio para ver os mínimos detalhes, deste modo valorizando cada individualidade e cada pequeno detalhe localizado dentro do todo, num espaço, no tempo, na sua forma e cor. Admirar-se daquilo que é pequeno, mas é único e irrepetível.

    Mestre que eu veja os sofrimentos da mãe natureza da qual sou parte. Que eu saiba cuidar dela com a mesma generosidade como ela me cuida, alimenta, acalenta e sustenta. Que eu empreste a minha voz e assim ressoe aos ouvidos de quem não despertou para ouvir o teu grito de socorro; e os meus olhos para quem não viu tua beleza e harmonia.

    Mestre, que eu veja os sofrimentos registrados no rosto e no corpo das pessoas marginalizadas. Dai-me a graça de não me acostumar e nem conformar com a situação daqueles que foram colocados ao lado da estrada seja pelo motivo que for. Pois, a eles, só resta o grito apelando por misericórdia. Dai-me a graça de fazer-me próximo, como Jesus se aproximou do cego Bartimeu e nunca conformar-me com esta realidade.

    Mestre, que eu veja além das aparências e das primeiras impressões para não incorrer em juízos precipitados, injustos e, por causa disso, desenvolver preconceitos. Ver além das aparências para chegar à verdade e a capacidade de ver a beleza interior das pessoas que só se revela progressivamente.

    Mestre, que eu veja de forma contemplativa. Estando diante de uma árvore que não venham imediatamente pensamentos interesseiros, utilitários, econômicos, mas vê-la simplesmente como uma árvore. Admirar-me com a sua forma, sua cor. De modo ainda mais contemplativo, possa contemplar cada pessoa sem fixar-me nos atributos físicos, na profissão que exerce, naquilo ela me possa ser útil, mas simplesmente considerá-la como ela é em si mesma. Ela vale por aquilo que é e não por aquilo que faz. Ainda mais, que eu possa contemplar o Senhor meu Deus. Dizer como São Tomé disse: “Meu Senhor e meu Deus”.

    Mestre, que eu veja para amar, com aquele amor descrito por São Paulo em 1 Coríntios 13, 4-7: “O amor é paciente, é benfazejo; não é invejoso, não é presunçoso nem se incha de orgulho; não é interesseiro, não se encoleriza, não leva em conta o mal sofrido; não se alegra com a injustiça, mas fica alegre com a verdade. Ele desculpa tudo, crê tudo, espera tudo, suporta tudo”.

     

     

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