EDUCAR PELA PALAVRA

                A mística da educação tem como primeiro passo a alfabetização, ou seja, o discernimento da leitura, a desmistificação da palavra. “E o discernimento se pratica com outra escuta, dessa vez, da Palavra de Deus” (CF 2022- 139). Não há como fugir da revelação proclamada: “E o Verbo se fez carne!”. Aqui a educação, dia mais, dia menos, tende sempre a revelar o mistério maior da existência humana, bem presente nas palavras bíblicas. À Igreja compete propagar sua fé através da escuta, do discernimento e da ação missionária. “Eis o caminho que a Campanha da Fraternidade nos apresenta este ano” (141).

                “O Evangelho revela como Jesus atraia pessoas, grupos e a multidão sobretudo pelo seu modo de ensinar” (144). Falava com sabedoria e ensinava com amor. Essa pedagogia cristã está em falta no mercado. Ensina-se muito mais pela força dos sistemas políticos, dos movimentos ou conceitos sociais, pelo ativismo de grupos, pelas necessidades de mercado do que pelo discernimento ético, moral e religioso caracterizado na escola de Cristo. “Ele não ensina apenas com palavras. Seu ensinamento também é relacional, se dá pela proximidade e desperta o discernimento em seus interlocutores” (150). Enfim, o ministério autêntico passa pelo esvaziamento das tendências grupais, com vistas ao bem comum. Isso Jesus nos ensinou com a vida.

                O discernimento primeiro que aqui se busca parte da visão integral das carências humanas. Dentre elas o crescimento intelectual sem peias manipuladoras, que fazem a cabeça de nossos jovens e direcionam suas vidas para caminhos diversos da Verdade libertadora. A pedagogia atual poda suas raízes de construtora da dignidade humana quando tenta reduzir sua atividade à construção de “modelos ou tipos ideológicos” (174), conforme as tendências ou interesses político-sociais do momento. “Educar para o humanismo solidário implica, também, trabalhar por uma verdadeira inclusão” (177). Não se improvisa uma educação na base das tendências de setores ou grupos, nem generalizando esse processo com uma massificação cultural, “Melhor é buscar as referências seguras de uma saudável antropologia cristã” (177).

                Nesta entra a questão familiar. O exemplo vem daquele lar da Nazaré, onde um menino cresceu “em sabedoria, idade e graça diante de Deus” (Lc 2,52). “Assim, a convivência familiar se torna o lugar do maior aprendizado que toca o profundo do nosso ser” (181). A escola é um direito constitucional, que obriga instituições governamentais a assegurarem esse direito, mas “a formação moral (dos filhos) nunca a podem delegar totalmente” (182). À família compete definir os caminhos da educação de seus filhos, não ao Estado. “Assim, é necessária a garantia da coexistência de diferentes propostas educativas, entre as quais a cristã, de forma a garantir o direito das famílias de optarem por uma educação em continuidade com seus valores, pois os filhos não podem ser obrigados a frequentarem aulas que estejam em desacordo com a fé” (188). Esse é um grande ponto de desacordo curricular nos dias de hoje, ao qual se deve maiores considerações e entendimentos.

                Igreja e Estado não se mesclam em seus ideais, sabemos disso! Há muitos pontos divergentes. Nem por isso a família cristã vai fazer vistas grossas à manipulação agnóstica em curso na grade curricular das escolas modernas. Há um Pacto Educativo Global que aponta os compromissos de respeito entre as partes. “Ao mesmo tempo, servem como critérios para uma aprofundada revisão da identidade cristã da educação nas famílias e nas instituições de ensino, nomeadamente as católicas” (191), considera o Texto-base dessa CF.

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