Maria, a Imaculada Conceição

    Neste dia 8 de dezembro, celebramos com alegria a Solenidade da Imaculada Conceição da Bem-Aventurada Virgem Maria, mistério luminoso no qual contemplamos o início da realização plena do plano de Deus para a salvação. A primeira leitura, tirada de Gênesis 3,9-15.20, apresenta a cena dramática do início da queda: o homem e a mulher se escondem porque romperam com Deus. O Senhor pergunta: “Onde estás?” (Gn 3,9), e essa pergunta ecoa na humanidade ferida até hoje. No entanto, junto ao juízo, Deus anuncia a primeira promessa de salvação: “Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela; ela te ferirá a cabeça” (Gn 3,15). A tradição cristã reconheceu nesse versículo — o Protoevangelho — o primeiro anúncio do Redentor e o prenúncio da Mulher que, por graça singular, estaria totalmente livre do domínio do pecado: Maria, a Imaculada. Ela é a Mulher cuja descendência esmagará a cabeça da serpente.

    O Salmo 97(98) entoa com força esse gesto de Deus: “Cantai ao Senhor um canto novo, porque Ele fez maravilhas” (Sl 97). A Imaculada Conceição é uma dessas maravilhas: Deus preparou para Cristo uma morada digna, pura, intacta, já redimida antecipadamente pelos méritos de seu Filho. Maria é o canto novo da humanidade, resposta perfeita ao amor de Deus, e por isso o salmo proclama que “aos olhos das nações revelou sua justiça”.

    A segunda leitura, de Efésios 1,3-6.11-12, eleva nosso olhar e nos coloca diante da grandeza do plano divino: “Bendito seja Deus… que nos abençoou com toda bênção espiritual em Cristo” (Ef 1,3). São Paulo afirma que Deus nos escolheu “antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis diante dele” (Ef 1,4). Em Maria, essa escolha chegou à sua máxima realização: Ela foi preservada do pecado original desde o primeiro instante de sua existência, não por seus méritos, mas pela graça absolutamente gratuita de Deus. Nela se vê claramente “a glória da sua graça” (Ef 1,6) e nela a humanidade encontra a imagem do que Deus deseja para todos: uma vida plenamente unida a Ele e livre das amarras do pecado. Por isso Paulo conclui dizendo que fomos destinados “para o louvor da sua glória” (Ef 1,12): Maria é o primeiro e mais perfeito louvor dessa glória divina.

    O Evangelho de Lucas 1,26-38 nos conduz ao ápice da celebração. O anjo Gabriel é enviado a uma jovem de Nazaré: “Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo” (Lc 1,28). A expressão “cheia de graça” (kecharitomene) não é um elogio genérico, mas a identificação da mulher que já está totalmente transformada pela graça de Deus. É por ser imaculada que Maria pode ouvir sem medo a missão que o anjo lhe traz: “Conceberás e darás à luz um Filho, e lhe porás o nome de Jesus” (Lc 1,31). Diante do mistério, Maria questiona: “Como acontecerá isso, se não conheço homem?” (Lc 1,34). E recebe a resposta que ilumina tudo: “O Espírito Santo virá sobre ti” (Lc 1,35). É a ação do Espírito que realiza nela o milagre da maternidade virginal, assim como foi pela ação antecipada desse mesmo Espírito que Ela foi concebida sem pecado. Ela responde com a humildade e a liberdade dos santos: “Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38). A Imaculada é a criatura totalmente disponível ao querer divino.

    Celebrar a Imaculada Conceição no Advento, no Ano Litúrgico A, tem uma força especial. Enquanto esperamos a vinda do Senhor, contemplamos em Maria o início da vitória de Deus sobre o mal. Onde Eva disse “não”, Maria diz “sim”. Onde o pecado entrou, ela se torna o espaço onde Deus pode finalmente habitar. O Advento nos recorda que Deus cumpre suas promessas, e Maria é a primeira realização plena desse cumprimento. Nela vemos o que Deus pode fazer quando encontra um coração aberto; nela percebemos que nada está perdido; e nela contemplamos o destino final que Deus deseja para a humanidade: a santidade total.

    A Imaculada Conceição não deve ser vista como uma honra isolada de Maria, mas como um sinal para a Igreja e para cada um de nós. Se Deus preparou Maria para ser toda Sua, Ele também prepara nosso coração para acolher Seu Filho. Ela foi preservada do pecado original; nós somos libertados pelo batismo. Ela é a “cheia de graça”; nós somos chamados a crescer diariamente na graça. Ela diz “faça-se”; nós somos convidados a abandonar resistências e permitir que Deus haja em nossa vida com a mesma liberdade com que agiu na vida dela.

    Hoje, olhando para Maria, reconhecemos a gravidade do pecado, mas celebramos ainda mais a força maior da graça. Celebramos o triunfo da misericórdia sobre a queda, da luz sobre as trevas, da fidelidade de Deus sobre as nossas infidelidades. Que neste dia possamos fazer com Ela a mesma oração: “Senhor, fazei em mim segundo a vossa palavra”. E que, como Maria, possamos ser sinais vivos da esperança que não decepciona.

    Que a Imaculada, concebida sem pecado, interceda por nós e nos ajude a preparar uma morada pura para Cristo neste Advento, para que o Natal não seja apenas celebrado, mas acolhido em nossa vida como renovação verdadeira da graça.

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