Todo batizado precisa mentalizar as palavras de São Paulo aos romanos, mostrando que fomos sepultados com Jesus na morte “para que como Cristo foi ressuscitado dentre os mortais pela glória do Pai, assim também nós vivamos uma vida nova” (Rm 6,4). A libertação de que fala o Apóstolo é, antes de tudo, libertação de todo e qualquer pecado grave que traz como consequência a perda da graça santificante. Entretanto, a vida nova supõe todo um roteiro de crescimento espiritual. Este, felizmente, é percorrido pela maioria dos cristãos. Contudo, é sempre frutuoso que se recordem os passos desta caminhada rumo à perfeição. Não basta, realmente, tão só a fuga das ocasiões do pecado mortal, mas Deus exige a generosidade daqueles que, de fato, O amam. O cuidado persistente na luta contra as faltas leves deve ser um ideal a ser continuamente buscado. É certo que perfeito é só Deus, mas cumpre a todo cristão não considerar as imperfeições devidas à fragilidade humana como ninharias e estar vigilante no combate às faltas veniais. Estas não impedem o fiel de comungar. Entretanto, não se esforçar por combatê-las leva à diminuição do amor devido a Deus. Este requer fidelidade absoluta, total, que inclua o propósito de em nada o desagradar. Por outro lado é necessário ao cristão ficar atento às solicitações mundanas, não se deixando envolver por aquilo que possa excitar as paixões. É o caso das novelas televisivas, das revistas que exaltam atitudes aberrantes que conspurcam a alma. Com efeito, os pecados capitais são explorados maldosamente pelos profetas do erro e deles, destemidamente, o verdadeiro seguidor de Cristo tem que se afastar. Quem é fiel a Deus não pensa como o mundo, mas como o que ensina o Evangelho. É aí que entra o espírito de penitência, de austeridade, que impede a adesão àquilo que é o excesso no que tange, por exemplo, à vaidade, à glutoneria, à perda do sentido do eterno. Trata-se da repulsa às exigências imoderadas da carne que se opõem aos apelos sobrenaturais do espírito. Corrigir sempre o que é defeituoso precisa ser a meta do cristão a exemplo dos santos que sempre tiveram esta disposição interior. Eles se deixaram continuamente dominar pela graça, evitando com denodo as enganações do maligno. Não é fácil submeter a vontade para triunfar dos caprichos pessoais. O meio seguro é se colocar na dependência absoluta de Deus, sem se deixar macular pelas ilusões terrenas. Deste modo, as menores atividades se tornam uma prece contínua de louvor ao Senhor em cuja presença se vive. Ele, ininterruptamente, a amparar com sua proteção poderosa os que desejam trilhar as veredas da própria santificação. O fundamento de tudo isto é a vitória sobre a presunção e o amor próprio. Tudo para a glória divina é o anelo que metamorfoseia a vida daquele que caminha com fé para as moradas eternas. Assim sendo, quando a Providência envia tribulações e mesmo incertezas quanto ao estado espiritual no qual alguém se encontra, não há ocasião para o desânimo. O cristão oferece então ao Pai do céu as provações que Ele envia e estas se tornam um impulso para grandes feitos na caminhada rumo à pátria definitiva. Podem vir as tentações do inimigo, mas se multiplicam as preces que fortificam o cristão que por elas sustentado se torna vitorioso. A perseverança, por vezes, exige uma coragem heroica, mas o fiel repete com São Paulo: “Eu tudo posso naquele que é a minha fortaleza” (Fl 4,3). Além disto, as próprias tentações diabólicas levam o batizado a reconhecer que sem a graça ele nada pode por si mesmo. Nesta luta contínua, porém, o cristão degusta a paz de sua consciência que não se deixa manchar com a nódoa do mal. É por isto que os mestres da vida espiritual mostram que há um comércio contínuo entre a alma que se aperfeiçoa e Deus, fonte de toda santidade.. O cristão sacrifica seus gostos para não ter o desgosto do pecado e recebe em troca a serenidade interior. Percebe deste modo ao vivo quão suave é o Senhor e feliz o que a Ele se recomenda (Sl 33,9)! * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.