HOMILIA pelo JUBILEU DE prata Episcopal de DOM ORANI JOÃO CARDEAL TEMPESTA, O.CIST.

    Proferida na Catedral de São Sebastião do Rio de Janeiro

    25 de abril de 2022

                Nos últimos cem anos, três Cardeais Arcebispos, com sua pujante atuação apostólica, marcaram profundamente a história da Arquidiocese do Rio de Janeiro em sua presença dinâmica na vida da Igreja no Brasil.

                1955: o Em.mo   e Rev.mo Sr. Dom Jaime de Barros Cardeal Câmara assumiu a realização do XXXVI Congresso Eucarístico Internacional, com a presença do Legado A Latere de Sua Santidade, o Papa Pio XII: Dom Bento Aloisio Cardeal Masella. Nos limites da comunicação, na época, o Papa enviou uma Radiomensagem aos Congressistas.

                4 a 5 de outubro de 1997: o Em.mo e Rev.mo Sr. Dom Eugênio de Araújo Cardeal Sales, acolheu, nesta cidade, o II Encontro Mundial da Família. Rio de Janeiro recebeu, nesta oportunidade, a pessoa do Santo Padre, o Papa São João Paulo II.

                No voo de helicóptero entre Sumaré e o recinto do Congresso, São João Paulo II contemplava a beleza do Rio de Janeiro. Chegado à Sala Magna do Congresso, exclamou: O Rio de Janeiro é uma arquitetura divina e uma arquitetura humana! A Família é, também, uma arquitetura divina e uma arquitetura humana!

                A Santa Missa de encerramento, na esplanada do Flamengo, contou com a participação de dois milhões de pessoas. Conforme o protocolo previsto, ao final da celebração, assim que o Santo Padre deixasse o altar e se retirasse, teria início o canto final: Jesus Cristo! Jesus Cristo, eu estou aqui!

                O Canto começou. O Papa não se retirou para a sacristia e dois milhões de pessoas entoavam a plenos pulmões: Jesus Cristo! Jesus Cristo, eu estou aqui! São João Paulo II, extasiado, olhava atentamente a multidão, com uma alegria transbordante, saboreando aquela assembleia orante de fé, que continuava a cantar: Jesus Cristo! Jesus Cristo, eu estou aqui! Realizavam-se as palavras do poeta cantor e profeta:

    Olho no céu e vejo

    Uma nuvem branca

    Que vai passando

    Olho na terra e vejo

    Uma multidão que vai caminhando

     

    Como essa nuvem branca

    Essa gente não sabe aonde vai

    Quem poderá dizer o caminho certo

    É você, meu Pai.

     

    Jesus Cristo! Jesus Cristo!

    Jesus Cristo, eu estou aqui!

    Jesus Cristo! Jesus Cristo!

    Jesus Cristo, eu estou aqui!

    Dois milhões de fieis continuavam a cantar. Eu estava perto do altar, a uns três ou quatro metros do Papa. Ele, emocionado, passeava seus olhos sobre a multidão a cantar: Jesus Cristo! Jesus Cristo, eu estou aqui!

    23 a 28 de julho de 2013: o Em.mo e Rev.mo Sr. Dom Orani João Cardeal Tempesta, Arcebispo do Rio de Janeiro, recebeu, nesta cidade, a XXVIII Jornada Mundial da Juventude. Dom Orani teve, então, a alegria de acolher em sua casa o Papa Francisco!

    Rio de Janeiro! Rio de Janeiro – cidade e Arquidiocese – privilegiadas pelos carinhos da Providência Divina. Dom Orani João Cardeal Tempesta não menos privilegiado pelos gestos do Amor de Deus!

    Dom Orani nasceu em São José do Rio Preto, tendo sido educado no lar cristão de Maria Bárbara Oliveira e de Achille Tempesta, enriquecido por nove filhos. Dos joelhos santos de seus pais brotou a vocação monacal cisterciense de Dom Orani.

    Por esse tempo, viera da Itália o Abade Presidente Cisterciense, Dom Giovanni Rosadini, para visitar os monges em São José do Rio Preto. Perto da igreja de São Roque, Dom Giovanni observou um grupo de jovens que jogava bola. De olhar clínico, percebeu um jovem diferenciado. Numa pausa do jogo, cumprimentou-os, estabelecendo com eles uma interação. Perguntou, então, àquele jovem que lhe chamara a atenção: Você não quer ser monge?

    Palavra certa ao coração certo. O episódio lembra a vocação de Mateus: este estava em sua banca recebendo impostos. Jesus passou, viu-o e o intimou: Vem e segue-me! O mesmo Mateus narra o fato: Como se retirasse, Jesus viu, de passagem, sentado na coletoria de impostos, um homem que se chamava Mateus. Disse-lhe: “Segue-me”. Ele se levantou e o seguiu (Mt 9, 9). Dom Orani estava em um momento de lazer. Dom Giovanni passou, viu, de passagem, um jovem chamado Orani jogando bola. Disse-lhe: Você não quer ser monge?

    A interpelação inesperada chegou num momento crucial da vida daquele jovem, que perdera, naqueles dias, um amigo. Fora atingido pela morte repentina do colega e amigo Ronaldo Astolfo. Experimentou, então, na carne, o mistério da vida e da morte: a vida é fugaz! O que é importante na vida? O que faz nosso viver valer a pena? Pensou, pensou, refletiu. Numa noite, ao voltar da aula, chegou em casa cabisbaixo. D. Maria Bárbara notou e lhe perguntou com doçura materna: O que aconteceu? Esquivou-se: Nada! D. Maria não insistiu. Percebeu que algo estava mudando na mente do filho. Respeitou.

    Na vida não existem coincidências. A fé leva as pessoas a perceberem a mão providente de Deus com Suas interpelações. Confrontavam-se, em sua mente, as perspectivas da realização de uma vida na sociedade, com seus inúmeros atrativos, além do esporte, e a resposta positiva ao atualizado “Vem e segue-me” de Jesus, proferido pelos lábios de D. Giovanni Rosadini: Você não quer ser monge?

    O jovem esportista respondeu SIM: aceitou entrar na vida cisterciense. Na Festa da Apresentação do Senhor, 2 de fevereiro de 1968, entrou no noviciado cisterciense: era o primeiro noviço brasileiro! Um ano depois, no mesmo dia 2 de fevereiro, fez sua profissão religiosa: os votos de pobreza, de castidade e de obediência, segundo as Constituições da Ordem Cisterciense. Na mesma data, três anos depois, faz seus votos solenes e perpétuos de pobreza, de castidade e de obediência! Novamente, era o primeiro brasileiro a fazer os votos perpétuos! Predileção Divina. Percebe-se, com facilidade, ser Dom Orani uma pessoa eleita pelos desígnios de Deus.

    Perseverante na sua vocação, tornou-se o primeiro Prior Cisterciense brasileiro; o primeiro Abade Cisterciense brasileiro na Abadia de Nossa Senhora de São Bernardo e, mais tarde, o primeiro Bispo Cisterciense brasileiro. Foi, depois, elevado a Arcebispo de Belém do Pará, a Arcebispo do Rio de Janeiro e, em 2014, o Papa Francisco o convocou para integrar o Colégio dos Cardeais!

    Celebramos, hoje, com muitas razões, a Santa Missa de Ação de Graças pelos vinte e cinco anos de seu episcopado: Bispo de São José do Rio Preto, Arcebispo de Belém do Pará, Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro, Cardeal da Santa Mãe Igreja!

    Penso não caber aqui rever suas realizações nestas três Igrejas, bem como sua atuação significativa na Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Prefiro enfocar a pessoa que se levanta todos os dias às quatro horas da manhã para rezar, dedicando-se, em seguida, aos cuidados com o rebanho que lhe foi confiado: seus sacerdotes, seu povo. Com sua presença carinhosa de Pai e de Pastor, alimenta no coração de todos a fé, fazendo-os crescer no amor a Jesus Cristo e à Igreja.

    Em seu dicionário, não existe o verbete cansaço! Sempre alegre, bem disposto, retorna a sua casa em altas horas da noite para as últimas orações do dia e o repouso merecido, embora espartano!

    Imagino que, nestes dias, devem ter-lhe perpassado pela mente as grandes alegrias de sua vida. Elas são parte de seu patrimônio espiritual mais reservado; alegrias na família – em São José do Rio Preto; notável seu amor à família, berço de sua vocação –, como Bispo em São José do Rio Preto, como Arcebispo em Belém do Pará, e agora, como Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro! E por que não lembrar Roma e suas atividades mais perto do Papa?

    O Paraíso não é nesta vida e, seguramente, não faltaram desafios, provações, incompreensões, mas todas superadas e vencidas pela graça de Deus!

    Para nós, sacerdotes, o Monte Tabor vem depois da subida do Monte Calvário! E, se, por acaso, lhe rolaram algumas lágrimas por causa de Jesus Cristo e de Sua Igreja, elas serão transformadas em brilhantes preciosos em sua coroa no Céu!

    Em.mo e Rev.mo Senhor Cardeal Dom Orani, aqui estão seus filhos, Sacerdotes e Povo Santo de Deus. Nossos irmãos Bispos estão em Assembleia Nacional e, por isso, nem todos que desejavam puderam aqui estar. Sinta em nossa presença a voz de muitos de seus irmãos Bispos que se alegram pelos seus vinte e cinco anos de ministério episcopal.

    Em.mo Sr. Cardeal Dom Orani, confesso-lhe que experimento uma alegria íntima por poder participar desta celebração de Ação de Graças pelas suas Bodas de Prata Episcopais. São muitos os laços que nos ligaram. Recordo, com carinho, minha visita ao seu Clero, em São José do Rio Preto, bem como as oportunidades que me ofereceu de estar com os sacerdotes do Rio de Janeiro e, sobretudo, suas atenciosas visitas quando eu era Arcebispo de Diamantina e, depois, já emérito, em Patos de Minas.

    Sempre o admirei por sua vida de oração, por sua dedicação incansável ao Clero e ao Povo do Rio de Janeiro, por sua sabedoria de vida, por sua capacidade de trabalho, de amor aos pobres e por sua disponibilidade para atender aos que buscam os seus conselhos.

    Seus vinte e cinco anos valem muito diante do Senhor!

    Louvemos a Deus por sua vida, por sua saúde e por sua presença entre nós!

    Por isso, aqui estamos para rezar e cantar:

    TE DEUM LAUDAMUS, TE DOMINUM CONFITEMUR!

     

    Dom João Bosco Óliver de Faria

    Arcebispo Emérito de Diamantina, MG

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