Jesus, o Semeador

    Ao proclamar a parábola do semeador (Mt 13,1-23) Jesus tomou um conjunto de providências. Ele sobe numa barca e se dirige a seus ouvintes reunidos na margem. Sem dúvida, forçou sua voz para que todos O escutassem. Deste modo, as pessoas recebiam palavras lançadas por Cristo, palavras que mostram como a terra ganham os grãos espalhados pelo semeador.  Sendo exímio pedagogo, Jesus imediatamente prende a atenção de todos com uma narrativa intrigante mostrando a reação da semente jogada em terrenos diferentes. O semeador é ele mesmo e o coração dos destinatários é a terra onde deve germinar sua palavra que não pode voltar para ele sem resultado como frisou o Profeta Isaías (Is 55, 10-11). Esta palavra cria, fertiliza, faz surgir um entendimento novo sobre o Reino dos céus, dependendo do local onde ela cai. Jesus convida então a um discernimento, a um auto-exame para que cada um se examine que tipo de terreno é. Eis um aspecto importante da vida cristã. O ideal é não ser uma terra insatisfatória, mas a que possua o humo recomendável que, assim, produz fruto cem, sessenta, trinta por um, ou seja, “aquele que ouve a palavra e a compreende”. De plano se pensa logo na Virgem Maria que deu ao mundo o fruto bendito, o Redentor da humanidade. Ela, em seu admirável silêncio, terra fecunda ao sopro divino. Lá no Calvário deparamos com Dimas que ao lado de Cristo recebe dele mensagens decisivas que frutificam na conversão total de sua vida. Ele passa então a conhecer uma nova relação com Deus. Este Deus não faz distinção de terrenos, pois seu amor deve atingir toda a humanidade. A semente cai por toda parte. Cumpre, então, louvar a generosidade absoluta do Semeador que oferece chance a todos. É que quando se ama não se fazem cálculos. Na Bíblia em várias passagens o Ser Supremo assevera: “Eu te amei com um amor eterno”. Na parábola de hoje Jesus fala de quatro terrenos diferentes, correspondendo às atitudes humanas face à semente de Sua palavra. Para que a semente dê fruto não se pode ser terreno à beira do caminho, nem pedregoso, nem repleto de espinhos. Neles a semente não frutifica e Jesus nos revelou os motivos. A terra fértil que acolhe o grão e lhe permite se desenvolver para dar o seu fruto é que devemos ser. Para isto é preciso reconhecer os momentos de nossa vida nos quais o grão é lançado. Neste instante da graça é necessário deixar de estar à beira do caminho, se desembaraçar da dureza do coração e dos espinhos que são as ilusões mundanas. A semente é a Palavra divina contida nas Escrituras. Esta Palavra deve ser meditada para dela se tirar os ensinamentos. Trata-se de se impregnar das mensagens divinas. Entretanto, não se pode reduzir a noção da Palavra de Deus ao livro da Bíblia. Há uma diferença  entre ela e a Palavra. As sementes da Palavra não se reduzem aos momentos felizes quando se abre este Livro Sagrado e nele se lê atentamente alguma parte. A Bíblia é o livro da Palavra, mas é um livro e a “palavra divina não está algemada”, como falou São Paulo a Timóteo (2 Tm 2,9). Isto significa que ela deve ser praticada e difundida pelo testemunho de vida, tornando-se assim o cristão um semeador da mesma. Neste caso o que conta é o aquilo que se faz de tudo se apreendeu na Bíblia, isto é, toda a existência cristã cujos atos mostram a eficácia da Palavra. O objetivo da Revelação não foi simplesmente oferecer à humanidade um Livro, mas, através dele, o encontro com Jesus Cristo, o Redentor da humanidade, o Messias prometido. É preciso então acolher a Palavra numa terra fértil, fazê-la germinar e crescer para que ela dê frutos. Estes frutos não são apenas as boas ações, mas ainda anunciar com alegria o Reino de Deus. A dileção ao Criador de tudo e ao próximo é o sinal mais revelador e mais significativo, porque este Reino de Deus é o reino do amor a Ele e ao próximo. Esta dileção deve, realmente, levar a uma evangelização contínua e a uma aclamação da soberania de Cristo. Ser missionário é lançar a semente em todos os terrenos, mesmo porque Jesus quer salvar a todos. Muitos estão longe dele e não recebem a semente de sua palavra em terra propícia, porque presos às ilusões terrenas que impedem o desenvolvimento da graça salvadora. Semear e rezar. Desânimo nunca, porque há seu tempo os frutos aparecerão para glória de Deus e bem das almas.

    * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.