Irmãos e irmãs,
Celebrar a Festa da Sagrada Família é contemplar o mistério de Deus que quis entrar na história humana não de modo abstrato, mas dentro de uma família concreta, marcada por trabalho, obediência, sofrimento, silêncio e fé. Jesus não nasce já adulto para anunciar o Reino; Ele cresce em Nazaré, sob o cuidado de Maria e José, aprendendo a viver como filho, como membro de uma família.
A primeira leitura, do livro do Eclesiástico (3,3-7.14-17a), apresenta um ensinamento simples e ao mesmo tempo exigente: a relação entre pais e filhos é lugar de bênção, de justiça e de fidelidade a Deus. Honrar pai e mãe não é apenas uma norma moral, mas uma atitude que gera vida longa, reconciliação e perdão dos pecados. Em uma cultura que frequentemente relativiza os vínculos familiares, a Palavra de Deus recorda que a família continua sendo espaço privilegiado da ação divina.
O Salmo 127 (128) proclama a felicidade daquele que teme o Senhor e anda em seus caminhos. A imagem da mesa familiar, da esposa fecunda e dos filhos como rebentos de oliveira, não é idealização romântica, mas sinal de que a bênção de Deus passa pela vida cotidiana, pelo trabalho, pela convivência e pela fidelidade. A família que coloca Deus no centro encontra sentido mesmo em meio às dificuldades.
Na segunda leitura (Cl 3,12-21), São Paulo descreve as atitudes que devem caracterizar a vida cristã dentro da comunidade e, de modo especial, dentro da família: misericórdia, bondade, humildade, mansidão, paciência e, acima de tudo, o amor, que é o vínculo da perfeição. Paulo não ignora os conflitos familiares, mas propõe um caminho concreto: deixar que a Palavra de Cristo habite em nós e que a paz de Cristo governe os nossos corações. Onde isso acontece, a família torna-se sinal do Reino.
O Evangelho (Mt 2,13-15.19-23) nos apresenta uma face menos idealizada da Sagrada Família. José, Maria e o Menino são obrigados a fugir, tornam-se refugiados, experimentam o medo e a insegurança. A família de Nazaré conhece o exílio, a ameaça de morte, a instabilidade. No entanto, José permanece atento à voz de Deus e, em obediência silenciosa, protege a vida do Filho. Aqui está um ensinamento decisivo: a santidade da família não está na ausência de problemas, mas na fidelidade a Deus em meio a eles.
A Sagrada Família nos ensina que Deus age por meio da responsabilidade humana. José decide, Maria confia, Jesus cresce sob esse cuidado. Não há milagres espetaculares, mas uma fé concreta que se traduz em escolhas difíceis e corajosas. Assim, a família torna-se espaço de salvação.
Celebrar esta festa é, portanto, deixar-nos questionar: nossas famílias são lugares onde a Palavra de Deus é ouvida? Onde o perdão é possível? Onde a vida é protegida, mesmo quando isso exige sacrifício?
Que a Sagrada Família de Nazaré interceda por nossas famílias, especialmente pelas que vivem o drama da divisão, da violência, da pobreza e da migração forçada. Que aprendamos com Maria, José e Jesus que Deus continua a habitar as casas simples, os caminhos incertos e os corações disponíveis à sua vontade. Amém.



