O que caracteriza a oração da Ave-Maria é uma profunda reverência para com a Mãe de Deus, um grande amor filial à Co-Redentora da humanidade e uma firme confiança na Rainha poderosa. É uma das preces mais populares do orbe católico. Toda a primeira parte dessa esplêndida oração é composta de palavras reveladas e que se acham na Bíblia (Lc 1, 28.42). A segunda parte foi acrescentada pela Igreja inspirada pelo mesmo Espírito Santo. Com efeito, no grande Concílio de Éfeso, em 431, foi proclamado o dogma o qual declara verdade de fé que Maria é Mãe de Deus. Esta prece mariana proclama, assim, a grande esperança da humanidade, a salvação do mundo, a vinda do Filho de Deus a esta terra. Solicita depois que a Progenitora de Jesus interceda por seus filhos pecadores agora, no momento em que estão ainda nesta terra, e, sobretudo na hora de se entrar na ultravida. Trata-se, assim, de uma prece maravilhosa na qual se faz um ato de fé, crendo o fiel firmemente no sublime mistério da Encarnação do Verbo Divino no seio da Virgem Santa, a qual por estar tão profundamente unida a Cristo pela maternidade divina pode, realmente, socorrer os que a ela suplicam confiantes. À profissão de fé segue o ato de uma notável esperança numa ajuda oportuna para o tempo presente e para a eternidade. Tudo isto envolto num amor sincero para com aquela que se tornou lá no Calvário mãe da humanidade regenerada pelo sangue de seu divino filho. Do alto da Cruz Cristo abaixou seus olhos sobre os que estavam diante dele os quais Ele cingia como num abraço amigo. Contemplou sua mãe e o amigo fiel. A ternura por aqueles dois seres e por milhares de outros que Ele evocou através de um símbolo vivo, iria obrigá-lo a quebrar outra vez o silêncio. Dulcíssimas palavras, recolhidas com sumo carinho pelo único Apóstolo ali presente, pairaram para grandeza e felicidade da humanidade redimida: Mulher, eis o teu filho [ … ] Eis a tua mãe! Toda a Igreja, desde então, através de uma percepção universal e nos mais belos escritos que consagraram a pena de doutores famosos, compreendeu que João era aí um representante. Maria recebeu de seu divino Filho o gênero humano em tutela. Os homens ganharam Maria como sua mãe espiritual, herança sublime legada pelo Salvador. É esta realidade sublime que explica o fervor com que, através dos tempos, os filhos desta Mãe bendita a saúdam com uma prece que recorda todas estas verdades. Por tudo isto, a Ave-Maria é a segunda grande oração da Cristandade. Todos os títulos, todos os elogios, todas as honras, com que os fiéis louvam a Mãe de Jesus, jamais terão um sentido tão profundo, uma universalidade tão plena como o sentido e a universalidade que encerram as palavras tão simples, mas tão significativas desta prece singular. Eis porque em todos os templos da cristandade ecoam as Ave-Marias como um tributo de gratidão para com aquela que foi glorificada pelo próprio Ser Supremo, aquela que o Altíssimo distinguiu entre todas as mulheres do universo e honrou com a coroa da maternidade divina. Ela a Rainha dos profetas, dos apóstolos, dos mártires, das virgens, de todos santos, dos coros angélicos merecia, realmente, uma apoteótica homenagem bem sintetizada na Ave-Maria. Prece agradabilíssima a Deus por ser a súmula dos privilégios concedidos esta mulher bendita, apoteose de todas as virtudes que ela ostentou, de suas inigualáveis perfeições. Os mais sábios teólogos, os santos mais eminentes, bem como os cristãos destituídos das ciências humanas, se embeveceram e se enlevam com esta oração que satisfaz todas as inteligências e aquece todos os corações. Há na Ave-Maria uma elevação que jamais o gênio poderá alcançar, como há delícias que sente e goza a alma dos mais simples seguidores de Cristo. Na aflição ela consola, na alegria santifica. Excita o pecador a procurar o perdão da misericórdia divina e nos justos ela aumenta o amor e confiança em Deus. Oração magnífica que se transforma em rosas perfumadas quando alguém se põe a passar as contas do Rosário, meditando os grandes mistérios da fé. É que neste exílio terreno o cristão se vê num tempo do perigo, de provação, de combate, tempo em que precisa do socorro de Deus e da força celeste por intercessão da Rainha poderosa. Por isto, sob o murmurar das Ave-Marias repetidas cinqüenta vezes em cada Terço ele vai se enchendo de esperanças e triunfando sobre todas as invectivas o espírito maligno. O mesmo acontece a quem, não podendo rezar o Rosário, pela manhã, no decorrer do dia, à noite antes de se deitar, não deixa nunca de rezar pelo menos uma Ave-Maria, hino do universal cântico de louvor à Mãe do Céu.
* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
Local: Mariana