Indulgência e gratidão

    O negacionismo, que desonra o propósito, no seu fundamentalismo torpe ou obtuso; tendo sido a causa fertilizadora do passado pouco edificado e nada profícuo da humanidade, continua, lastimavelmente, vivo e presente nos dias atuais. Resta-nos, num clamor por vida e dignidade, invocar a compaixão de Deus aos mentores e aos seus seguidores, tendo presente o afável convite a boas relações entre as pessoas, no que importa um amor persistente, mas a partir da misericórdia divina, que quer inspirar na criatura humana um sentimento de consternação para com seu semelhante, como na expressão bíblica: “Sede misericordiosos como vosso Pai é misericordioso” (cf. Mt 6, 36), e também em: “Quero misericórdia, e não sacrifício” (cf. Mt 9, 13). Temos também a conhecida parábola do “Bom samaritano” (cf. Lc 10, 30ss), na sua melhor compreensão, na sua maneira de se relacionar com o próximo.

    Reconheçamos e sejamos agradecidos pela misericórdia divina e nela os comprazimentos recebidos, sem nunca nos esquecermos da gratidão. O nosso Deus indulgente e clemente oferece e demonstra seu amor misericordioso para conosco, quando da nossa parte existe gratuidade. No dizer de São Bernardo de Claraval, Deus se retém em sua misericórdia, mas só quando por parte da pessoa humana se percebe falta de indulgência e de gratidão.

    No nosso mundo hodierno, se tem muita ingratidão. Num quadro de enfermidade, semelhante ou pior do que aquele dos dez leprosos do Livro Sagrado (cf. Lc 17, 11-19), atingem-se e contaminam-se as estruturas, no que diz respeito à vida e ao convívio social, como se fosse um maldito câncer. Que o espírito da Sabedoria divina, inflexível e imutável, renove tudo, fazendo-nos viver, sendo um reflexo da luz eterna, espelho sem mancha da atividade de Deus e imagem de sua Sabedoria ou misericórdia (cf. Sab 7, 26).

    Particularmente, agradeço ao bom Deus pela visita honrosa do professor do IFCE, historiador e pós-doutor, Airton de Farias, no dia 9 de novembro de 2021, presenteando-me com seus livros; ele veio a mim como um humilde irmão; foi possível perceber o que disse dele o historiador Gustavo Brígido, entre outros: “Tornou-se embaixador do Ceará no mundo”, deixando-me edificado com suas publicações, livros mais que bons; ótimos! Unidos ao professor Airton de Farias e aos demais irmãos, que nossa oração suba aos céus, mas de maneira complacente, benevolente e tolerante, no sentido de que nossas atitudes e gestos possam percorrer a estrada do amor compassivo, na mais profunda gratidão.

    Permita-me, pois, concluir com a oração do Rei Salomão: “Deus de nossos Pais, e Senhor de misericórdia, que todas as coisas que criastes pela vossa palavra, e que, por vossa sabedoria, formastes o homem para ser o senhor de todas as vossas criaturas, governar o mundo na santidade e na justiça, e proferir seu julgamento na retidão de sua alma, dai-me a Sabedoria que partilha do vosso trono e não me rejeiteis como indigno de ser um de vossos filhos, porque qualquer homem, mesmo perfeito entre os homens, não será nada se lhe falta a Sabedoria que vem de vós”. Assim seja!

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