João Batista, o profeta

    O advento que prepara os fiéis para a solenidade de nascimento do Messias, Salvador da humanidade, é bem o tempo dos Profetas, dos quais o último foi São João Batista. Eis porque ele se torna um personagem importante no segundo e terceiros domingos deste tempo litúrgico. O Evangelho de São Marcos se inicia fazendo referência ao que proclamou Deus através de Isaías: “Eis que eu envio diante de ti o meu mensageiro […] voz que clama no deserto. Preparai o caminho do Senhor (Mc 1, 2-3). Logo em seguida o evangelista assim se expressa: “Apareceu João Batista no deserto a pregar um batismo de arrependimento para a remissão dos pecados” (Mc 1, 4). De plano então surge a questão: “O que vem a ser um profeta?” Segundo o significado empregado na Bíblia é aquele que fala como acreditado mensageiro de Deus. Ele não fala em seu nome próprio, mas recebe uma missão divina para proclamar as mensagens do Senhor. Assim sendo, age em nome de Deus e o faz sem nenhum interesse pessoal. Não tem ideias preconcebidas de sua parte, mas anuncia o que lhe é inspirado pelo Ser Supremo. O falso profeta doutrina de acordo com o que pensa e aliena os outros, muitas vezes para extorquir vantagens abusando da incredulidade dos ingênuos. O profeta verdadeiro é um homem desinteressado, longe de todo amor próprio, mas anunciando unicamente os apelos salvíficos de Deus. Eis porque os profetas, como aconteceu com João Batista, apontavam como rota de salvação o arrependimento dos pecados. Porque então denunciam as injustiças, os erros, as prevaricações acabam pagando, inclusive, com a morte sua coragem, como, aliás iria acontecer com o Precursor de Jesus. João Batista interpelava as consciências para que houvesse uma metanóia,  uma transformação fundamental de pensamento e de caráter, a conversão espiritual através da penitência. Eis porque João Batista batizava no Jordão, cuja água bem simbolizava a purificação interior que ele pregava. Dava também o exemplo de uma vida rigorosa no seu modo de vestir e de se alimentar, como manifestação de um necessário desapego das frivolidades terrenas e das convenções humanas. Fez logo resplandecer sua humildade ao dizer que depois dele viria alguém do qual não era digno de desatar as correias das sandálias. Sua tarefa era exatamente preparar o caminho de Jesus. Deste modo, ele já traça o que deve ser a conduta durante o tempo do Advento para bem receber as graças natalinas. Assim, além do arrependimento sincero dos erros pessoais, de uma ruptura com tudo que impede a boa recepção a Cristo no dia de seu nascimento, ele concita a uma mortificação salutar que leva a uma privação  reparadora de tudo que é supérfluo e excessivo na existência pessoal. Além disto, como o batizado participa do múnus profético de Cristo, o Advento é também um tempo de se trazer para junto do divino Infante aqueles que se acham dele afastados. Isto é muito mais importante do que as comemorações, por vezes paganizadas, do Natal do Senhor tão influenciadas pela sociedade de consumo.  Então, sim, a paz anunciada no salmo 85 será a grande realidade para cada um que a deve partilhar com todos que se acham em seu derredor. É o resultado feliz para aquele que simplificou sua vida se interiorizando e fugindo da desconcentração provocada pelos meios de comunicação social. Como Profeta, a exemplo de São João Batista, pode mostrar que a conversão leva, realmente, ao essencial, libertando das precisões materiais desnecessárias e faz com que se dê mais tempo a Deus, este Deus que quer a felicidade de todos.  Dentro do próprio coração se perceberá que “o amor e a verdade se reencontram, a justiça e a paz se abraçam” A muitos que se acham perturbados, desanimados, se fará chegar esta mensagem de alvissareiro otimismo a envolver em esperanças que não enganam. É deste modo que se deve caminhar para o Presépio, onde o Príncipe da Paz aguarda a todos que se dispuserem a viver as veredas traçadas pelo Precursor de Jesus.

    * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.